Cursos online: um negócio de picaretas?
A indústria dos cursos online parece estar mais forte do que nunca — e, talvez, mais cheia de truques também. Aquilo que começou como uma alternativa democrática ao ensino tradicional transformou-se, com o tempo, num campo minado de promessas vazias, gurus autoproclamados e plataformas cujo único compromisso é com o próprio caixa. Enquanto alguns setores se beneficiam de conteúdos de qualidade, como tecnologia, design e idiomas, outros viraram terreno fértil para oportunistas.
Não se trata de demonizar o ensino a distância, que é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa quando bem usada. O problema está em como essa ferramenta tem sido distorcida por personagens que, se estivessem no palco, seriam vilões caricatos. Vende-se de tudo: desde “destrave sua mente em 7 dias” até “fique milionário vendendo sabão caseiro”. É o capitalismo da autoajuda misturado com a pedagogia do desespero. Pior: tudo isso embalado em uma estética sedutora, com vídeos bem produzidos, gatilhos mentais programados e depoimentos cuidadosamente roteirizados (quando não inventados).
“É preciso cultivar um olhar mais cético, mais crítico e menos seduzido pelas facilidades. Nem tudo que brilha é sabedoria.”
A fragilidade econômica e a ânsia por progresso pessoal viraram combustível para essa engrenagem. É fácil cair na armadilha. Afinal, quem não quer uma vida melhor? Os anúncios são persuasivos: “Aprenda a viver de renda”, “Descubra o segredo que os ricos escondem”, “Mude sua vida em 30 dias”. A ideia vendida é de que o sucesso é simples, bastando seguir os passos do “mentor”. E se você não conseguir, o erro é seu — você não tentou o suficiente. Eis o golpe psicológico que isenta o vendedor e culpabiliza o aluno.
Plataformas como Hotmart, Udemy, Eduzz e outras permitiram que qualquer pessoa — literalmente qualquer uma — pudesse se tornar “produtor de conteúdo”. Em tese, isso seria uma revolução democrática do saber. Na prática, virou um mercado de promessas estapafúrdias. Há bons cursos? Sim. Mas encontrá-los exige um faro investigativo que mais parece trabalho de detetive: verificar credenciais, buscar opiniões confiáveis, desconfiar de números inflados e linguagem sensacionalista.
A indústria do cursinho e o teatro das promessas
Nos bastidores, existe uma estratégia clara: primeiro, constrói-se uma autoridade artificial. Isso pode envolver vídeos em carros de luxo alugados, viagens internacionalmente exibidas, ou supostos “cases de sucesso” cujas fontes são difíceis de verificar. Em seguida, cria-se um funil de vendas: conteúdo gratuito em redes sociais, “lives” com contagem regressiva, bônus que expiram em horas e uma sensação de urgência permanente. É o velho truque do vendedor de feira, repaginado em HD.
Além disso, o conteúdo de muitos desses cursos é superficial, reciclado de materiais livres da internet, ou uma mistura de frases motivacionais com instruções vagas. Poucos entregam método, estrutura e aplicabilidade real. Para piorar, a maioria dos certificados emitidos não tem qualquer valor acadêmico ou profissional. Ainda assim, muita gente acredita que está investindo em capacitação real — e é aí que mora o perigo.
Não se trata apenas de marketing agressivo ou baixa qualidade pedagógica. Estamos diante de um fenômeno cultural que coloca o “eu empreendedor” como centro do universo, numa lógica meritocrática que ignora o contexto, a estrutura e o acaso. Tudo vira produto: a cura da ansiedade, a fórmula da produtividade, a rotina de um “homem de alta performance”. E o conhecimento vira promessa mágica, quando deveria ser processo, dúvida, construção.

É necessário dizer que o Ministério da Educação no Brasil não fiscaliza boa parte desses cursos, porque muitos são vendidos como “informativos” e não como formações. Ou seja, operam numa zona cinzenta, onde é possível lucrar sem prestar contas. Com isso, a fronteira entre educação e engodo se dissolve. Quem perde é o público, que muitas vezes paga caro por algo que pouco ou nada acrescenta.
O alerta aqui não é contra aprender. Muito pelo contrário: é uma defesa do verdadeiro ensino, com metodologia, crítica, profundidade e ética. Cursos online bons existem e são importantes. Mas é preciso cultivar um olhar mais cético, mais crítico e menos seduzido pelas facilidades. Nem tudo que brilha é sabedoria.
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