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Paulo Kulikovsky analisa o polêmico caso GameStop

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O chamado caso GameStop foi uma liquidação forçada de posições curtas (em inglês, “short squeeze”, literalmente “aperto curto”) da GameStop, um varejista de videogames, e de vários outros títulos negociados em várias bolsas de valores, ocorrida em janeiro deste ano. O short squeeze aumentou o preço das ações da revendedora em quase 190 vezes a partir de sua baixa recorde, atingindo uma alta de quase US$500 por ação em 28 de janeiro, causando grandes perdas para os vendedores a descoberto. Aproximadamente 140% das ações da GameStop foram vendidas a descoberto e a corrida para comprar ações para cobrir essas posições apenas elevou o preço. A liquidação forçada foi principalmente desencadeada por usuários (“redditors”) do fórum r/wallstreetbets no Reddit, principalmente através de aplicativos de negociação sem comissão, como o Robinhood. No mesmo dia, Robinhood suspendeu a compra da GameStop e outros títulos, atraindo críticas e acusações de manipulação de mercado de vários políticos e empresários. “O fato dos short squeezes serem pontuais, temporários e de curta duração já indica que provavelmente vão acontecer mais movimentos assim, mas não se pode negar que o efeito GameStop acendeu um sinal amarelo para os órgãos reguladores”, afirma Paulo Kulikovsky, diretor-geral Latam da Stake, plataforma que conecta pessoas de fora dos EUA ao mercado de ações americano.

Paulo, você acredita que o “efeito GameStop” veio para ficar?

Vale reforçar primeiramente que short squeeze não é uma prática nova. Um dos mais antigos que se tem notícia aconteceu em 1869 e foi promovido por duas pessoas: Jim Fisk e Jay Gould. Eram especuladores que manipularam o mercado de ouro naquele ano, primeiro subornando agentes do governo para controlarem a oferta do metal, depois os mercados abriram com o ouro em alta e o governo voltou a vender o metal. A dupla, que sabia o que iria acontecer, vendeu o próprio ouro logo pela manhã, lucrando e ficando de fora da confusão que prejudicou muitos investidores. Hoje os tempos são outros, apenas em um cenário de tanta integração em redes sociais, foi possível reunir quase 5 milhões de pequenos investidores e esse foi o motivo de tamanho impacto. O fato dos short squeezes para os órgãos reguladores. Então, podem ocorrer mais alguns movimentos nesse sentido, mas com os órgãos em alerta vai ser mais difícil serem tão notórios como o que vimos no começo deste ano.

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Quais os riscos do pequeno investidor em ondas como essa?

O principal risco para o pequeno investidor é entrar em ondas como essa atraídos pelas notícias do mercado e pelos ânimos inflados de outros pequenos investidores sem dominar muito bem esse tipo de movimento. Muitas vezes eles entram na esperança de ganhar muito dinheiro em pouco tempo, mas, sem dominarem o assunto, não conseguem avaliar as previsões de comportamento do mercado. Nesse caso as perdas podem ser enormes.

Existiram outros acontecimentos de pessoas que investiram em empresas com modelos de negócios decadentes?

Um pouco diferente do que aconteceu com a GameStop e a AMC, tivemos em 2020 grandes movimentações nas ações da Kodak e Hertz, ambas em situação falimentar que, por conta de boatos tiveram enorme variação de preço e um aumento significativo na procura. Muitas vezes estas movimentações vêm através de rumores, gerando movimentos altamente especulativos.

Alguns veículos foram enfáticos dizendo que esse jogo especulativo precisa parar. Como enxerga essa questão?

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Precisamos diferenciar aqui especulação de assunção de risco. Casos como o da GameStop, em que a especulação levou a variações de mais de 2.000% em poucos dias, gera um risco enorme para investidores e para o mercado. O mercado de ações, contudo, vive dos investidores assumirem riscos e da expectativa de valores futuros, projeções de resultados e visão sobre o que virá pela frente. O problema não é a especulação sobre o futuro, mas sim o nível de especulação e manipulação que um investidor, ou grupo, pode exercer sobre o mercado.

Por que muitas pessoas se sentiram extremamente incomodadas quando isso ocorreu em sua visão?

O fato deste movimento ter sido iniciado por indivíduos em um fórum de rede social, ao invés de vir das opiniões de grandes investidores, incomodou muita gente. O mercado está acostumado a olhar grandes investidores e suas grandes apostas, adorá-los ou odiá-los, mas neste caso, os investidores pequenos ativamente participaram e mexeram na dinâmica existente. Fica também difícil apontar culpados, e caso necessário, controlar de alguma forma. A dinâmica mudou, o que acaba por incomodar muita gente.

