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Cris D’Amato está otimista com o cinema

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Cris D’Amato é graduada em jornalismo, trabalhou com publicidade durante muitos anos, além de trabalhar também com teatro – em 1991, montou a companhia “Limite 151”. Ainda em 1991, começou a trabalhar na televisão como assistente de Tizuka Yamasaki, como primeira assistente de direção da novela “Amazônia”, na extinta TV Manchete. Em 1997, faz outro trabalho na TV, dessa vez na Rede Globo, como diretora assistente de Daniel Filho no seriado “A Justiceira”. Em 1995, Cris D’Amato começa sua carreira no cinema como assistente de direção em filmes como “Buena Sorte” (1997), de Tânia Lamarca; “Outras Estórias” (1997), de Pedro Bial; “Memórias Póstumas” (1999), de André Klotzel; “Amores Possíveis” (2000), de Sandra Werneck; “Copacabana” (2000), de Carla Camurati; e “A Máquina” (2004), de João Falcão. Nos anos 2000, inicia sua carreira de diretora assistente em filmes como “Fica Comigo Essa Noite” (2005), de João Falcão; e nos filmes de Daniel Filho – “Seu Eu Fosse Você” (2005), “Muito Gelo e Dois Dedos d´Água” (2006), “Primo Basílio” (2007), “Se Eu Fosse Você 2” (2009), “Tempos de Paz” (2009), e “Chico Xavier” (2010). Lançado em 2007, “Sem Controle” foi o primeiro filme de Cris D’Amato. Os outros foram “Confissões de Adolescente” (2013), “S.O.S Mulheres ao Mar” (2014), “Linda de Morrer” (2015), “S.O.S Mulheres ao Mar 2” (2015) e “É Fada!” (2016).

Você já disse uma vez que nunca pensou em dirigir. Em que momento mudou de ideia?

Na verdade, eu não mudei de ideia. Eu era uma atriz que trabalhou 17 anos no teatro e o diretor da companhia era diretor de televisão. Ele era diretor-geral de uma novela chamada “Amazônia” e eu fui pedir trabalho como atriz, não para ele mais para o departamento artístico (ele soube). Ele ficou uma arara comigo, dizendo que eu deveria pedir para ele, já que ele me colocaria lá, mas que nesse caso na novela “Amazônia” não teria personagem para mim. O nome dele era Marcelo de Barreto. Aí ele me convidou para eu ser assistente de direção. Na hora eu fiquei muito ofendida porque eu pensei: “Acho que ele não me acha uma boa atriz, então ele quer que eu vá para a técnica…”. Na verdade, ele dizia pra mim: “Cris, você tem uma visão maior do que só de atriz. Usa isso… vamos usar isso”. E foi assim que entrei para ser assistente de direção da novela “Amazônia” da Rede Manchete. No meio da novela ele se desentendeu e saiu, e entraram pessoas do cinema que foram a Tizuka Yamasaki, o José Joffily, a Tânia Lamarca, o Rudi Lagemann, a Betse de Paula, enfim, eu passei a conhecer essas pessoas.

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Como estava num momento de baixa no cinema nacional (que foi a Era Collor), e vinha logo em seguida a retomada do cinema, fui convidada para ser assistente de direção de um filme chamado “Buena Sorte” da Tânia Lamarca. Isso tudo sem ter visto uma câmera, nem na TV e nem no cinema, mas eu me saí bem… e aí fui chamada para outro filme e mesmo assim não larguei a minha carreira de atriz…, mas teve um momento que tive que optar entre ser assistente de direção ou ser atriz. Eu acho que foi aí minha virada, ou seja, quando eu não invejava mais quem estava diante das câmeras e sim quem estava atrás das câmeras. Eu comecei a aprender e aí foi… Fiz 29 longas como primeira assistente de direção. Fui muito bem conceituada como assistente de direção e em determinado momento fui convidada a dirigir um filme. Foi assim que me tornei diretora. Foi tudo fluido. Não foi uma coisa pensada. Nunca pensei em ser diretora. A vida foi me encaminhando para ser diretora… foi assim.

Como define o ato de dirigir?

