Shavo Odadjian, Pedra de Roseta, Patriots…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Trump desafia os deuses americanos: café, suco de laranja e hambúrguer ameaçados por tarifas que podem doer mais que ataque à Casa Branca
Depois de ameaçar o planeta com sua diplomacia de ogro com diploma, Donald Trump agora resolveu bater em três pilares sagrados da civilização norte-americana: café, suco de laranja e hambúrguer. O primeiro é o combustível que move as almas sem poesia dos executivos de Wall Street. O segundo, um néctar matinal que justifica a existência dos motéis de beira de estrada. O terceiro, bem, o hambúrguer é quase uma religião: 2,4 unidades por cidadão, por dia. Pois bem, o Brasil fornece um terço do café, metade do suco de laranja e boa parte da carne moída que vira disco de gordura em pão com gergelim. Com o tarifaço, Trump morde a mão que alimenta sua nação entupida de colesterol. Os americanos vão aguentar? Vão se submeter ao chá das cinco, ao pão de forma integral e ao tofu orgânico? Duvida-se. Caso o café suba de preço, preparem-se para um levante: o ataque ao Capitólio parecerá matinê escolar perto do que pode vir. E o Brasil? Sorri debochado, debruçado sobre o coador. Se Trump quiser guerra, que se prepare para um embargo: sem café, sem suco e sem picanha.
System of a Down: entre comunistas imaginários, fãs confusos e uma banda que virou consultório político de Twitter
Enquanto o vocalista Serj Tankian canta contra a opressão com a raiva de um camponês armênio em fúria, seus colegas de banda têm outras vibes. O baixista Shavo Odadjian, por exemplo, não quer saber de esquerda, direita ou centro: quer apenas ser ele mesmo, um diplomata do rock que acha que o problema do mundo é “muita gritaria”. Já o baterista John Dolmayan resolveu ir além: declarou apoio a Trump, chamou o Black Lives Matter de exagerado e acha que racismo estrutural é papo de marxista com doutorado em ressentimento. A esquerda idealista? Para ele, é como um unicórnio: bonito, mas inútil. Os fãs, perplexos, tentam entender como uma banda que sempre pareceu um panfleto socialista virou esse simpático circo ideológico. A verdade é que o System of a Down virou um “sistema de contradições”. Uma aula sobre como até o rock rebelde pode se transformar num debate do Roda Viva, com direito a comunistas imaginários, patriotas fora de hora e progressistas cansados demais para protestar.

Pedra de Roseta: descoberta arqueológica que provou que ninguém entende nada até que alguém traduza com jeitinho e paciência
Em 15 de julho de 1799, no meio da farofada imperialista de Napoleão no Egito, um soldado tropeçou no que parecia uma laje qualquer e deu início ao que podemos chamar de “primeiro Google Translate da história da humanidade”: a Pedra de Roseta. O artefato — um manual trilingue em hieróglifos, demótico e grego — permitiu que, dois milênios depois, finalmente alguém entendesse o que os egípcios estavam tentando dizer. Spoiler: não era nada místico, só notas fiscais e coisas de governo. Mas a descoberta foi revolucionária. E também irônica: os franceses acharam, os britânicos roubaram, os egípcios ficaram olhando. A Roseta virou símbolo universal da importância da tradução, inclusive entre casais que brigam por subtextos ou políticos que falam “em off” e depois negam em público. A verdade é que, desde então, o mundo só piorou na arte de se comunicar. A diferença é que agora temos emojis. E ninguém para decifrá-los.
Inflação recua um centésimo e mercado comemora como se o país tivesse descoberto petróleo no quintal da Faria Lima
A gloriosa gangorra dos boletins econômicos ganhou mais um capítulo de euforia contida e miséria elegante: a inflação recuou de 5,18% para 5,17%. Um centésimo! Um milagre! Uma vírgula que faz mais barulho que panelaço em época de delação premiada. O Boletim Focus — essa espécie de horóscopo financeiro semanal — também prevê que o PIB vai crescer uns 2,23% (em 2025, não hoje, calma). Para 2026, mais um suspiro de otimismo: 1,89%. É quase como dizer que o Brasil está indo bem porque não morreu de febre. Com o sistema de metas contínuas em vigor e um Banco Central que parece gostar mais da matemática do que de gente, cada redução simbólica é tratada como se o apocalipse tivesse sido adiado. A vida real? Sabe o arroz? Continua caro. A gasolina? Sonha com a França. Mas, no mundo encantado dos gráficos, tudo está no rumo certo. Desde que você não olhe pela janela.
Trump promete Patriots à Ucrânia enquanto vende guerra com cupom de desconto e sotaque de caubói arrependido
O homem que certa vez disse que preferia soldados que “não foram capturados” agora promete mísseis com selo de garantia Made in America. Donald Trump resolveu doar sistemas Patriot à Ucrânia – desde que alguém, no caso a União Europeia, pague a conta. Num gesto típico de vendedor de feira, anunciou que os EUA “mandarão tudo que for preciso”, mas “100% pago, tá bom?”. Segundo ele, Putin “fala bonito e bombardeia à noite”, o que parece mais um relato amoroso do que análise geopolítica. Trump deve se encontrar com o novo chefe da OTAN, Mark Rutte, numa conversa que promete ser tão produtiva quanto um stand-up em zona de guerra. Enquanto isso, Zelensky segue pedindo ajuda como quem pede Uber na tempestade. O saldo: a paz continua um conceito abstrato, a guerra virou mercadoria com código de barras, e a diplomacia virou show de variedades. Com Trump, todo míssil é um reality show. E toda tragédia, um tweet.
Tarcísio propõe devolver passaporte a Bolsonaro para negociar com Trump, mas STF chama ideia de “maluquice” e prefere o silêncio constrangido
O tarifaço trumpista bateu na porta do Brasil como visita bêbada em churrasco. E quem tentou resolver a confusão com jeitinho, diplomacia e talvez uma pitada de submissão, foi o governador Tarcísio de Freitas. Vendo que empresários estavam surtando e bolsonaristas queriam sangue, ele decidiu propor uma saída criativa: devolver o passaporte de Bolsonaro, retido por suspeita de golpe, para que ele pudesse… viajar aos EUA e conversar com Trump. Sim, você leu certo. A estratégia foi recebida no STF com um silêncio tão constrangedor que poderia derreter geladeiras. Um ministro a classificou como “maluquice”, o que, no vocabulário jurídico, quer dizer: “isso é uma novela da Record”. Flávio Bolsonaro já havia ventilado a ideia, o que a tornou ainda mais inaceitável. Moral da história: a direita brasileira não sabe se dança conforme a música americana ou se morde a língua. Por enquanto, Tarcísio ficou com a segunda opção. E Bolsonaro, com a tornozeleira moral.

Última atualização da matéria foi há 5 meses
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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