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Carola Saavedra quer descobrir possibilidades

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A escritora e tradutora Carola Saavedra nasceu no Chile, mas mudou-se com a família para o Brasil aos três anos de idade. Formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Morou na Espanha, na França e na Alemanha, onde concluiu um mestrado em Comunicação Social. Vive no Rio de Janeiro. Foi autora convidada da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2010. Entre os prêmios que ganhou estão o Prêmio APCA de melhor romance, 2008, por “Flores azuis” e o Prêmio Rachel de Queiroz, categoria jovem autor, 2010, por “Paisagem com dromedário”. Ficou entre os finalistas dos prêmios São Paulo de Literatura e Jabuti. “Não acho que seja algo que aconteça de fora para dentro, ao contrário, temos uma capacidade imensa de negar o que não queremos ver, então acho que é mais o escritor que faz esse movimento (sair da sua zona de conforto). No meu caso, vejo que quanto mais escrevo, quanto melhor domino a técnica, mais sedutor se torna continuar fazendo versões daquilo que eu já fiz. Sair disso é cada vez mais difícil, mas, para mim o único caminho. Não tenho interesse em fazer o que eu já sei fazer, quero a surpresa, descobrir possibilidades que eu desconhecia, testar meus limites. (…) O Inventário é fruto disso, dessa busca. E o novo livro, que sai agora em maio, ainda mais. É um romance completamente diferente de tudo o que eu já fiz”, afirma a escritora.

Carola, quando o escritor é desafiado em seu ofício, ou seja, em que momento ele é retirado da sua zona de conforto?

Não acho que seja algo que aconteça de fora para dentro, ao contrário, temos uma capacidade imensa de negar o que não queremos ver, então acho que é mais o escritor que faz esse movimento (sair da sua zona de conforto). No meu caso, vejo que quanto mais escrevo, quanto melhor domino a técnica, mais sedutor se torna continuar fazendo versões daquilo que eu já fiz. Sair disso é cada vez mais difícil, mas, para mim o único caminho. Não tenho interesse em fazer o que eu já sei fazer, quero a surpresa, descobrir possibilidades que eu desconhecia, testar meus limites.

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Isso já aconteceu com você?

O Inventário é fruto disso, dessa busca. E o novo livro, que sai agora em maio, ainda mais. É um romance completamente diferente de tudo o que eu já fiz.

Em que momento você acredita que a literatura passar a ter um desempenho um pouco mais social?

A partir do momento em que você tem um sistema de ensino que produz bons leitores, pessoas capazes de ler literatura (que não é a mesma coisa que ler uma receita de bolo) e se deixar transformar por ela. A meu ver, toda literatura é política, porque aprender a ler literatura é aprender a ler o mundo em toda a sua complexidade, e por tabela, aprender a ler a si mesmo, e isso é transformador.

Quais são as suas maiores referências literárias?

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São tantas, mas para citar algumas: Clarice Lispector [escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto a sua brasilidade, ser pernambucana —, autora de romances, contos e ensaios, sendo considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano, 1920 – 1977]., Hilda Hilst [poeta, ficcionista, cronista e dramaturga. É considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX, 1930 – 2004], Machado de Assis [escritor, considerado por muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores um dos maiores senão o maior nome da literatura do Brasil, 1839 – 1908], Sérgio Sant’Anna [escritor. Embora já tenha publicado poesia, peças de teatro, novelas e romances, ele se considera primeiramente um contista, 1941 – ], Virginia Woolf [escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo, 1882 – 1941], Marguerite Duras [romancista, novelista, roteirista, poetisa, diretora de cinema e dramaturga francesa, sendo considerada uma das principais vozes femininas da literatura do Século XX na Europa, 1914 – 1996], Ricardo Piglia [escritor. Publicou, entre os textos de ficção, La invasión, Nombre falso, Respiración artificial, Prisión perpetua, La ciudad ausente e Plata quemada, 1941 – 2017], Juan José Saer [escritor e ensaísta argentino. No Brasil, Saer é conhecido mais pela sua ficção, principalmente por O enteado, e por alguns artigos escritos para o jornal Folha de S.Paulo, 1937 – 2005], Cristina Peri Rossi [romancista uruguaia, 1941 – ], Alejandra Pizarnik [escritora e poetisa argentina, 1936 – 1972], Elfriede Jelinek [novelista e autora de peças de teatro austríaca. Foi agraciada com o Nobel de Literatura de 2004, 1946 – ], Anne Sexton [escritora estadunidense conhecida por sua poesia confessional bastante pessoal. Ela venceu o Prémio Pulitzer de Poesia em 1967, 1928 – 1974], Natalia Ginzburg [escritora italiana. Nascida Natalia Levi na capital da Sicília numa família judaica de origem triestina, seu pai, Giuseppe Levi, era professor universitário e seus três irmãos foram prisioneiros durante o regime fascista, 1916 – 1991], Jorge Luis Borges [escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino. Em 1914 a sua família mudou-se para Suíça, onde estudou e de onde viajou para a Espanha, 1899 – 1986] e Robert Walser [escritor suíço de língua alemã. Escreveu nove romances, dos quais restam quatro, além de mais de mil contos, 1878 – 1956].