Na verdade, eu acho que o ato de dirigir se assemelha ao ato do maestro. Você tem que saber orquestrar uma equipe. Tem que saber dirigir um ator. Tem que saber fazer a “mise-en-scène”, a marcação desses atores para a câmera. Eu acho que o fato de eu ter feito teatro muitos anos e ter sido atriz, foi um facilitador na minha vida. Gosto muito de ator. Gosto muito de interpretação e gosto muito da técnica – de posicionamento de câmera, da mise-en-scène, enfim… E acho que dirigir não é um ato solitário como todo mundo acha. Eu acho que decupar o que você vai dirigir, sim, mas quando você chega em um set de filmagem, acho que é uma equipe que você tem que orquestrar para que aquilo ali seja da melhor maneira possível e bom para todos. Eu respeito o diretor de fotografia, eu respeito a direção de arte, eu respeito os técnicos de uma maneira geral, pois, acho que um filme a gente não faz sozinha. Eu acho que a gente pode pensar sozinho. Pensa, troca…, mas o ato de dirigir tem que ser um ato coletivo. O que você vê na tela nunca é o pensamento de uma só pessoa, e sim o orquestramento de uma só pessoa. Agora o ato é coletivo.

Quando você acredita que o ator cria uma conexão com o diretor?

Eu acho que o ator cria a conexão com o diretor, a partir do momento que ele aceita o trabalho, porque ele confia no trabalho. Pelo fato de eu ter sido atriz, eu entendo aquele mundo ali. Eu sei que o ator é um ser em ebulição. Acho que você tem que respeitar as opiniões do ator. Eu acho que você como diretor troca, deixa aberto esse canal com o ator e isso faz com que essa conexão se estabeleça. Eu nunca tive problema com nenhum ator, pelo contrário, eu sempre aprendi muito com eles e vou continuar aprendendo… é isso!

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No primeiro filme que dirigiu, essa conexão foi imediata?

Eu vou dizer que foi imediata. No meu primeiro longa que foi o “Sem Controle” (que é um drama psicológico), os atores que chamei para fazer o filme foi basicamente atores de teatro porque ele [o filme] trabalhava com os dois mundos que são o teatro e o cinema. O Du Moscovis (no caso o famoso ator e dublador Eduardo Moscovis) que já havia chamado para diversos trabalhos com outros diretores quando eu ainda era assistente de direção, convidei meio incrédula achando que ele não fosse topar (porque ele negava tudo). Nunca tinha conseguido trabalhar com ele e foi minha surpresa quando ele leu o “Sem Controle” e adorou, pois, o seu personagem é muito rico. Eu gosto de dirigir atores, pois, eu acho que faço isso direitinho [Risos]. Foi tudo muito fluido. Eu me cerquei e tive a Marcia Rubin que é uma pessoa que trabalha o corpo, já que acho que às vezes no cinema, o corpo fica diferente da sua interpretação e eu acredito nessa junção, talvez até pelo fato da câmera te engessar um pouco, já que você está com uma lente e a lente só te pega em plano médio. Então você não trabalha tanto o corpo com medo de exagerar e eu sou contra essa corrente. Eu acho que o muito que o ator te oferece, você pode limpar e chegar numa coisa boa. Acredito que quando o ator não te dá o muito com medo de não ficar exagerado e de achar que você não vai saber “limpar” é que pode te atrapalhar. Eu acho que sempre limpei direitinho, porque acredito no trabalho corporal do ator com o verbal e com o interno entendeu? Então foi uma conexão muito imediata.

Para onde caminha o cinema nacional?

Para onde caminha o cinema nacional eu realmente não sei [Risos]. Eu acho que estamos indo de vento em popa. Eu acho que as comédias estão prevalecendo ainda no mercado, mas como prevaleceu na época do Mazzaropi, do Oscarito… Acho que a gente tem esse dom da comédia e o público gosta de assistir comédia. Acho que tem que haver um equilíbrio. Acredito que vamos chegar nesse equilíbrio, porque o bom cinema é o bom cinema seja na comédia, seja no drama, seja na tragédia. Os argentinos, por exemplo, trabalham muito bem o dia a dia (é a forma deles). Eu acho que a gente tem uma forma alegre, mas eu espero que caminhe para uma diversidade e não só comédia, comédia, comédia. Eu amo comédia, me fiz na comédia, me faço na comédia, mas o meu primeiro longa, por exemplo, não é uma comédia, já que é um filme autoral. É um filme mais difícil de você captar e dos distribuidores quererem investir, porque, na verdade, cinema é uma indústria.

