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O movimento de rejeição de viver para o trabalho

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Para quem é fã da cantora americana Beyoncé, ou compreende a língua inglesa, sabe que seu novo hit Break My Soul, fala sobre mudança e libertação, achar uma nova base e uma nova fundação para o significado da vida. Mas em específico, como essa mudança tem uma linha direta na nossa visão sobre o trabalho.

Pode parecer estranho que uma diva pop esteja falando sobre empregos em sua nova música, principalmente no tão aguardado retorno de Beyoncé para os estúdios de gravação, mas ela está abordando na letra, de forma indireta, o fenômeno da Grande Renúncia, que vem acontecendo nos Estados Unidos.

“As empresas americanas estão enfrentando uma taxa de desistência surpreendentemente alta”, explica Fabiana Teixeira, jornalista especialista em comunicação empresarial. “E vemos números extremamente significativos, de diversas pesquisas sobre o assunto.”

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Fabiana exemplifica a Gallup, empresa global de análise e consultoria para líderes e organizações, que descobriu que 48% da população trabalhadora dos Estados Unidos está ativamente procurando emprego ou observando oportunidades enquanto trabalha. Já de acordo com a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA, entre maio de 2021 e abril de 2022, houve uma média de 4 milhões de pedidos de demissão registrados a cada mês.

“E esta onda de demissões vem se mostrando também em território brasileiro: o país bateu o recorde de 2,9 milhões de pedidos de demissão em cinco meses, de janeiro a maio de 2022,” comenta a especialista. Num momento de recessão econômica, alta inflação, grande taxa de desemprego e crise imobiliária praticamente num âmbito mundial, teoricamente o contrário deveria estar acontecendo. Porém, o isolamento social proporcionou uma oportunidade para muitos: ter autoconhecimento e perspectiva de uma vida que não é feita apenas para trabalhar.

“Aqueles que saem estão simplesmente escolhendo se colocar em primeiro lugar. Os profissionais querem agendas de trabalho que favoreçam a qualidade de vida,” esclarece Fabiana. “Seria o momento do grande Grande Repensar, no qual todos estamos avaliando nossa relação com o trabalho e como ele se encaixa em nossas vidas.”

A própria Beyoncé fala sobre isso em uma estrofe de Break My Soul, que diz “Agora, acabei de me apaixonar, e acabei de me demitir, Vou encontrar um novo estimulo, Caramba, eles fazem eu me esforçar tanto, Trabalho às nove, depois das cinco, E eles trabalham meus nervos, É por isso que não consigo dormir à noite,” numa tradução livre.

A tendência da humanização tem se mostrado presente de maneira impactante em muitos âmbitos, mas principalmente no mercado de trabalho no pós-pandemia. Pessoas tem cobrado de seus líderes não apenas uma visão de seu papel como funcionário, mas como ser humano e tudo que isso engloba: “O tempo em que o dinheiro era tudo o que importava para os funcionários está desaparecendo, e mais pessoas estão se concentrando no ajuste cultural, nos benefícios para sua vida e no crescimento profissional,” esclarece Fabiana.

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Ela exemplifica que muitas organizações hoje carecem da habilidades de gestão de pessoas, principalmente na retenção de funcionários, não apresentando uma comunicação assertiva, escuta ativa e feedbacks precisos. “Precisamos de líderes que se importem, que se envolvam e que ofereçam aos trabalhadores um senso de propósito, inspiração e motivação, que os incentive a permanecer aonde estão.” Ela pontua que apesar de ser um momento disruptivo nos modelos de gestão das empresas, isso representa também uma grande oportunidade de melhora. “Rever o paradigma do comando e controle da liderança é um dos grandes desafios. Mas, querendo ou não, as empresas terão que adotar um modelo de trabalho mais inclusivo, uma liderança mais humanizada.”

Fabiana reflete que no final de tudo, devemos aprender a nos comunicar, e isso inclui o ato de ouvir. “É o momento de exercitar a escuta ativa e plena, ouvir atentamente o que o outro diz. Mudar o paradigma e apresentar a empatia como o pilar das relações interpessoais, algo que se soma ao respeito e comprometimento. Precisamos nos adaptar a essa busca da população por uma redefinição do conceito de sucesso,” finaliza.

Sobre Fabiana Teixeira:

Fabiana Teixeira é jornalista formada pela PUC-SP e tem experiência como repórter em emissoras como Record TV, TV Bandeirantes, Rede TV e TV Cultura. Também é especialista em Comunicação Empresarial, Branding e posicionamento de marcas pela ESPM e Marketing Digital pela Universidade de Columbia, em Nova York.

*Com participação da jornalista Rafaela Costa.

Última atualização da matéria foi há 1 ano

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