VRS Academy aposta na aprendizagem corporativa
Vivian Rio Stella é doutora em linguística pela Unicamp, com pós-doutorado pela PUC-SP e especialista em comunicação. Idealizadora da VRS Academy. Professora da Casa do Saber, da Aberje e da Cásper Líbero. Começou a realizar textos, produzir materiais didáticos e a dar curso sobre redação de e-mails, e do mundo da academia queria migrar para o mundo corporativo. Passou anos como consultora, até que montou a VRS Academy. Ao longo dessa trajetória, Vivian já realizou palestras, workshops e consultorias com mais de 100 empresas, dos mais variados portes. A VRS Academy é uma consultoria de aprendizagem corporativa há 9 anos no mercado. A partir de palestras, rodas de conversas, jornadas e workshops customizados para as empresas, a VRS Academy se pauta pelo conceito de Lifelong Learning – aprender é para toda a vida. Com a convergência de mídias, a consultoria realiza diversas ações que estimulam a interação efetiva dos participantes, saindo do piloto automático e construindo as competências necessárias. A VRS Academy conta com uma rede de facilitadores que têm experiências tanto no universo acadêmico quanto no corporativo. As ações da consultoria são integradas, utilizando técnicas didáticas, inovadoras e criativas. “Hoje em dia, nesse mundo ultra conectado e cheio de algoritmos, é muito importante o hábito de leitura para furarmos as bolhas”, afirma Vivian.
Vivian, o que é fundamental para se adquirir o hábito da leitura?
Se pudesse resumir como obter o hábito de leitura em três pontos, diria que o primeiro é identificar que tipo de leitura toca o coração. São leituras mais breves, com menos páginas? São leituras mais densas? Que tipo de livro gosta de ler? Vamos supor, livros de bibliografia, de ficção, de negócios, de autores famosos ou algo bem desconhecido? Ou gosta de ler artigos de veículos, matérias de certos canais de imprensa? Fazer esse olhar curioso sobre si mesmo ou mesma é o primeiro ponto fundamental. O segundo ponto é saber como ler melhor: se é no digital, se é no mundo físico, se gosta de um momento específico no dia (logo pela manhã ou à noite, ou no meio da tarde). Vai colocar na agenda, por exemplo, ler 10 páginas ou um texto por dia, ou por semana. E outro aspecto, como terceiro ponto, é saber se é o tipo da pessoa que gosta de, por exemplo, marcar, para poder produzir um conteúdo depois, tipo uma aula, ou se você gostar de ler apenas para pensar sobre a vida. E a implicação disso é grifar trechos ou fazer orelhas no livro ou post it, resumo do que mais gostou, que pode ser em áudio para si. São três ações que as pessoas podem ter no seu dia a dia para poder adquirir o hábito de leitura.
Nações com populações menores que as nossas exercem o hábito da leitura com mais vigor. Onde erramos como nação nesse ponto?
Essa questão de populações menores que têm mais hábito de leitura do que no Brasil, tem a ver muito com a história da alfabetização e letramento no país, uma história relativamente recente. O acesso aos livros também é um item caro no orçamento familiar, devido aos impostos. E tem uma certa criação de erudição. Nas escolas, muitas vezes, vemos livros que, são clássicos da literatura, que tem um valor imenso para a produção de conhecimento, de cultura, mas que nem sempre são aqueles que adolescentes e jovens ou mesmo crianças gostariam de ler. Então talvez tenha um pouco desse aspecto que interfira, mas, essencialmente, tem uma questão de acesso, de alfabetização, interferindo nesse resultado e, de fato, lemos poucos livros por ano, como vemos nas estatísticas e levantamentos feitos em pesquisas diferentes. Mas temos uma grande oportunidade porque temos cada vez mais uma disponibilidade de livros maior, temos plataformas, canais no YouTube que fazem resumos de livros. Então antes da pessoa comprar, ela pode assistir a um vídeo ou ouvir um podcast para vê se interessa, trazendo a leitura como um lugar de desenvolvimento de repertório, de foco, de empatia, de ser realmente uma forma de meditação, se pudermos entender dessa forma. Acho que ainda dá para fazermos uma jornada de transformação para que haja mais pessoas leitoras.
Qual a importância do hábito da leitura e que passa muitas vezes despercebido?
Hoje em dia, nesse mundo ultra conectado e cheio de algoritmos, é muito importante o hábito de leitura para furarmos as bolhas. Acabamos lendo as mesmas coisas, seguindo as mesmas pessoas, ouvindo as mesmas ideias que as nossas. Então a leitura pode ser o caminho para outros universos, outros lugares, outros repertórios. Essa é a grande importância. Fora que às vezes é possível aprender muitas coisas sem, necessariamente, fazer um curso, porque é mais caro que o livro, ou então pode, por exemplo, usar um tipo de conteúdo para o dia a dia, por meio de uma leitura mais utilitarista, o que é valiosa também. Passa despercebido porque parece que ler está no lugar de ler histórias ou ficção, mas não, tem muita coisa nas ficções que levamos para a nossa vida. Tem muitas coisas que podemos ler que são de segmentos de atuação e que vão dar a capacitação para o indivíduo, e o quanto é importante para furar a bolha porque realmente elas estão presentes na nossa vida.
Como criar um hábito produtivo de leitura?
