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Lorenço Bustani aposta na inovação consciente

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Formado em relações internacionais e ciências políticas pela Universidade da Pensilvânia, com estudos em administração pela Wharton School, o empresário Lorenço Bustani, 33 anos, está à frente da consultoria Mandalah, empresa que tem como foco, ajudar as companhias a criar produtos e serviços que conciliem lucro e bem estar na vida das pessoas. O trabalho da consultoria vem ganhando adesão de gigantes como GM e Natura, que já buscaram na empresa, uma forma de falar ao mercado com consciência, implementando o chamado “bottom line”. Hoje Lourenço trabalha mais de 12 horas por dia, comandando escritórios em Nova York, Tóquio, Berlim, Cidade do México e Rio de Janeiro. No ano passado, ele apareceu no ranking da revista americana Fast Company como um dos cem empresários mais criativos do mundo. “Não se trata de uma hipótese. Já temos estudos de casos que mostram isso. A Nike, por exemplo, tem um compromisso infalível com a sustentabilidade, não por uma questão de mero RP (Relações Públicas), mas porque a matéria-prima usada desde sempre para fabricar seus produtos está em escassez. Trata-se de um dilema de sobrevivência. (…) Tenho visto grandes movimentos e empreitadas que nasceram sem uma preocupação tão clara com o capital inicial. Pessoas se juntaram com outras que tinham interesses em comum e colocaram suas ideias de pé. A partir daí, o dinheiro veio”, afirma o consultor e empreendedor. 

O slogan da Mandalah é: “Uma boutique de inovação consciente”. Quando você implementou a ideia junto com o seu sócio Igor Botelho e levou a mesma ao mercado, foi complicado colocar essa inovação consciente em prática?

Sim, e continua sendo. Por trás desse posicionamento existem ideais e estamos correndo constantemente atrás deles, para que sejamos mais coerentes como pessoas e como empresa. É um processo, uma jornada, na qual sempre teremos margem para aprimorar, aprender e evoluir.

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Uma diretora da GM revelou que a Mandalah usa a desestruturação para olhar o futuro. Como é feita essa desestruturação?

Usando os vários sentidos na codificação de tudo aquilo que vivenciamos, mas sobretudo nos reconectando com as nossas verdades mais essenciais, que residem no coração. Papo “riponga” à parte, o coração é nossa força motriz, a ferramenta mais poderosa que temos (todos!) e dona da energia mais renovável do planeta: o amor. Reconecte-se com seu coração e o resto é consequência, inclusive essa desestruturação de algumas ilusões que talvez, em maior ou menor grau, regeram sua vida até então.

Você disse que o contexto brasileiro para inovação está deficitário. Como fazer para que esse contexto se torne superavitário?

Continuar trabalhando, promovendo diálogos, sensibilizando as pessoas e inspirando-as na direção dos contextos mais favoráveis que podemos cocriar. Mostrar, por A mais B, que as mudanças são possíveis e trazer à luz aquelas que já estão em curso, eliminando a apatia e a descrença que ainda puxam o mercado para trás.

A cultura brasileira para negócios não é de longo prazo. Você encontra dificuldades quando diz para uma empresa que sua marca dentro da inovação consciente deve ser trabalhada em um longo prazo?

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Sim, enfrentamos, mas cada vez menos, já que temos hoje dados empíricos que mostram que empresas que trazem consciência para seus negócios e geram valor para a sociedade, são não apenas as que acabam sobrevivendo, mas também as que têm o melhor desempenho. Ou seja, ser consciente impacta diretamente o bottom line e acaba se tornando uma vantagem competitiva (lógico, se você ainda não se desapegou do paradigma antigo e ultrapassado da concorrência).

Lendo sobre você, vejo que fica perplexo com esse mote que chega a ser até famigerado: “Brasil, o país do futuro”. Pela sua experiência em trabalhar com empresas tanto nacionais como multinacionais, podemos dizer que isso não passa de puro comodismo?

Já foi comodismo, mas agora não dá mais para pensar assim. O futuro chegou, em cores vivas e com uma potência insuperável. E com ele chegou a hora de dar aquele grande passo tão aguardado, sem olhar mais para trás.

Você disse que a falta de visão prejudica qualquer projeto ou ideia inovadora. O que um empreendedor deve fazer para não perder essa visão e se dispersar no meio do caminho?

Iniciar sua jornada já com um propósito claro, rodear-se de pessoas que vibrem na mesma sintonia e policiar-se ao longo do tempo para não seguir o caminho mais fácil e previsível.

