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O amor pelo cinema de Rubens Ewald Filho

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Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos). Foi crítico de cinema do portal R7 e trabalhou nos maiores veículos de comunicação do país, entre eles, Rede TV!, Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja, Jovem Pan, Folha de S.Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde está com o programa TNT+Filme e onde comenta as entregas do Oscar. Também é o crítico de cinema da Rádio Bandeirantes e comentou os filmes exibidos no Cine Clube, da Rede Bandeirantes. O crítico também aparece em inserções na programação da rádio A Tarde FM de Salvador/BA. Atualmente exerce o cargo de Secretário da Cultura de Paulínia-SP. Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 37.500 filmes entre longas e curta-metragens, e é sempre requisitado para falar dos indicados na época de premiações. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo às duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Atualmente trabalha também no teatro. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretores, diretores de fotografia, roteiristas e outras informações.

Rubens, qual foi a maior perda sofrida pelo cinema, depois do surgimento das novas tecnologias?

Obviamente para qualquer um que tenha vivido mesmo em sua fase final, a idade de ouro de Hollywood e do cinema americano, é muito difícil aceitar que tudo àquilo que se passou antes da virada deste século atual, seja ignorado e desprezado e tido como não existente. Eu brinco dizendo que às vezes me sinto como um Indiana Jones pesquisando, falando e admirando uma época que não mais existe e não interessa a mais ninguém. E pensar que preto e branco é considerado um defeito, além de toda revolução da linguagem cinematográfica, ou seja, o progresso do que seria escrever, rodar e dirigir atores. Hoje vê-se tudo como se estivessem recomeçando, com muita mais facilidade, já que a qualidade técnica é incomparável… é mais fácil. O problema, a meu ver, é que estão enterrando a história da arte mais interessante do século passado… de histórias incríveis, de gênios notáveis, de mulheres lendárias, de grandes escritores… Alguém já viu a série de TV “Feud”, sobre a briga de Joan Crawford [nome artístico de Lucille Fay LeSueur, era uma atriz americana de cinema e televisão, que começou como dançarina, 1904 – 1977] e Bette Davis [foi uma atriz estadunidense de cinema, televisão e teatro. Conhecida por sua vontade de interpretar personagens antipáticas, ela era venerada por suas atuações numa variada gama de gêneros cinematográficos; de melodramas policiais, filmes de época e comédias, embora seus maiores sucessos tenham sido romances dramáticos, 1908 – 1989] em Baby Jane? Está no ar na FOX e é uma recriação dessa lenda… Azar de quem não viu ou não vê… Quem perde a história do cinema está sendo tolo e burro… Azar é dele repito.

Dos 38 mil filmes assistidos por você, existe aquele que te surpreende toda vez que o revê?

Sim e não… claro, todos os bons… porque afinal têm uns ruins no mesmo padrão de hoje em dia… Deixa eu contar. Eu tenho visto os filmes grandes sempre duas vezes, na sessão de luxo da imprensa e depois outra normal. E naturalmente se descobre que com o IMAX, com os óculos, com o som espetacular, qualquer filme melhora. Vi o filme “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” numa sala comum, sem qualquer efeito especial, vira outro filme… muito piorado, com a fotografia sem brilho, com a estrela apagada, mal caracterizada e inexpressiva, um fraquíssimo elenco de apoio inclusive do japonês Kitano [Takeshi Kitano, renomado ator japonês, 1947 – ], ou seja, uma decepção. Que porcaria de roteiro! Os críticos americanos perceberam e o filme foi bastante mal… enfim, a surpresa ruim é essa, só ver de novo [Risos]. Agora dos grandes filmes é outro papo… A minha história preferida sucedeu há uns três anos, quando escrevi uma crítica meio debochando de um ator ficar pelado se exibindo. Uma leitora escreveu me puxando as orelhas e concordei com ela. Fui ver o filme de novo – havia visto nos EUA meses antes – e percebi que havia esquecido de muita coisa, foi desleixo meu. Mandei apagar a velha [crítica], destruí-la, na verdade, e escrevi o elogio correto e merecido ao filme que era “Shame” com Michael Fassbender [ator teuto-irlandês, 1977]… Sabe que foi a melhor reação que tive no site em que escrevi… Todo mundo entendeu o mea-culpa, por isso eu procuro sempre manter isso… Não sei tudo, também tem dia em que passo mal e que não entendo o filme direito, por isso vejo de novo e tento me corrigir. Acho que o leitor merece sempre o melhor da gente, a nossa verdade… assim como tenho que respeitar a opinião dele, igualmente válida. Agora depois de falar demais [Risos] acho que não há nada melhor, e que dá uma sensação mais gostosa, do que rever um filme antigo de preferência e descobrir algo novo, que você tinha deixado passar ou não tinha entendido… é uma coisa linda que justifica o nosso amor pelo cinema.

