Os preços dos alimentos cairão: truco!
É sempre animador ouvir de um ministro de Estado que os preços dos alimentos vão cair. Afinal, num país em que mais da metade das famílias convive com algum grau de insegurança alimentar, qualquer alívio no custo da comida é uma boa notícia. Foi exatamente isso que prometeu o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, nesta semana: uma queda nos preços nos supermercados, puxada por fatores como a baixa global das commodities, o fim da demanda sazonal por ovos de Páscoa e a renovação dos estoques.
A declaração é otimista — talvez até demais. Segundo Fávaro, a carne bovina já caiu no atacado e vai cair ainda mais no varejo. O mesmo vale para arroz, feijão, óleo de soja e ovos. Ele argumenta que os preços vão recuar porque o Governo adotou medidas “ortodoxas”, ou seja, sem intervenções diretas, preferindo o estímulo à produção nacional e ao aumento da oferta.
Mas antes de comemorar com uma ida ao açougue, convém colocar essa expectativa sob lupa. O mercado de alimentos é volátil e complexo. Uma queda no preço internacional das commodities não se traduz, automaticamente, em menor custo para o consumidor brasileiro. E não são raros os casos em que a teoria econômica, aparentemente elegante, tropeça na prática da vida cotidiana, marcada por inércias de preço, margens de revenda, custos logísticos e, claro, um sistema tributário que pesa demais na alimentação.
É verdade que o Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo. Exportamos carne, grãos e óleos vegetais em volumes que impressionam qualquer observador externo. Mas essa abundância no campo nem sempre se converte em acessibilidade nas gôndolas. O sistema de formação de preços da cadeia alimentar envolve diversos elos — do produtor rural ao supermercado — e cada um tem seu próprio tempo de repasse. Quando o preço sobe na origem, ele chega quase instantaneamente ao consumidor. Mas quando cai, a história costuma ser diferente.
O recuo no atacado não garante alívio no varejo
A fala do ministro aposta em uma relação direta e quase mecânica entre o que acontece no atacado e o que se verá no varejo. Isso é apenas parcialmente verdadeiro. Há estoques antigos que foram comprados a preços mais altos, há contratos já firmados, e há, sobretudo, margens que dificilmente são revistas com a mesma rapidez com que o produtor sente no bolso a queda da saca de soja ou da arroba do boi. O consumidor, por sua vez, está acostumado a ver mais promessas do que entregas.
E não se pode ignorar a estrutura de custos que pesa sobre a produção agrícola no Brasil. Mesmo com a queda nas cotações internacionais, o produtor ainda enfrenta um cenário de juros altos — a Selic continua em 14,25% ao ano — e um câmbio instável. É por isso que o novo Plano Safra 2025-2026, também citado por Fávaro, já nasce com desafios imensos: garantir crédito barato, especialmente para médios produtores, com taxas abaixo de dois dígitos, mesmo quando a realidade fiscal impõe contenção de gastos. Isso exigirá mais recursos do Tesouro para bancar a equalização dos juros, algo que dependerá de vontade política e espaço no orçamento — duas variáveis que não têm mostrado grande abundância.
A tentativa de expandir as linhas de crédito atreladas ao dólar para grandes produtores, embora sensata sob o ponto de vista técnico (já que esses agentes têm receita em moeda estrangeira e estão, em teoria, protegidos contra a volatilidade cambial), é uma medida que beneficia um segmento bastante específico da cadeia produtiva. A dúvida é: quanto desse ganho de produtividade e de acesso ao crédito será, de fato, revertido em comida mais barata na mesa da população?

Além disso, há o peso estrutural dos custos logísticos — transporte, armazenagem, combustíveis, energia — que seguem altos. E sem uma melhora concreta nesses componentes, é difícil imaginar uma queda generalizada e sustentada dos preços.
Por fim, há o fator psicológico da inflação: quando o consumidor se acostuma com preços altos, e quando o varejista se vê diante de um cliente resignado, o incentivo para reduzir valores é baixo. Trata-se de um ciclo vicioso que, infelizmente, não se rompe apenas com otimismo ministerial.
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