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Essas referências lhe moldaram de alguma forma em sua escrita?

Sim, com certeza, mas não saberia dizer como. É um processo tão complexo, e grande parte se dá de forma inconsciente.

Quem trabalha com arte de modo geral, renega suas primeiras obras, mas você não faz isso com o seu livro “Do lado de fora”. Em que aspectos essa obra lhe ajudou a ser a autora que é hoje?

Eu fiz isso sim! O primeiro livro “Do lado de fora” é um livro fora de catálogo e que eu não pretendo voltar a publicar. Agora, é claro que faz parte da minha trajetória, não há como negar, ali, eu ainda não sou eu, mas já estou experimentando possibilidades e caminhos que eu iria trilhar depois.

Quais os principais cuidados que um autor deve ter quando começa a ficar conhecido por um público mais amplo?

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Não perder nunca o foco, que deve ser sempre a qualidade da literatura que ele faz.

Em “Paisagem com dromedário” morte e amor são os temas centrais. Acredita que em algum aspecto, o amor e a morte estão ligados?

Com certeza, o amor é a vida em seu estado mais sublime, e o que é a vida além de uma constante aproximação da morte? Mas não acho que seja algo ruim, ter em mente o quanto tudo é efêmero nos ajuda a olhar com mais atenção para o que realmente importa e a não perder tempo com bobagens.

Vamos fazer uma pergunta que tem a ver com o seu livro “O inventário das coisas ausentes”. Em sua visão, o amor começa num encontro casual, à primeira vista ou depois de anos de convivência?

No livro há uma pergunta que os personagens sempre se fazem, nos mais diversos contextos: “então isso era o amor?” É tão difícil definir o amor em termos gerais, eu não tenho essa pretensão, diria apenas, o amor é um sentimento que eu ofereço ao outro e que, nesse oferecimento, me transforma numa pessoa melhor, mais feliz. Agora, como e por que ele acontece (ou não) continua sendo para mim um mistério.

O que foi dito sobre esse livro que teve um impacto grande e diferente daquilo que estava querendo passar quando criava essa obra?

Há sempre uma lacuna entre o que você quis dizer e o que você realmente disse (e continua dizendo) e está aí a beleza da literatura. Cervantes quando escreveu o Quixote não tinha a menor ideia de que ele tinha escrito o Quixote, aliás, ele nem ao menos o considerava seu melhor livro! No caso do Inventário, quando traduzido e publicado no Chile, foi lido como autoficção, coisa que eu jamais afirmei que fosse. E eu fiquei muito feliz com isso, porque mostra justamente essa potência discursiva que a literatura tem.

Como classificaria o seu ofício e qual a sua visão particular sobre o seu trabalho tanto como tradutora e obviamente como escritora?

Eu tenho a sorte de fazer o que amo, me refiro à literatura. Não sou do tipo de autor que sofre, ao contrário, para mim, é um prazer, é o que me permite estar no mundo de uma maneira mais intensa e profunda. Quanto à tradução, vejo como uma espécie de exercício, de aproximação com a língua. Aliás, acho que a tradução é uma arte pouco valorizada, os grandes tradutores nos permitem o acesso ao mundo e à beleza, devemos muito a eles.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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