O que mais amarra os empreendedores no Brasil, sem dúvida nenhuma, é a falta de capital, já que que sabemos que é muito complicado bancos injetarem dinheiro em pequenas empresas. Também não temos ainda em grande quantidade os investidores anjos, que poderiam ser a solução para este problema. Como enxerga esse dilema?

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Tenho visto grandes movimentos e empreitadas que nasceram sem uma preocupação tão clara com o capital inicial. Pessoas se juntaram com outras que tinham interesses em comum e colocaram suas ideias de pé. A partir daí, o dinheiro veio. Precisamos mudar a forma como enxergamos o dinheiro, como ponto de partida de tudo, e passar a ver que existem outros valores que podem dar o start em um negócio.

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Você disse que a educação talvez seja o principal problema para uma mudança cultural e ao mesmo tempo radical. Com sinceridade, você sente que o Governo quer mesmo investir pesadamente em educação no nosso país?

Claro que quer, só não sabe como, nem em qual dose, nem onde. Se o Governo tivesse a bala de prata para o déficit educacional, com certeza usaria. Mas estão perdidos. Agora, se conseguirmos provar que alguém realmente não tem interesse em melhorar a educação neste país, essa pessoa deve ser encarcerada ou passar por uma lobotomia, e logo.

Como não se acomodar e ainda manter o mesmo nível de inovação quando uma empresa domina o seu nicho de mercado?

Pois é. Essa é a típica ilusão de que o domínio representa progresso e desenvolvimento. Pergunto: quais são as métricas para se chegar à conclusão de que não é preciso fazer mais nada? Se for o dinheiro, este que agora mesmo está enchendo os bolsos de mais um acionista, até entendo, afinal tem muita gente ganhando mais do que pode usar nas próximas três gerações. Mas se as métricas têm a ver com a capacidade do negócio melhorar o bem estar das pessoas, convenhamos que a vida não está nada fácil e há muito o que mudar (saúde, convivência na cidade, diálogo, mobilidade, solidariedade, alimentação, só para citar alguns).

A Copa do Mundo é no ano que vem, as Olimpíadas em 2016. Nunca se falou tanto em negócios, empreendedorismo e inovação no país, e muito desse “falatório” deve-se principalmente a esses dois grandes eventos. O que você acredita que deve ser feito para que esse espírito de empreendedorismo e inovação, não se perca logo após o término destas duas competições?

Não sei se concordo que a onda de empreendedorismo e inovação no Brasil se deve a esses dois eventos. Acho que se deve ao nosso momento enquanto nação, que coincide com eles. Mas vai além. Precisamos falar em legado, do ponto de vista não apenas de futuro, mas do que vamos viver hoje, agora.

Você disse que enfrenta muita resistência no seu trabalho, porque as pessoas têm medo da mudança. Quais seriam os principais pilares para que essa mudança de mentalidade se desenvolva de vez em nosso país?

Como disse acima, sensibilização, reconexão interna, afirmação de propósitos e novos diálogos. Feito isso, o resto fluirá a nosso favor.

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Por muitos anos, o lucro foi tido como uma coisa de gananciosos capitalistas. De uns tempos para cá, o lucro de alguma forma é bem visto quando gera um capital social real. A empresa que hoje não pensar dessa forma pode estar fadada ao fracasso perante o mercado?

Pode não, será. É certo. Não se trata de uma hipótese. Já temos estudos de casos que mostram isso. A Nike, por exemplo, tem um compromisso infalível com a sustentabilidade, não por uma questão de mero RP (Relações Públicas), mas porque a matéria-prima usada desde sempre para fabricar seus produtos está em escassez. Trata-se de um dilema de sobrevivência. Todos estão se dando conta, pouco a pouco, de que o modelo de se dar bem aos custos de alguém ou de alguma coisa perpetua uma grande ilusão.

Na lista da revista americana Fast Company, no ano passado, havia apenas 4 brasileiros como os mais criativos do mundo, incluindo você. Não é pouco pelo tamanho do Brasil e pelas oportunidades que o país oferece no momento?

Sem dúvida. Mas não vamos esquecer, foi apenas uma revista, dos EUA, e um mero ranking. Não sejamos rasos ao usar isso como um indício da capacidade criativa dos brasileiros. O importante é sabermos que o Brasil é um berço fértil para a criatividade e fomentarmos isso na medida das nossas possibilidades. Rankings à parte, a única comparação que devemos fazer é com o nosso próprio potencial.

Última atualização da matéria foi há 3 anos


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