Em que país se pratica a melhor crítica de cinema atualmente?

[Risos]. Sempre achei os críticos americanos muito tolos e vendidos… Não podem falar mal de certas coisas porque estão presos pelos estúdios, explicando se escreverem algo negativo sobre Julia Roberts, por exemplo, nunca mais a entrevistarão… e se forem contra certos filmes, são cortados para certas estreias, exibições e benefícios… Para você ter acesso a Hollywood é preciso se curvar a Hollywood e fazer o que eles desejam. Sempre foi assim e hoje é pior porque há menos críticos, menos jornais e quase nenhuma revista de cinema… Existe a Entertainment Weekly e um par de outras que pertencem às cinematecas ou a sindicatos de fotógrafos de cinema. Na verdade (já por definição) eles não são nada profundos [Risos] e mal informados… Não têm noção do mundo fora da América… Vão a Cannes e pronto, acham que isso já é o paraíso e a descoberta de tudo… Não me lembro de nenhum agora que esteja vivo e valha a pena se ler… Os melhores críticos eram os ingleses, quando saíram da Segunda Guerra Mundial e logo depois os franceses que eram futuros cineastas [Risos] e que criaram (Deus os abençoe) a Nouvelle Vague. Eu particularmente gosto muito deles e do que fizeram, inclusive Godard [Jean-Luc Godard, cineasta franco-suíço reconhecido por um cinema vanguardista e polêmico, que tomou como temas e assumiu como forma, de maneira ágil, original e quase sempre provocadora, os dilemas e perplexidades do século XX, 1930 – ]. Curiosamente a Itália teve o melhor cinema do mundo e os piores críticos…, ou seja, será que se pode viver muito bem sem eles?

Como Atlanta tornou-se a capital do cinema dos EUA?

É uma cidade de muitas paisagens, à terra da TNT, da Turner, onde teve uma Olimpíada bem-sucedida, onde ninguém roubou nada [Risos]. Los Angeles está falida, não ajuda a indústria… A salvação seria o Canadá onde o dólar é mais barato e tem muita tecnologia, mas é bastante longe e os atores não gostam de trabalhar num lugar frio e distante… Então resolveram investir a grana de uma produção na cidade, o que é muita coisa. Hoje tem uma série premiada chamada justamente de “Atlanta” e uma profusão de filmes… É também uma cidade de muitos negros, todos muito simpáticos, de Luther King [Martin Luther King Jr., pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes dos Estados Unidos, e no mundo, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo, 1929 – 1968] e “O Vento Levou” [Risos], ou seja, uma questão de grana… Nos EUA o investimento que o cinema traz enriquece as cidades… Igualzinho ao que acontecesse no Brasil não é?

Em várias votações, Stanley Kubrick é eleito o maior cineasta de todos os tempos. Qual filme do diretor lhe marcou como crítico e espectador e qual outro diretor lhe exerce o mesmo fascínio?

Certamente Fellini [Federico Fellini, um dos mais importantes cineastas italianos 1920 – 1993] e seu filme “Oito e Meio”, além de toda sua obra. Mais que isso, todo o cinema italiano da época dele que considero o melhor cinema do mundo. Mas não se pode desprezar Kubrick [Stanley Kubrick, cineasta, roteirista, produtor de cinema e fotógrafo americano. Considerado um dos mais importantes cineastas de todos os tempos, 1928 – 1999] “2001 – Uma Odisseia no Espaço” me fez a cabeça completamente e continua a me espantar…

Com sua experiência, você sabe quando um crítico está sendo intelectualmente desonesto em seu texto?

