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Hélio Doyle analisa a política e a imprensa

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Hélio Marcos Prates Doyle nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1950. Formou-se em Jornalismo em 1972 pela Universidade de Brasília (UnB/DF), onde também concluiu o mestrado em Comunicação, em 1992, e cursou o doutorado em História das Relações Internacionais. Foi professor da Faculdade de Comunicação desde 1985, aposentando-se em maio de 2013. Na área de assessorias e consultorias de comunicação, realizou trabalhos para a Sociedade de Defesa do Direito Autoral, em 1970, para a Associação Nacional dos Técnicos de Tributação, em 1974, para o então Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em 1978, para o Sindicato dos Médicos de Brasília, em 1979, para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, em 1984, para a Assessoria de Comunicação Social da UnB, entre 1985 e 1986, para a Delegação das Comunidades Europeias, em 1987, para o Jornal de Brasília, em 1987, para a Frente Brasil Popular, em 1989, e para o Consórcio de Marketing Político Integrado, em 1990. Atuou como correspondente-stringer da Deutsche Presse-Agentur, entre 1984 e 1985. Entre 1991 e 1999, foi sócio majoritário da Interação – Consultoria e Produção em Comunicação. O nome dele foi anunciado pelo governador eleito do DF Rodrigo Rollemberg na lista de secretários de seu governo. Deixou o cargo de secretário-chefe da Casa Civil do Governo do Distrito Federal em junho de 2015.

Política e imprensa estão mais para água e óleo ou sal e água no Brasil atual?

Sal e água, e água e óleo. A política e a imprensa se completam, uma não existe sem a outra, especialmente se considerarmos a política em sua dimensão mais ampla. Mas é natural que haja conflitos e que muitos políticos não entendam o papel da imprensa ou não aceitem as críticas. É importante que, na interdependência que as une, política e imprensa mantenham seus espaços próprios, sem se misturar. Imprensa é imprensa, política é política…

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O senhor acredita que alguns veículos estão fazendo o papel de verdadeiros partidos políticos?

Sem dúvida muitos veículos deixaram de lado os critérios da objetividade e da imparcialidade na apresentação dos fatos para fazer política e proselitismo político, em alguns casos política partidária. Não falo dos espaços de opinião, que devem ser respeitados. Falo dos espaços do noticiário e do debate, que deveriam seguir outra lógica. Veja os convidados da GloboNews, por exemplo: sempre do mesmo lado. Se o veículo tem posição política ou partidária deve deixar isso claro a seus leitores e espectadores, e não fingir imparcialidade. Não gosto de ver veículos presumivelmente isentos dando manchetes e textos editorializados em seus espaços noticiosos. Há outro aspecto, que não é novo na História de nosso país: a imprensa sendo fundamental para a vitória de uma corrente política. Tem sido assim, pelo menos, desde a Proclamação da República, passando por eleições, golpes militares e impedimentos de presidentes pelo Congresso.

As redes sociais trouxeram um novo jeito de fazer jornalismo ou simplesmente reverberam aquilo que já está pautado pelos grandes órgãos da imprensa nacional?

As redes sociais têm um dinamismo e uma interação com o público que os grandes órgãos não têm, mas o que trouxeram para o jornalismo não foi bom: notícias mal apuradas e não devidamente checadas, declarações e descrições superficiais no lugar da apuração e da investigação, textos mal escritos e cheios de erros, falta de contextualização e análise. Além de títulos sem criatividade, burocráticos, preguiçosos. A vantagem das redes sociais é dar a notícia com rapidez e permitir que a audiência interaja, mas o jornalismo tem de ser muito mais do que isso.

O velho jeito fazer política se sofisticou ou teve alguma perda com o avanço da internet e dos seus microblogs como o Twitter?

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O velho jeito de fazer política está sendo mais questionado pelas pessoas, que estão mais atentas e críticas, e a internet tem um papel nisso. Os fatos e atitudes que caracterizam a velha política, como a corrupção, o clientelismo e o loteamento da administração pública, são denunciados com mais intensidade e rapidez pelas redes, ganhando grande e imediata repercussão.

Como analisa a Operação Lava Jato?

