Lula, Janja e claro… o TikTok!
Em meio a um debate cada vez mais tenso sobre o futuro das redes sociais no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu reacender a discussão com uma iniciativa que surpreendeu aliados, irritou a oposição e preocupou especialistas. Ao pedir ao presidente da China, Xi Jinping, que enviasse um especialista para auxiliar o Brasil na elaboração de uma regulação para as redes sociais, Lula não apenas provocou uma polêmica geopolítica, mas também inseriu um elemento de desconfiança no já desgastado debate nacional sobre liberdade de expressão e controle de informação.

O gesto — ainda que simbólico — carrega implicações profundas. A China é amplamente conhecida por adotar uma abordagem autoritária em relação à internet. Plataformas como Google, Facebook, Twitter e, ironicamente, o próprio TikTok (versão ocidental do Douyin) são fortemente controladas ou banidas dentro do território chinês. Sugerir que o Brasil deveria se inspirar nesse modelo — ainda que indiretamente — soa como uma admissão de que o Governo busca mais controle do que equilíbrio.
“Lula precisa decidir: quer construir uma internet democrática ou apenas reconfigurar o algoritmo do poder?”
Segundo Lula, o pedido foi feito com o objetivo de entender como regular as redes sociais de forma “eficiente”, diante do crescimento da desinformação e do discurso de ódio. No entanto, a ausência de uma ressalva clara quanto aos métodos chineses — e à diferença entre o regime de partido único e a democracia brasileira — levantou um sinal de alerta entre juristas, parlamentares e a sociedade civil. O professor Carlos Affonso Souza, da UERJ e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), foi direto: o Brasil tem capacidade de formular sua própria legislação, sem importar modelos alheios a seu contexto político e constitucional.
O pano de fundo dessa história não é novo. Desde que tomou posse, Lula tem deixado claro que vê com desconfiança o papel das redes sociais no debate público. Não é difícil entender por quê: foi nelas que a oposição cresceu e consolidou um discurso popular, muitas vezes com forte apelo emocional, ainda que frequentemente baseado em desinformação. A esquerda, historicamente mais engajada nos canais tradicionais de comunicação, ainda parece tatear para encontrar um tom eficaz no ambiente digital.
A regulação das redes ou o controle da narrativa?
Nesse cenário, a primeira-dama Janja da Silva se apresenta como um elo entre o Palácio do Planalto e a cultura digital — com forte presença nas redes, especialmente no TikTok. Recentemente, em um momento inusitado, Lula saiu em defesa de uma fala de Janja sobre a importância da plataforma, repreendendo discretamente sua comitiva por não compreender o papel estratégico que ela e as redes desempenham na comunicação governamental.
A defesa de Janja mostra que o presidente enxerga nas redes um terreno de batalha central para sua imagem pública e para a disputa política nos próximos anos. Mas há uma contradição nessa postura: enquanto valoriza a presença digital de sua esposa como canal direto com a população, Lula parece querer restringir a liberdade do mesmo ambiente que permite esse tipo de aproximação. Isso levanta uma dúvida incômoda: o Governo quer mais participação ou mais controle?
A paralisia do Congresso e do Supremo Tribunal Federal em torno do tema da regulação digital não ajuda. Sem consenso, sem legislação e com um Judiciário cauteloso, o campo está aberto para manobras políticas que, embora bem-intencionadas em tese, podem escorregar para o autoritarismo disfarçado de regulação. A ausência de critérios técnicos e de salvaguardas explícitas no debate público intensifica esse risco.
Mesmo assim, é inegável que o Brasil precisa de algum tipo de regulação. O avanço da desinformação, os ataques coordenados e os discursos de ódio não podem mais ser tratados apenas com apelos morais ou medidas pontuais. O que está em jogo é a qualidade da democracia brasileira. Mas isso exige mais transparência, mais participação social e, sobretudo, mais autonomia.

Ao buscar inspiração em um país que controla pesadamente o ambiente digital, o presidente corre o risco de enfraquecer um debate legítimo, tornando-o refém de polarizações ideológicas. O Brasil pode — e deve — regular suas redes. Mas não pode abrir mão da liberdade em nome da estabilidade.
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