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O papel do executivo de RH no mundo VUCA

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Qual o papel do executivo de RH no mundo VUCA – volátil, incerto (uncertain), complexo e ambíguo – onde mudar é o modo de ser? Como lidar com o sentido de urgência? O que significa “humanização das empresas?” É possível derrubar fronteiras em nome da colaboração? Dá para construir uma nova ordem organizacional a partir da desordem? Existe um futuro sem RH? Esses são alguns dos questionamentos ora propostos, ora respondidos de maneira objetiva, leve e, ao mesmo tempo, contundente por Marco Ornellas em seu mais recente livro, que pode ser encontrado na versão física (por R$ 59,00). A obra, cuja primeira prova ficou pronta com o anúncio da pandemia pela OMS, ganhou um Epílogo para ilustrar uma afirmação de Raj Sisodia, cofundador do movimento global Capitalismo Consciente: “o negócio dos negócios são as pessoas”. Para Ornellas, o RH deve se tornar o pilar estratégico e liderar o movimento de renovação de cultura das organizações, pequenas ou grandes, afinal a área é a responsável por cuidar das pessoas que cuidam dos negócios. Essa forte convicção está baseada em sua experiência de mais de 20 anos como consultor empresarial. O futuro é agora e o desafio do profissional de RH já se apresentou: despir-se das certezas, desapegar do mundo inflexível e linear que criou a sociedade do cansaço, e entender que funcionários, clientes, fornecedores, parceiros e produtos têm demandas únicas e exigem dedicação exclusiva.

Marco, quais as mudanças que serão mais sentidas pelas organizações pós-Covid?

Quantas vezes a humanidade, o planeta, teve uma mudança de tal proporção? Penso que o que estamos vivendo é tão único e avassalador, de tão grande impacto, que todas as mudanças serão sentidas. A começar por uma coisa bem objetiva: as relações de trabalho que incluem jornada, geografia (onde será realizado), relações entre lideranças e companhia de modo geral, pois, estamos falando de mais autonomia, distanciamento, senso de propósito, foco naquilo que tem significado, e menos comando e controle.

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O que estamos vendo é uma mudança externa de grande impacto sobre as organizações. Tudo o que está acontecendo mexe na arquitetura, não apenas dos espaços físicos que também serão alterados, mas na estrutura organizacional. É o momento de revermos níveis hierárquicos, tarefas, conjunto de atividades, áreas, processos. Precisamos da tecnologia para facilitar alguns processos até então mecânicos que já não fazem mais sentido. Mudam as pessoas, os perfis necessários, as lideranças, e todo o fluxo de comunicação e interação entre as pessoas: como manteremos controles, relatórios e todos os acompanhamentos necessários para uma organização funcionar? Será que o que fazíamos em 2019 ou mesmo antes da pandemia tem valor hoje e terá no futuro?

Qual será o papel do RH após a pandemia?

O papel mudou, não só com a pandemia, pois, já era necessária uma mudança significativa no papel do RH. As atividades mais técnicas, transacionais estavam sendo substituídas por tecnologia e a pandemia acelerou muito esse processo. O que percebemos é que o papel do RH, que já vinha sendo questionado, toma uma proporção mais importante agora. Acredito que a área de RH precisa abandonar processos transacionais e cuidar das pessoas.

A pandemia acelerou o momento das reflexões, propósito, valores e até mesmo das emoções. Todos estamos alterados emocional, física e intelectualmente. Penso que o RH precisa olhar para esse humano de uma forma diferente, discutir mais o conceito de “experiência”. Tenho visto algumas empresas já cuidando disso: ao contratar um colaborador encaminha para a casa dele um kit com equipamentos, instrumentos e acessórios tanto para a realização do trabalho – notebook, mousepad, cadeira – como para o seu bem-estar – caneca, squeeze, etc., com a ideia de tornar a experiência positiva.

Outra questão que considero muito importante, e que não tenho visto tanto, é o papel do RH em ajudar no novo desenho organizacional, pois, se a empresa não será mais a mesma, é necessário que alguém coordene esse redesenho, que tenha o olhar sistêmico do RH para as pessoas, e tenho dúvidas de que a gestão sozinha seja capaz de fazer isso. Acredito serem esses os dois focos principais no papel do RH já a partir de agora.

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O RH deve se tornar o pilar estratégico e liderar o movimento de renovação de cultura das organizações, pequenas ou grandes, afinal a área é a responsável por cuidar das pessoas que cuidam dos negócios.

Quais organizações serão as grandes vencedoras com a aceleração digital?

As organizações que já que vinham olhando para o futuro e agindo nessa direção são as que mais terão sucesso. Várias empresas já estavam trabalhando na digitalização e em seu arcabouço para uma transformação digital como o Magazine Luiza que com o seu e-commerce, transitando da loja real para a virtual, surfou nessa onda e nadou de braçada, haja vista o valor das ações na Bolsa. O Mercado Livre adquiriu quatro aviões para atender com mais rapidez os pedidos da Black Friday do ano passado. Essas decisões não foram tomadas no mês retrasado, mas estudadas há tempos, por quem vinha observando o movimento e se preparando para futuro que já chegou. Natura e Reserva são outros bons exemplos de empresas que inovaram mesmo na crise do coronavírus.

E quem serão os perdedores nessa conjuntura?