A corrupção tem de ser investigada, os suspeitos têm de ser processados e os culpados têm de ser condenados. Não interessa quem são, a que partido pertençam, se são ricos ou pobres. A Lava Jato, como as demais operações policiais e do Ministério Público, são positivas e necessárias, desde que realizadas de acordo com o disposto na Constituição e nas leis e respeitando os Direitos Humanos. Aí começam os problemas da Lava Jato, que merece críticas: a espetacularização e os excessos das autoridades, especialmente nas conduções coercitivas, por um lado, e a clara parcialidade política do juiz Moro e dos procuradores, que parecem obcecados em ter provas para condenar Lula ou condená-lo mesmo sem as provas. Não estou dizendo que Lula e outros são inocentes, mas essa parcialidade visível prejudica a credibilidade da operação e leva a questionamentos que colocam em risco o combate à corrupção.

Quais os erros e os acertos da mídia na cobertura desta Operação?

Os maiores erros não são novos, apenas ganharam dimensão maior: confiar totalmente no que dizem as autoridades e reproduzir as declarações e falas em off como se fossem verdades absolutas, sem apurar e investigar, às vezes sem sequer questionar; divulgar imagens e áudios de gravações feitas judicialmente e delações como se já fossem condenações definitivas. Outro erro, menor, é endeusar juízes, procuradores e até o japonês da Federal como celebridades, acima do bem e do mal – o que não são. A imprensa séria não deveria fazer oba-oba. Mas, no meu balanço, os aspectos positivos pesam mais e a imprensa tem um grande papel no combate à corrupção no país. Um papel até pedagógico.

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Torna-se mais complexo em lidar com os fatos noticiados na imprensa, quando se está envolvido em um cargo público?

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O cargo público lhe dá responsabilidades maiores e daí os fatos noticiados na imprensa ganham uma repercussão maior. O problema é que a maioria dos que ocupam cargos públicos não entende ou não quer entender o papel da imprensa em uma sociedade democrática e a dinâmica do jornalismo, sem falar que sequer sabem como um jornal, um portal, um telejornal ou um programa de rádio são preparados e produzidos. Rejeitam as críticas e veem fantasmas onde geralmente eles não estão.

Depois que o senhor participou da política, sua visão a posteriori como jornalista mudou em algum ponto?

Sim, porque vi os fatos a partir de outra perspectiva, do outro lado do balcão, como se diz. Considero um privilégio ter sido repórter, editor e colunista, por um lado; assessor de imprensa e consultor de comunicação, por outro; e também fonte, como estudioso de alguns temas, dirigente sindical e partidário, coordenador de campanhas eleitorais em períodos de transição e secretário de governos distritais. Conheci todos os lados e isso influencia, hoje, minha maneira de ver as coisas. E ainda pude ser professor universitário.

A imprensa é o quarto poder ou esse posto foi substituído pelo Ministério Público Federal?

Quando eu era ainda estudante, nos anos 1970, ajudei meu pai, advogado, a preparar uma conferência sobre o jurista Haroldo Valadão, que defendia a tese de que o Ministério Público deveria ser o quarto poder. A partir da Constituição de 1988 o Ministério Público passou a ser efetivamente o quarto poder. A imprensa tem poder, mas não é nem o quinto poder. É bom que o Ministério Público tenha autonomia e poder, mas é necessário também que esteja submetido a controle social, o que não está sendo feito, como deveria, pelo Conselho Nacional do Ministério Público.

Para onde o senhor acredita que caminha o jornalismo brasileiro?

O jornalismo existirá sempre, o problema é que há menos veículos em que o jornalismo é realmente exercido. Bons e experientes profissionais têm dado lugar a jovens nem sempre talentosos e preparados, e muitos veículos estão sendo diminuídos ou fechados. Imagino que teremos um jornalismo de notícias imediatas e entretenimento, superficial e imediatista, por um lado, e um jornalismo de análise e opinião, mais aprofundado, por outro. Os veículos impressos devem desaparecer, mas o jornalismo para ser bom não depende do meio.

O que o senhor espera das eleições presidenciais de 2018 e qual será o papel que considera fundamental por parte da imprensa nesta cobertura em especial?

Nas eleições de 2018 poderemos eleger um presidente capaz de dialogar com o país e retomar o desenvolvimento, mas poderemos também eleger alguém que mantenha o Brasil no atual estado, ou até piore a situação em que vivemos. Seria muito bom que a imprensa pudesse fazer uma cobertura profunda, mostrando quem são os candidatos, o que pensam e o que propõem para o país. Mas investigando, apurando, questionando, não contando só o que vestem e o que comem e publicando declarações vazias e demagógicas. Seria bom também que a imprensa adotasse o modelo estadunidense, pois, nem tudo que vem de lá é ruim: posicionamento nos editoriais e noticiário isento e igualitário. A imprensa, se quiser, pode ter um papel muito importante para evitar e denunciar as notícias falsas propagadas pelas redes sociais.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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