O que importa é fazer sentido para a rotina da pessoa. Para algumas pessoas funciona melhor logo cedo porque tem um tempinho ou antes de dormir, mas algumas pessoas têm sono antes de dormir, então não é o horário mais preferencial para a leitura. Tem o tipo de leitura que a pessoa está lendo também. Leio muitas coisas e tenho aprendido comigo mesmo que ler livros sobre negócios antes de dormir para mim não me ajuda a dormir, não me traz foco, concentração, deixa-me mais agitada. Então leio, geralmente, ficção, biografias, assuntos mais generalistas, para poder me conectar, focar, concentrar e me acalmar.
Quais os grandes nortes desse hábito na hora de conduzir uma leitura produtiva?
A forma mais adequada para criar o hábito de leitura é entendermos como a leitura se encaixa na nossa rotina e ela não precisa ser diária, pode ser semanal, quinzenal, mas precisa estar na rotina. Se a pessoa acha que é importante colocar na agenda, então deve colocar. Se a pessoa preferir colocar todo dia para ter frequência, lendo um pouco todos os dias também funciona.
Existe um melhor horário para isso?
Não existe comprovado um melhor horário, melhor forma. É entender como cabe na rotina de cada um.
Seria mais fácil manter o ritmo com horários fixos?
Para quem ainda não tem o hábito de ler, manter um horário fixo, um ritmo, criar um ritual pode ser interessante até que isso vire um hábito. Depois que virar hábito, assim como ir à academia fazer exercícios ou uma nova rotina na empresa, tudo isso vai se consolidando no dia a dia. Então para quem não tem e quer construir, vale à pena manter, mas sempre cabendo na sua agenda.
Leitura em grupo seria uma boa prática para quem não consegue ler sozinho?
A leitura em grupo tem uma grande vantagem que é as pessoas compartilharem os olhares sobre o mesmo trecho, o mesmo livro que foi lido. Há quem diga que a leitura é muito solitária, há quem se sinta acompanhada dos livros, das histórias. Então, para quem se sente mais solitária, não quer ler sozinho ou sente falta de ter com quem conversar, clubes de leituras ajudam, trazem repertório, contexto, a pessoa vai além do livro, vai saber mais sobre, por exemplo, quem são os autores, porque o livro é tão relevante para a sua época de lançamento, porque está tão em evidência naquele momento. O clube de leitura vai ampliar ainda mais o repertório e acaba fazendo com que pessoas troquem ideias e não se sintam tão sozinhas durante a leitura.
Como funciona o Clube de Leitura – Comunicação idealizado por você?
O Clube de Leitura – Comunicação que idealizei na VRS Academy tem a função de trazer a discussão sobre comunicação, que é uma habilidade tão importante. Sempre dou muitas referências de livros e podcasts nos meus cursos e as pessoas comentavam que tinham comprado o livro, mas que não tinham tido tempo de ler. Então o clube é uma forma das pessoas criarem essa rotina de leitura sobre um tema que importa para elas e, também, poderem trocar, compartilhar tantos trechos fundamentais que ampliam a noção de comunicação. Na conversa aprendemos que a inteligência não está só na gente, mas entre as pessoas, então é para isso que fazemos o clube de leitura. São encontros mensais, cada mês tem um livro em foco para a pessoa ler. Não é obrigatório que a pessoa tenha lido para estar no encontro ao vivo, porque sabemos que a rotina das pessoas é muito diferente umas das outras, mas a intenção é que as pessoas possam ter lido, ter acesso à obra para poder estar com a gente no encontro ao vivo, trocar ideias, trazer seus olhares também. São três livros cuidadosamente escolhidos para entendermos a comunicação da gente com a gente mesmo, com as pessoas, entender também como cativar e trazer carisma para a nossa comunicação com os outros e, também, como dar feedback, que é sempre uma habilidade importante para quem trabalha em empresas.
Qualquer um pode participar?
Qualquer pessoa pode participar; uma pessoa que adore leitura; uma pessoa que não leia tanto, para criar esse hábito; uma pessoa que goste de comunicação e queira aprimorar a habilidade de escuta, de opinar, de comentar. É sempre importante participar de clubes como esse.
Quais os livros que mudaram a sua vida?
O primeiro livro que mudou a minha vida foi “O Menino Maluquinho”, do Ziraldo, que ganhei de presente quando tinha 6 anos, e foi o livro que falei: “nossa, que legal que é esse livro para criança! A partir daí ganhava livros de presente de dia das crianças. Gostava muito de feiras de livros da escola que estudava e adorava comprar. A minha casa era habitada por livros porque a minha mãe é professora, a minha família é de mulheres professoras também, então já fazia parte do meu cotidiano, o que ajuda na criação de um hábito de leitura. Hoje em dia, que sou mãe de duas meninas, tem um livro que me marcou muito que chama “Mamãe, isso não é uma caixa”. Esse livro é muito interessante para podermos entender como as pessoas ressignificam as palavras, como elas atribuem sentido para as coisas do mundo, tem tudo a ver com linguagem. E, claro, que tenho que falar de um livro muito importante para a minha formação como linguista chamado “Preconceito Linguístico”, de Marcos Bagno, essencial para quem quer aprender sobre língua e linguagem, variedade linguística, foi um livro que discuti muito na faculdade quando entrei, foi muito marcante. E tem um outro livro, de ficção, que é “A visita cruel do tempo”, de Jennifer Egan. Conheci o trabalho dela na feira literária de Parati, adorava frequentar essa feira, vi uma palestra dela e fiquei encantada, e o livro é maravilhoso, tem uma construção narrativa bem interessante e vale à pena ser lido. Então são esses livros que marcaram a minha vida de alguma forma, mas são muitos que listaria.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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