Alcolumbre age como um menino mimado
Davi Alcolumbre, experiente no jogo político e acostumado a operar no subterrâneo do poder, resolveu fazer birra. E não é qualquer birra: é daquelas com direito a telefone fora do gancho, silêncio constrangedor e retaliação explícita. Tudo isso porque Luiz Inácio Lula da Silva teve a ousadia — vejam só — de não seguir a cartilha informal do senador e escolheu Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal. Para Alcolumbre, acostumado a ditar o ritmo, a coreografia e até a música, essa autonomia presidencial parece ter soado como um desaforo pessoal. Daí o espetáculo.
Primeiro ato: Messias liga no dia do anúncio da indicação. Alcolumbre não atende. Talvez estivesse ocupado demais, talvez não quisesse atender mesmo, talvez fosse só orgulho ferido. O fato é que o presidente do Senado, figura essencial para a sabatina, aparentemente decidiu brincar de estátua: não fala, não atende, não retorna. Enquanto isso, o indicado faz o que pode — conversa, articula, distribui suavidade institucional em notas públicas e reitera a “amizade” com quem claramente não lhe quer dar nem bom-dia.
“Lula, por sua vez, parece ter apostado em Jorge Messias tanto por confiança quanto por cálculo. O presidente sabe que o STF é um espaço de poder decisivo, e cada nome ali posicionado molda o tabuleiro político por décadas. Mas também sabe que ceder a pressões explícitas demais abre precedentes perigosos.”
Segundo ato: duas horas após o anúncio de Lula, Alcolumbre saca da cartola uma pauta-bomba bilionária. O timing dispensa explicações. É o equivalente parlamentar de bater porta, derrubar almofada e gritar “vocês vão ver só”. A política brasileira, sempre prolífica em melodramas, ganhou ali mais um capítulo digno de novela das nove — dessas em que o vilão perde a compostura porque não foi convidado para o baile.

Terceiro ato: finalmente, a sabatina é marcada. Dia 10 de dezembro. Um prazo curtíssimo para que Messias percorra os 81 senadores — praticamente uma maratona de “beija-mão”, como se diz no jargão de Brasília. Uma agenda que nem atleta olímpico daria conta com tranquilidade. Sabotagem velada? Pressão subliminar? Apenas zelo institucional? Cada leitor escolhe o rótulo — mas a narrativa fala por si.
O cenário ainda piora quando se olha para a Comissão de Constituição e Justiça: o levantamento inicial aponta mais votos contrários do que favoráveis ao indicado. Não há clima confortável, nem terreno plano. E como se não bastasse, Alcolumbre anuncia a interlocutores que será, daqui para frente, “um novo Davi” para o Planalto. Um aviso que beira a ameaça política infantilizada: se não me derem o que quero, não brinco mais com vocês.
O teatro do poder e suas pequenas vinganças
É evidente que a política brasileira nunca foi território de cordialidades ingênuas. Mas existe uma linha tênue — e necessária — entre a negociação dura e o comportamento de recreio escolar. Alcolumbre, ao ignorar telefonemas, boicotar agendas públicas e demonstrar irritação por não ter seu nome atendido na escolha do ministro, escorrega para o segundo campo. Fica parecendo que o debate institucional sobre o STF virou, nas suas mãos, mero instrumento de vingança.
Enquanto isso, Jorge Messias segue enfrentando uma corrida contra o relógio. O ex-AGU, figura de perfil técnico e postura diplomática, está empenhado em cumprir o ritual de peregrinação pelo Senado, como todo indicado ao STF faz. A diferença é que, agora, o ritual ganhou obstáculos extras — colocados, ao que tudo indica, por quem deveria garantir o funcionamento fluido da Casa.
Há quem veja no comportamento de Alcolumbre a reafirmação de poder: mostrar que nenhum presidente, por mais experiente, passa por cima de sua influência. Outros interpretam como birra política — uma tentativa de pressionar Lula a aceitar suas indicações, suas prioridades e sua leitura particular sobre o equilíbrio institucional. Seja qual for a motivação exata, o resultado é o mesmo: instabilidade desnecessária.
Também chama atenção o fato de que nenhum indicado ao STF foi rejeitado pelo Senado desde a redemocratização. A sabatina, apesar dos discursos inflamados, acaba funcionando como um rito coreografado. Não rejeitar indicações é uma tradição não escrita, uma espécie de pacto tácito em nome da normalidade institucional. A pergunta é: será que Alcolumbre está disposto a arriscar esse equilíbrio por orgulho?
Lula, por sua vez, parece ter apostado em Jorge Messias tanto por confiança quanto por cálculo. O presidente sabe que o STF é um espaço de poder decisivo, e cada nome ali posicionado molda o tabuleiro político por décadas. Mas também sabe que ceder a pressões explícitas demais abre precedentes perigosos. Ao escolher Messias, enfrentou o desconforto imediato — e, agora, precisa gerir a repercussão.
No final das contas, o episódio expõe um traço clássico da política nacional: a dificuldade de compreender que o Estado não é extensão do ego — de ninguém. A sabatina deveria discutir competência, visão jurídica, compromisso com a Constituição. Em vez disso, virou palco de caprichos pessoais, manobras silenciosas e sinais cifrados.

Se Alcolumbre quer ser “um novo Davi”, que seja: mas que seja o Davi que enfrentou gigantes, não o que bate o pé quando não tem seu desejo atendido. E que o Senado, instituição maior do que suas vaidades individuais, saiba distinguir entre política — que é dura, tensa, necessária — e pirraça, que só atrasa o país e empobrece o debate.
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