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A publicidade digital na ótica de André Ferraz

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André Ferraz é formado em Ciências da Computação, pela Universidade Federal de Pernambuco. Começou a empreender com 19 anos, ao aplicar os conhecimentos acadêmicos da área de computação ubíqua na criação da tecnologia de geolocalização indoor mundialmente exclusiva – baseada no cruzamento de sinais de wi-fi, bússola e acelerômetro – eleita como a mais precisa do mundo, em 2014, pela Microsoft Research, 30 vezes mais eficaz que o GPS, e que tem sido muito explorada no mercado publicitário. É CEO e cofundador da In Loco Media, considerada uma das 10 startups mais promissoras do mercado publicitário no Cannes Lions, em 2015. Fundada em 2011, em Recife, a partir de um projeto criado por alunos do curso de Ciência da Computação na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, a startup pernambucana hoje é pioneira no mercado de soluções baseadas em dados geolocalizados e mobile advertising na América Latina, com operações na Europa, e nos Estados Unidos. Ferraz é palestrante em eventos como Cannes Lions (por duas vezes), Brazil Forum UK, Proxxima, iAB Ad-tech, Forum MMA Brasil, Forum Mobile +, MIT EmTech e DMEXCO. Publica regularmente artigos em sites, participou do Livro Mobile – IAB Brasil, além de integrar a rede de empreendedores Endeavor. “A falta de transparência é a mãe de todas as polêmicas envolvendo as maiores empresas de tecnologia do mundo”, afirma.

André, como se deu o início de sua jornada no mundo do empreendedorismo?

Foi enquanto eu estava na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) cursando Ciência da Computação no Centro de Informática (CIn). Eu e um grupo de amigos estávamos cursando uma disciplina chamada “Projetão”, onde teríamos que criar um negócio do zero e validá-lo no mercado durante o semestre. Nossa ideia era criar um aplicativo para shoppings com navegação indoor (uma espécie de Waze para ser utilizado dentro dos shoppings), gamificação e ofertas especiais para os consumidores que tivessem esse app instalado. O dono do shopping pagaria pelo aplicativo em troca de relatórios sobre o comportamento dos consumidores que visitaram o local. O produto foi batizado de Ubee.

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Para que o produto fosse desenvolvido, nós precisaríamos de uma solução de navegação que funcionasse em locais fechados. Fizemos muita pesquisa e acabamos descobrindo que essa tecnologia ainda não existia. Com determinação empreendedora, meus sócios e eu, decidimos criar a nossa própria tecnologia de geolocalização indoor. Novamente, imergimos em pesquisa acadêmica e prototipações. Após algumas semanas, conseguimos criar um modelo interessante que tinha um bom raio de precisão. A primeira versão da nossa tecnologia só utilizava os sinais da rede wi-fi. Esse foi apenas o início da jornada.

Como avalia o início da In Loco Media e quais os pilares que foram importantes naquele início?

Apesar da naturalidade como as coisas se desenrolaram, tudo foi muito rápido. Em cinco anos, saímos do zero para uma empresa que conta com 170 funcionários e operações em Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Estados Unidos. Eu acredito que os pilares que sustentaram nosso crescimento foram os nossos valores. Desde quando programávamos no quarto de Alan, nosso atual VP de Engenharia e cofundador da In Loco, tínhamos em mente que queríamos construir um serviço que não violasse a privacidade do usuário, um ambiente de trabalho transparente, com pessoas com espírito de dono e que pensassem grande. Essa ideia era tão fixa na nossa cabeça que, cinco anos depois, temos uma empresa que tem como valores Privacidade, Pensamento de Dono, Pensar Grande, Trabalho em Equipe e Velocidade.

Esses pilares ainda estão presentes na empresa ou acrescentaria outros que foram surgindo com o tempo?

Sim, eles estão presentes até hoje. Eu vejo esses valores quando um funcionário desliga a luz após sair de uma sala de reunião ou aponta algo que estamos fazendo de errado. Também vejo isso quando alguém assume um erro e aprende com ele. Todas as 170 pessoas que compõem a In Loco são obcecadas por não expor a privacidade do usuário. Eu tenho muito orgulho de fazer parte desse time.

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Como avalia o momento do empreendedorismo em nosso país?

Como eu já disse em outras ocasiões, o Brasil é um dos países mais difíceis para quem quer empreender. Além das barreiras burocráticas, o nosso mercado não está preparado para testar coisas novas. Já levei muitos “nãos” de pessoas que não conseguiam entender a nossa tecnologia e o que é possível fazer com ela. Aqui no Brasil, existe um pensamento muito ultrapassado de que só inovação que vem de fora do país é confiável. Os recentes escândalos envolvendo os maiores players de tecnologia do mundo em polêmicas sobre privacidade e manipulação de métricas provam que o mercado nacional tem que tomar cuidado para não continuar comprando gato por lebre e também abraçar inovações desenvolvidas no Brasil.

Em um dos seus textos publicados neste ano, você fala sobre a transparência nas plataformas digitais. O que lhe incomoda neste aspecto?