Se ele tiver bom texto saberá enganar [Risos]. Isso me lembra como na época que comecei em São Paulo no “Jornal da Tarde”, o valor era o elogio… sempre era: “ele tem um belo texto” [Risos] eu achava isso o máximo…, mas não quer dizer nada, porque já tivemos casos na imprensa de vigaristas de belos textos, como àquele que eu esqueço o nome, que esnobava posando de gênio e amigo dos diretores, até o dia em que a “Folha” descobriu que ele copiava matéria de uma revista francesa, no caso uma entrevista com o diretor do Festival de Cannes, que ele copiou como se fosse dele, mas foi tão tolo que mandou para São Paulo, logo para a redação da revista onde tinha justamente essa entrevista… foi assim que descobriram que ele era um malandro da pior qualidade. Isso seria desonesto e burro, sendo que durante muito tempo as pessoas o leram e o santificaram porque era bom… Tirem a conclusão vocês…

Qual a análise que faz da crítica brasileira como um todo?

Te confesso que hoje em dia não os leio mais e apoio a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Acho que eu prefiro os críticos da antiga com que mantenho a amizade até hoje… Claro que Inácio Araujo, querido amigo desde o início de minha carreira; o Ely Azeredo com quem mantenho diálogo constante; Sérgio Augusto, sempre tão inteligente; o Wilson Cunha outro amigo de confiança; o querido Luiz Carlos Merten e, porque não uma boa polêmica com o mineiro Pablo Villaça. Devo estar esquecendo de algum, mas o que eu ressinto e lamento é que o jornalismo esteja morrendo diante de nossos olhos… Que nem faculdade vale mais nada! Que os formados hoje têm que procurar outro emprego! Sei que tem meninos de talento, boa vontade e que de repente esse talento pode ser perder. Isso é terrível… Acontece em outras partes do mundo, mas na nossa terra eu acho chocante e tão triste.

Que diretor de cinema na atualidade, realiza filmes dignos dos grandes mestres do passado?

Eu tenho sido admirador do jovem franco canadense Xavier Dolan (“Mommy” é brilhante). O espanhol Almodóvar [Pedro Almodóvar Caballero, premiado cineasta, ator e argumentista espanhol 1949 – ] está numa fase ruim, mas ainda é gênio. Achei o menino do “La La Land” e principalmente do filme anterior (“Whiplash”), Damien Chazelle bem talentoso. O rapaz de “Moonlight” (Barry Jerkins) é outro promissor. Infelizmente acho que no momento, quando Godard é quem recebe o prêmio de melhor filme do ano aqui no Brasil, acho que isso já diz tudo… A nossa safra nacional, por exemplo, é bem fraca… Uma lástima isso…

Na sua visão, qual é o ator mais supervalorizado dos nossos tempos?

Super quer dizer que vocês não gostam [Risos]. São tantos os de pouco talento e que estão aí na luta sem merecer… As mulheres são melhores que os cavalheiros, aí estão elas como vencedoras do Oscar e bem-merecido…, mas homens… argh… não tem nem para supervalorizar algum [Risos].

Qual o real poder do crítico de cinema?

O que faço é tentar espalhar o amor que tive e tenho pelo cinema…, na prática, é quase nenhum… por que não vão ser colunistas ou locutores de futebol, que com certeza vão viajar mais, ganhar mais, passear e ter melhores salários… além das farras [Risos] bom, eles têm um poder real, nos praticamente nenhum… Alguém nos lê ainda? Quando vem falar comigo eu não fico de joelhos porque seria ridículo [Risos], mas é como me sinto, grato!

O cinema nacional vive um bom momento ou ele ainda deixa a desejar em algum aspecto?

Algum aspecto? Você deve estar brincando [Risos] todos os aspectos você quer dizer né… Os filmes nacionais dos últimos meses, que foram todos rejeitados [Risos] meu Deus do céu… eu infelizmente estava fora a serviço e ainda não me pus em dia…, mas tenho orgulho de que nossa equipe em Gramado fez uma bela seleção de filmes bons e legais… Mas se todo o Brasil está perdido (finge que não, mas é evidente que está) por que nosso cinema estaria diferente? Quando os filmes nordestinos são os mais produzidos pelo dinheiro do governo e menos vistos… Vocês sabiam que filme do Nordeste não passa no Sul do Brasil porque são rejeitados pelo público? Que bom que os filmes do estado fossem como os do Recife: deliciosos e criativos.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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