Algumas organizações estão acordando só agora, sacudidas pela pandemia, estão correndo atrás, meio sem saber para onde, às vezes reproduzindo e repetindo modelos de concorrentes… e acho que poucas sobreviverão. Infelizmente, as que não vão sobreviver, são as que pensam que o que está acontecendo agora é moda, que tudo isso vai passar, que vai voltar ao que era normal no início de 2020 – negacionista existe em várias áreas, inclusive na empresarial. Não tenho dúvidas de que as mudanças e o tsunami que estamos vivendo com essa transformação serão implacáveis, não vão perdoar, sejam pequenos negócios ou grandes organizações.

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O que mudará na gestão de pessoas nessas organizações?

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Se estamos vivendo transformações fortes e abruptas, precisamos nos renovar. Não tem como uma empresa, parte de um ecossistema que está se alterando, manter-se imune ou inerte neste movimento. Estamos falando hoje de duas coisas que são fortes na cultura e na gestão de pessoas: modelo de negócios e de gestão.

O modelo de negócios está sendo questionado: como entregar valor, como ter propósito além do lucro, como adotar um capitalismo mais consciente, como ter negócios mais sustentáveis e humanos. Aqui no Brasil estamos vendo um grupo de empresários que se juntou para pressionar o Governo na questão preservação da Amazônia e redução do desmatamento, face à imagem do país no exterior. Estamos falando de empresas que antes olhavam para dentro agora se preocupam com o entorno, com o planeta – olhar para todos os stakeholders, movimento que a pandemia acelerou.

Por onde passa a renovação da cultura organizacional das empresas?

Além de mudar o modelo de negócio, ou seja, como a empresa se relaciona com o mundo externo, agora ela também se preocupa com o seu mundo interno: que modelo de gestão nós precisamos. A pandemia e o afastamento físico estão promovendo reflexões sobre que liderança: que tipo precisamos? É necessário, de fato, todo esse corpo gerencial? Será que nossas organizações não podem ser mais orgânicas, fluidas, leves e ágeis? Estamos falando de novas estruturas de trabalho, com SQUADs, time de pessoas formado para trabalhar em um determinado projeto, que funciona com mais autonomia e sem liderança (holacracia), ou com liderança distribuída que sai de um conceito transacional e passa a cuidar da transformação organizacional; uma liderança que abandona a fiscalização e adota um pensar no futuro e em como transformar o trabalho. Estamos falando de uma cultura de confiança, baseado no propósito e nos valores, construindo redes de engajamento e de propósito.

O lucro terá outro caráter no pós-Covid?

Sim, terá. O lucro já está passando a ser a consequência de um propósito. Aquela ideia de anos atrás, que o objetivo da organização era entregar lucro para o acionista, não pode, não deve e não é mais o foco, nem a finalidade. A empresa necessita de lucro para sobreviver, porém, precisa entregar valor a todos os stakeholders: aos acionistas porque investiram financeiramente; aos colaboradores porque constroem a corporação; aos clientes para que voltem espontaneamente, sem necessidade de campanhas de publicidade; aos fornecedores, tão importantes quanto os colaboradores na cadeia produtiva, porque também entregam valor para a empresa (informação, desenvolvimento, infraestrutura, equipamentos); e à sociedade que deseja um retorno além dos impostos pagos pela organização, como cuidado com colaboradores, comunidade, entorno. Importante destacar que todos os stakeholders são importantes e em igual posição.

Qual o papel dos líderes?

Creio que às lideranças cabe despir-se das certezas, desapegar do mundo inflexível e linear que criou a sociedade do cansaço, entender que funcionários, clientes, fornecedores, parceiros, produtos têm demandas únicas e exigem dedicação exclusiva, conduzir o processo de transformação digital. Outro ponto é o de doar-se, entregar valor às pessoas, servindo-as e não o contrário (inversão da pirâmide). E descobrir caminhos novos, usar e estimular o uso da criatividade e da inovação para ir por caminhos ainda não trilhados já que estamos vivendo um mundo complexo, que ainda nunca ninguém viveu antes.

Essas lideranças falham em quais aspectos em sua visão?

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A liderança falha em controle: em acreditar que está vivendo em um mundo conhecido e ordenado. Hoje o mundo é muito mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, ou seja, um mundo que muda o tempo todo, e não permite a qualquer líder ter controle. É preciso ser mais observador da realidade e surfar a onda em que a liderança é colocada e não mais escolher a onda. Nós fazíamos isso lá atrás, hoje não dá mais, apesar de ainda existirem líderes que querem controlar o trabalho em home office da mesma maneira que faziam quando a estrutura organizacional era outra.

Onde fica o propósito nesse cenário?

Hoje, organizações e indivíduos se questionam mais: “por que faço o que faço”? Como conceitua Humberto Maturana, estamos vivendo uma nova era em que temos ampliação da consciência sobre o que se faz, como se faz e os resultados alcançados. Uma grande oportunidade para mudar e retomar a cultura de bem-estar e de harmonia a partir do amor.

Estamos vivendo um momento de introspecção, reflexão e profundidade. É como uma transição do mundo superficial e automático (comprava porque comprava; comprava porque meu vizinho tinha comprado; comprava porque era estimulado pela propaganda) para o real onde pensamos: “Será que preciso disso? Será que isso vai me fazer feliz?” Isso tem significado pra mim? Estamos passando do mundo do “ter” para o do “ser”.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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