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Joias e acessórios como extensão feminina

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O universo das joias e acessórios continua sendo uma das expressões mais viscerais da feminilidade contemporânea — tanto no campo estético quanto no simbólico. Não se trata apenas de adornos ou ornamentos: colares, brincos, pulseiras, anéis e até mesmo piercings e tiaras ganham, cada vez mais, contornos de identidade, resistência, desejo e autonomia. A mulher que escolhe seus acessórios hoje, na maioria das vezes, está dialogando com o mundo — e consigo mesma — através de escolhas que vão muito além do brilho ou da sofisticação.

O mercado da moda entendeu isso rapidamente. Marcas de luxo como Cartier, Tiffany & Co., Bvlgari e Van Cleef & Arpels, há décadas associadas à elite e ao prestígio, agora convivem lado a lado com grifes mais jovens, independentes e sustentáveis, que apostam em materiais recicláveis, pedras alternativas e produções artesanais. Esse movimento, por um lado, democratiza o acesso aos acessórios enquanto canal de expressão, mas também reforça um paradoxo: ainda que mais acessível, o valor simbólico do adorno permanece carregado de camadas sociais e culturais profundas. Não basta “usar uma joia”. O que ela diz? Para quem? E com que propósito?

“Um colar punk em um look elegante pode ser uma interrupção calculada da previsibilidade estética. Um piercing no nariz, mesmo com terno executivo, rompe o que antes era visto como incompatível.”

Em muitos casos, a função da joia — e de seus satélites contemporâneos — ultrapassa o mero enfeite para se tornar escudo, manifesto ou armadura. Um brinco exagerado pode ser tanto um gesto estético quanto uma resposta política. Um anel volumoso, com pedra negra, pode não ter nenhum valor monetário, mas ser uma herança familiar carregada de significados. A estética, aqui, é a superfície de um enredo mais denso, que se enraíza no corpo feminino como narrativa e afirmação.

Nas últimas décadas, o corpo feminino foi amplamente colonizado pela indústria da imagem, seja através da moda, da publicidade ou das redes sociais. Nesse contexto, os acessórios funcionam como dispositivos de apropriação subjetiva desse corpo que, muitas vezes, nos é sequestrado. Ao escolher uma corrente, um brinco ou uma tornozeleira, a mulher contemporânea pode, ao menos em parte, reapropriar-se de sua imagem, tornando-a ferramenta de diálogo com o mundo. É uma forma silenciosa, mas contundente, de dizer: “sou eu quem decido como quero ser vista”.

O corpo como vitrine, o acessório como linguagem

Esse fenômeno é reforçado por influenciadoras digitais, artistas e celebridades que usam os acessórios como assinatura visual. Pense em Rihanna, cuja estética maximalista é marcada por joias ousadas e sobreposições calculadas. Ou na brasileira Anitta, que mescla peças de alta joalheria com elementos populares em seus clipes e aparições públicas. Não se trata de luxo gratuito, mas de um código estético com forte apelo simbólico. As joias contam histórias — de origem, de transformação, de enfrentamento — mesmo quando parecem apenas brilhar.

O risco, claro, é o da superficialidade. À medida que a indústria percebe a força desse discurso estético, aumenta a tentação de esvaziá-lo em nome do consumo. Há uma mercantilização acelerada da simbologia dos acessórios: marcas prometem “empoderamento em forma de pingente” ou “liberdade no formato de bracelete”, como se a emancipação feminina pudesse ser adquirida em 12 parcelas. Essa retórica comercial precisa ser vista com cautela, pois, reduz a potência do gesto simbólico à condição de produto.

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Além disso, é importante não romantizar a relação entre mulheres e adornos como se fosse algo instintivo ou biologicamente determinado. A associação entre feminilidade e ornamento é profundamente histórica e cultural, e muitas vezes imposta. Em diversas sociedades, adornar-se foi — e ainda é — uma obrigação feminina, um requisito para a aceitação social ou até para garantir sobrevivência econômica. A linha entre escolha e imposição, nesse campo, é tênue.

O colar de R$ 11,2 mil usado pela cantora Anitta em um de seus clipes (Foto: Arquivo)
O colar de R$ 11,2 mil usado pela cantora Anitta em um de seus clipes (Foto: Arquivo)

Hoje, contudo, há mais espaço para subversão. Mulheres usam acessórios não apenas para agradar ou seduzir, mas para se posicionar, provocar ou desconstruir padrões. Um colar punk em um look elegante pode ser uma interrupção calculada da previsibilidade estética. Um piercing no nariz, mesmo com terno executivo, rompe o que antes era visto como incompatível. São essas quebras — às vezes sutis — que revelam o poder transformador das joias como linguagem corporal.

O futuro dos acessórios femininos, portanto, não deve ser medido apenas em quilates ou tendências, mas em profundidade simbólica. A verdadeira sofisticação talvez esteja em peças que carregam histórias, memórias, escolhas e até contradições. E enquanto houver mulheres dispostas a usar o corpo como manifesto e a beleza como narrativa, as joias continuarão sendo, mais do que adornos, extensões legítimas de suas vozes.


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