Michael Rockefeller foi devorado por canibais
O sobrenome Rockefeller sempre foi sinônimo de riqueza. Essa família de origem alemã, representava uma dinastia vitoriosa no sistema capitalista mundial, com raízes profundas em Nova York. Nelson era governador, David um magnata empresarial, e até uma de suas mansões foi doada para criar o prestigiado Museu de Arte Moderna (MoMA).
Contudo, toda linhagem de milionários possui um membro rebelde, alguém ansioso por escapar do DNA dos acumuladores de fortuna. Neste caso, foi Michael Rockefeller, filho de Nelson, cujo destino trágico se desenrolou em uma ilha remota próxima à Austrália. Mike, como era conhecido, diferenciava-se de sua família ao não buscar poder e dinheiro. Um fotógrafo aventureiro, ele ansiava por explorar culturas indígenas na América, África e Oceania. Em 1961, sua jornada o levou à Asmat, uma região esquecida na Nova Guiné, onde ele se distanciou ao máximo dos confortos associados aos Rockefeller.
A paisagem exótica da Asmat era um choque para Mike, acostumado aos luxos das melhores instituições acadêmicas dos Estados Unidos. Os indígenas viviam da pesca de frutos do mar crus, compartilhando o ambiente com porcos selvagens e cuscus parecidos com gambás. Na selva, o perigo espreitava na forma de iguanas negras e crocodilos de cinco metros de comprimento, alertando-o para as ameaças das piranhas.
Em 1961, aos 23 anos, Mike embarcou na aventura de sua vida, afastando-se do conforto proporcionado pela fortuna familiar. Na remota Asmat, ele se deparou com uma cidade desconhecida para o mundo que ele conhecia, carente de estradas e com uma pista de pouso precária, devido às inundações sazonais. Sem comunicação via rádio em sua barcaça, Mike estava isolado em uma terra esquecida.
A tragédia se abateu sobre Mike quando sua barcaça virou nas águas escuras da Nova Guiné. Agarrado ao casco invertido, ele nadou até a costa, evitando os perigos dos crocodilos e piranhas. A família Rockefeller mobilizou todos os recursos para encontrar o filho desaparecido, mas, apesar dos esforços, nenhum vestígio foi encontrado. A causa oficial foi o afogamento, mas o corpo nunca foi recuperado, sendo engolido pelo rio Asmat.
O desaparecimento de Mike, em 1961, tinha todos os elementos para se tornar um mito nos Estados Unidos. Suas aventuras inspiraram romances, músicas e documentários nos anos 80, com a banda Guadalcanal Diary incorporando a história em uma de suas canções. No entanto, os rumores sobre o destino de Michael Rockefeller começaram a se espalhar.
O interesse de Mike por culturas indígenas distantes do mundo capitalista pode ter sido despertado pela exposição de arte primitiva que ele testemunhou em 1957. Na casa dos Rockefeller, próximo ao MoMA, o jovem ficou impressionado com peças esculpidas de locais exóticos, desencadeando sua curiosidade por destinos desconhecidos.
Diferentemente das expectativas de seu pai, Nelson, que esperava que Mike se juntasse aos negócios familiares, o jovem optou por um caminho alternativo após completar seus estudos em Harvard. Sua jornada o levou a Asmat, onde ele se deparou com uma cultura desconhecida, envolta em práticas sexuais, rituais bizarros de casamento e até mesmo canibalismo.
Ao alugar um catamarã para trocar objetos por obras de arte primitiva, Mike visitou tribos locais, aumentando a coleção Rockefeller em Nova York. Desconhecendo seu destino fatídico, ele realizou trocas com os Asmats, oferecendo objetos como machados, anzóis e tecidos em troca de tambores, tigelas e escudos esculpidos.
O destino trágico de Mike foi revelado anos depois por Carl Hoffman, jornalista da National Geographic, em seu livro. Dois padres holandeses que trabalhavam com os indígenas forneceram depoimentos indicando que Mike foi morto pelos Asmats como vingança pelo massacre realizado pelo governo holandês contra uma das tribos locais. Reconhecendo-o como um “tuan” (homem branco), os indígenas o mataram, cortaram sua cabeça, consumiram sua carne e utilizaram seus ossos para criar armas e instrumentos.
A história de Michael Rockefeller é um lembrete sombrio de como um destino pode mudar em um instante, mesmo para aqueles com sobrenomes que evocam riqueza e poder. Sua busca por aventura e exploração cultural, longe dos trilhos estabelecidos pela família Rockefeller, resultou em uma tragédia que ecoa nas narrativas sobre o choque cultural e as consequências imprevisíveis das interações entre mundos tão distintos.
Última atualização da matéria foi há 9 meses
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