Esse movimento foi apregoado como ilícito. Até que ponto um investidor de pequeno porte pode manipular ações de uma empresa?

A prática do short squeeze pode ser considerada ilegal pelos orgão regulamentadores. Tanto a CVM, no Brasil, quanto a SEC, nos Estados Unidos, condenam a prática, pois, consideram como manipulação de mercado. No entanto, por utilizar as “regras” dos próprios mercados e por ser, principalmente nos dias de hoje, praticamente impossível localizar um único responsável pelo movimento, os praticantes não costumam ser punidos. Ainda assim, os órgãos regulamentadores investigam caso a caso atentamente.

Podemos dizer que as comunidades engajadas estão à frente da nova economia?

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Não se pode negar que comunidades engajadas têm poder de mobilização, mas isso em todos os campos. Isso não significa que elas estejam à frente da nova economia. O que vimos com o caso GameStop foi um movimento especulativo acerca de empresas consideradas obsoletas. É importante lembrar que a economia não é movida por isso.

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Aqui no Brasil tivemos o caso da IRB. Existem semelhanças desse caso com o efeito GameStop?

Podemos dizer que existem algumas semelhanças, sim, especialmente na estratégia desenvolvida: grupos em mídias sociais se unirem para, artificialmente, aumentar o preço das ações. Por outro lado, não existiam tantas posições vendidas em IRB como no caso da GameStop ou AMC. A IRB tinha menos de 10% das ações alugadas, então o impacto não seria tão grande como ocorreu lá fora. A quantidade de investidores reunidos no Telegram também era muito menor que a comunidade reunida no Reddit. Além disso, a CVM se pronunciou rapidamente para impedir que algo similar se repetisse aqui no Brasil. Existe muita discussão sobre a correta valorização das ações do IRB, sendo que elas têm sofrido muita pressão nos últimos 12 meses (após atingir sua máxima no final de 2019, a ação caiu quase 80% em março de 2020, no início da pandemia, e não recuperou o preço desde então).

Casos assim são difíceis de “podar” no começo do efeito cascata?

Casos assim são importantes para que se olhe para o mercado e entenda o potencial de mobilização que é possível alcançar. Qualquer movimentação deve ser observada, estudada e entendida para que seja possível antecipar alguns movimentos e tomar medidas cabíveis sempre que necessário. A postura do regulador, mais ou menos intervencionista, é chave nestes momentos.

Fale um pouco sobre a operação da Stake no mercado financeiro.

A Stake é uma plataforma que conecta investidores de fora dos Estados Unidos ao mercado de ações americano. Sabemos hoje que o maior e mais dinâmico mercado de ações do mundo, casa das empresas mais desejadas em termos de investimentos, é uma fonte muito rica de oportunidades. Sabemos também que, cada vez mais, as pessoas estão buscando novas formas de investir, formas de diversificar os investimentos e estão pensando conscientemente sobre o assunto. Nossa operação é basicamente conectar todos os pontos necessários para que as pessoas acessem o mercado americano através de uma única plataforma. Para investir nos EUA é necessário, por exemplo, ter uma conta em uma corretora americana, fazer uma operação de câmbio, preencher formulários… a Stake resolve tudo isso, conecta tudo para que as pessoas que queiram investir tenham o menor trabalho e a menor preocupação possível. Através de um aplicativo, a pessoa abre uma conta conosco em menos de 5 minutos e nós cuidamos do resto.

Então, toda a operação, que é super complexa, não aparece para as pessoas. Elas fazem um Pix ou uma TED de um banco local e o dinheiro já cai em dólar na conta Stake delas. Com o dinheiro na conta, elas podem comprar e vender ações diretamente, sem interferências, seguindo suas próprias estratégias. E vale lembrar que todos os ativos ficam registrados no nome do titular da conta.

A Stake torna o processo de investir na bolsa americana mais fácil. Como é feita essa entrega de facilidade com acessibilidade?

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A grande vantagem da Stake é ter tudo o que é necessário para investir na bolsa americana concentrado em um único aplicativo. Comprar ações listadas no mercado americano sempre foi uma tarefa complexa, possível apenas para quem tivesse muito dinheiro. Falando da facilidade, a Stake veio para conectar os vários pontos necessários para simplificar a compra de ativos lá fora. Então, sem dúvida, a facilidade vem daí, da integração de todos esses pontos.

Quanto à acessibilidade, toda essa operação simplificada permite que pessoas físicas invistam qualquer quantidade de dinheiro. Então, seja para grandes ou pequenos investidores, ter mais de 4 mil ativos listados em Wall Street na palma da mão e poder direcionar os investimentos ao que as pessoas realmente acreditam é um ganho significante e antes inimaginável.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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