A nababesca vida dos Pahlavis
Poucas famílias simbolizam tão bem a opulência deslocada do século XX quanto os Pahlavis. Durante décadas, o sobrenome carregava o peso de uma monarquia rica em petróleo, cercada de luxo, mas distante do povo. O xá Mohammad Reza Pahlavi — último monarca iraniano antes da Revolução Islâmica de 1979 — vivia como se estivesse no centro de um império atemporal, mesmo quando seu trono já balançava sob o clamor crescente das ruas. Com o recente conflito entre Irã e Israel, que durou 12 dias e reacendeu os debates sobre a fragilidade do regime dos aiatolás, o nome Pahlavi voltou aos holofotes, não apenas como memória, mas como possibilidade — ainda que remota — de alternativa.
O herdeiro Reza Pahlavi, filho do último xá, tem dado sinais de que não está disposto a permanecer como uma nota de rodapé histórica. Desde o exílio, tem ocupado um espaço simbólico importante entre os setores mais liberais ou ocidentalizados da diáspora iraniana. Seu discurso é marcado pela crítica feroz ao regime teocrático atual e pela promessa de um Irã laico, moderno e democrático. No entanto, entre o discurso político e o legado familiar, há um abismo difícil de contornar. Afinal, os Pahlavi não foram apenas vítimas da Revolução — foram também seus catalisadores, com sua ostentação, autoritarismo e indiferença à desigualdade social.
Nada sintetiza melhor a desproporção entre o luxo da corte e o drama do país do que o famoso casamento do xá Mohammad Reza Pahlavi com a imperatriz Farah Diba, celebrado em 1959. A cerimônia, frequentemente descrita como “o casamento do século”, foi pensada para ser um espetáculo de grandeza, um manifesto visual do poder da monarquia iraniana.
O casamento do século — entre ouro e ressentimentos
A jovem Farah, bela e educada na França, vestia um traje assinado pela casa Dior, adornado com diamantes e esmeraldas extraídos das minas do próprio Irã — uma espécie de metáfora dolorosa para o desvio das riquezas nacionais em benefício da elite palaciana. A cerimônia contou com centenas de convidados da realeza europeia, líderes mundiais e uma cobertura da imprensa internacional que parecia saudar a entrada do Irã num novo patamar de sofisticação.
Enquanto os salões do Palácio de Golestan brilhavam com lustres de cristal e prata maciça, do lado de fora o povo vivia sob forte repressão política, desemprego crescente e uma distribuição injusta das riquezas advindas do petróleo. A festa, que deveria marcar a modernização da monarquia, acabou por selar o início de sua decadência. Ela foi vista por muitos iranianos como uma exibição obscena de riqueza em um país onde a maioria mal tinha acesso à saúde ou educação de qualidade.
Foi também durante essa época que o xá intensificou sua política de repressão, com a polícia secreta SAVAK ganhando fama de brutalidade, enquanto os gastos com armas e projetos faraônicos drenavam os recursos públicos. O projeto de modernização à força, sem base popular e recheado de imposições ocidentais, desconectou ainda mais a monarquia da cultura e das tradições iranianas.
“A repressão interna, os protestos por direitos das mulheres, a crise econômica e a instabilidade internacional formam um caldo propício para rupturas. Nesse cenário, nomes como o de Reza Pahlavi surgem como fantasmas do passado e, talvez, sementes de um futuro incerto.”
A ascensão do aiatolá Khomeini e a Revolução Islâmica de 1979 foram, em grande medida, uma resposta a esse ciclo de opulência e autoritarismo. Quando o xá foi deposto e fugiu do país, não houve comoção — houve alívio. E os Pahlavi passaram da adoração oficial à condenação popular.
Hoje, a imagem de Reza Pahlavi tenta se distanciar da sombra do pai. Com discurso afinado, vocabulário democrático e promessas de reconstrução, ele aparece com frequência em fóruns internacionais, criticando o atual regime e buscando apoio entre os jovens iranianos e exilados. Mas não é simples apagar o passado com promessas futuras. O mesmo nome que atrai simpatizantes nos cafés de Paris e nas redes sociais de Los Angeles ainda provoca suspeita em Teerã e entre os mais velhos que lembram do peso da monarquia.

A recente guerra entre Israel e Irã reacendeu especulações sobre uma eventual queda do regime teocrático, algo que parecia improvável até pouco tempo atrás. A repressão interna, os protestos por direitos das mulheres, a crise econômica e a instabilidade internacional formam um caldo propício para rupturas. Nesse cenário, nomes como o de Reza Pahlavi surgem como fantasmas do passado e, talvez, sementes de um futuro incerto.
O que é certo é que a nababesca vida dos Pahlavis continua a intrigar, seduzir e dividir opiniões. Para alguns, símbolo de uma era perdida de glamour e abertura ao mundo. Para outros, um lembrete cruel de como a desconexão entre elite e povo pode abrir caminho para a ruína. Em qualquer caso, o legado dos Pahlavi está longe de ser enterrado — e talvez nunca esteja.
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