A falta de transparência é a mãe de todas as polêmicas envolvendo as maiores empresas de tecnologia do mundo. O exemplo do Facebook deixa bem claro como a falta de transparência prejudica as pessoas: eu aposto que, antes do caso da Cambridge Analytica, quase ninguém fazia ideia de como o Facebook usava os nossos dados. Se houvesse transparência, as pessoas poderiam ter cobrado medidas de segurança antes que os seus dados fossem utilizados de maneira inapropriada.

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Que análise faz da publicidade digital disponibilizada em nosso país?

A publicidade digital do Brasil está em pleno crescimento. As agências perderam o receio de investir nesse meio e, a cada dia, aumentam mais o investimento no online. Mas, se olharmos com mais atenção, é possível notar que a publicidade digital está passando por uma transformação de mindset: antes, as pessoas achavam que o online iria canibalizar o offline. Agora, a In Loco está mostrando ao mercado do Brasil e do mundo que o digital chegou para se tornar um parceiro do offline. Recentemente, lançamos o Mobile Extension, solução que integra o mobile com mídias tradicionais através da tecnologia de localização da In Loco – uma espécie de super GPS.

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No caso do OOH, usamos a nossa tecnologia para mapear os pontos onde os mobiliários urbanos estão e, a partir dessa informação, aplicamos a segmentação retargeting no mobile para impactar apenas os consumidores expostos à publicidade da mídia exterior. Assim, além de criar uma experiência mais fluída para o consumidor impactado por campanhas publicitárias, o Mobile Extension coloca a mídia digital a serviço da tradicional, iniciando uma era onde a publicidade não precisará rivalizar os dois meios.

Hoje a In Loco Media atua em países como Estados Unidos, México, Alemanha e Argentina. Como implantar a cultura da empresa em países tão díspares?

O segredo, para mim, é só contratar profissionais que tenham fit com a nossa cultura. Quando encontramos alguém que preenche os pré-requisitos da vaga e pensa grande, tem sentimento de dono, sabe trabalhar em equipe, tem agilidade e defende a privacidade do usuário com unhas e dentes, nós sabemos que essa pessoa está alinhada com a In Loco independente do lugar onde ela está.

Algo fantástico na tecnologia criada pela In Loco Media, é que ela é mais precisa que um GPS. Fale um pouco mais sobre o desenvolvimento dessa tecnologia.

Essa tecnologia foi criada lá na universidade, enquanto estávamos colocando em prática a nossa ideia de negócio para a disciplina “Projetão”. Como a ideia era criar um app de navegação para shoppings, a tecnologia de localização precisava funcionar em locais fechados. Felizmente, essa tecnologia não existia e nós criamos a nossa do zero. Nosso pioneirismo rendeu frutos. Em 2014, participamos do IPSN e fomos certificados pela Microsoft como a tecnologia de localização mais precisa do mercado, na cidade de Berlim.

Para entender a localização dos smartphones, nós usamos tecnologias já embarcadas no aparelho: wi-fi, acelerômetro, giroscópio e a bússola do celular. Ao cruzar essas informações, a tecnologia da In Loco consegue decifrar a localização do smartphone sem precisar invadir a privacidade do consumidor.

Qual seria o pulo do gato para se destacar neste mercado?

Eu diria que o pulo do gato é oferecer dados de qualidade e não invadir a privacidade do consumidor. Dados de qualidade são imprescindíveis quando o assunto é segmentação. De nada adianta planejar uma campanha nos mínimos detalhes e, na hora de entregar, impactar o público errado. A qualidade dos dados é o que separa o joio do trigo: campanhas que contam com ROIs mais altos sempre são aquelas que impactaram o consumidor no local, no horário e no momento certo.

Mas é importante frisar que dados de qualidade não devem infringir a privacidade dos usuários. Além de ser inaceitável, as pessoas estão cada vez mais conscientes sobre o direito à privacidade e continuarão a cobrar das empresas, transparência sobre como os seus dados são utilizados.

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A privacidade seria a principal questão ética de um negócio como o seu?

Sempre foi e sempre será. Preservar a privacidade das pessoas não é uma escolha, é um dever. Não é raro que grandes empresas sejam vítimas de leaks, ataques de hackers e vazamento de dados. No final do dia, quem sai mais prejudicado é o usuário. Por isso, é importante que cada vez mais alternativas privacy friendly sejam desenvolvidas e aplicadas no nosso dia a dia. Caso contrário, o mercado de tecnologia passará por uma crise tão grande que, talvez, acabe quebrando.

Como a In Loco Media pretende se tornar uma empresa diferenciada e valorizada pelos próximos anos?

Iremos continuar a investir em soluções que usem dados 100% anonimizados. Assim, todo mundo sai ganhando: o mercado, que continua tendo acesso a dados de qualidade, e o consumidor final, que recebe serviços que conversam com o momento em que ele está vivendo e tem a segurança de não ter a sua identidade exposta.

Última atualização da matéria foi há 12 meses


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