Por mais que no Brasil essa palavra não caiba muito bem, cinema é uma indústria. Ele (o cinema) tem que oferecer um leque maior. Eu espero que os distribuidores enxerguem isso e acho que já estão até enxergando. Temos bons filmes. Por exemplo, o “Tropa de Elite” que não é uma comédia foi um sucesso; o “Cidade de Deus” que também não é uma comédia foi um sucesso. Acho que o cinema caminha para bons filmes. Quanto mais filmes, melhor será o resultado mais à frente. É que nem você entrar na escola. Você entra no primário (que nem sei mais se é primário, acho que agora é fundamental) e você vai aprendendo e não existe outra maneira de se aprender pra mim que não seja fazendo. A teoria é ótima, creio que a gente tem que estar estudando sempre, mas o ato de fazer faz com que você faça cada vez melhor. Eu espero que o cinema vá de vento e popa no drama, na tragédia e na comédia!

Leia ou ouça também:  O amor pelo cinema de Rubens Ewald Filho

Acredita que haverá uma mudança significativa na forma de fazer cinema nos próximos 10 anos?

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Bom, eu acredito sim que haverá uma mudança, mas não sei se será uma mudança significativa. Mas conforme eu te expliquei na pergunta anterior, eu acho que o ato de abrir o cinema não só para poucos, não ficar só no eixo Rio-SP, usando também a Bahia, o Pernambuco, o Centro-Oeste, enfim, acho que essa amplitude nos traz novas histórias e nos traz novas formas de se enxergar o cinema… fora a tecnologia. Cada vez mais a gente tem uma tecnologia que nós podemos usufruir que é uma tecnologia americana e europeia, mas que a gente está conseguindo dominar um pouco mais. Faltam ainda os equipamentos (de uma forma geral) de ponta que eles têm lá fora e que aqui chegam um pouco atrasado… e o dinheiro né! Porque o que a gente faz com o dinheiro que a gente ganha para fazer num filme, é muito pouco em relação ao que eles ganham para fazer outros filmes. Acho que falta é dinheiro. Na verdade, essa mudança significativa virá com investimentos na área cinematográfica. Eu acho quem não só o dinheiro, mas a cabeça dos cineastas, as ideias, essa amplitude de ideias, as séries, tudo faz você pensar mais. Eu acho que essa mudança está vindo com o pensamento e com a demanda do que está acontecendo no Brasil: muitas séries, muitos telefilmes, muitos documentários… Acho que isso é um avanço e causa uma mudança.

A internet e seus serviços como Netflix terão um grande peso nessa mudança?

Sem dúvida. Acabei de falar isso na resposta acima. Eu acho que essa demanda da Netflix, da Amazon, da GloboPlay (que vai se tornar uma plataforma independente), enfim, eu acho que isso tudo nos movimenta e nos faz pensar em histórias, em séries, em documentários, eu acho fundamental e que isso, sim, está trazendo uma mudança substancial porque a demanda aumentou. Claro, vai ter muita porcaria, mas como também tem nos EUA. Você vê que chega para gente os bons filmes, mais olha a quantidade que eles fazem para poder ter 10 sucessos. Então eu acho que fazer faz a gente aprender!

Quanto do teatro você trouxe para o cinema?

Eu acho que eu trouxe tudo só não trouxe o palco [Risos]. Para mim o teatro é o berço da interpretação. Uma arte tão antiga, uma coisa que vem da Grécia… O ator (o bom ator), eu acho que a gente vê muito no teatro onde não tem o foco, não tem o close… então o cara tem que se destacar pelo seu talento. Eu realmente só não trouxe o palco porque eu uso tudo: as marcações dos atores… eu acho que se não tivesse tido essa noção espacial, talvez não tivesse facilidade. Eu tenho facilidade de marcar, de fazer a mise-en-scène por conta do teatro. Amém que fiz teatro e amém que eu assisto teatro e gosto muito!

Em que momento das filmagens você percebe que um filme está ficando com a sua cara?

Que pergunta difícil! Eu não sei, eu não sei de verdade. Até o momento que eu estou fazendo, que estou montando, eu ainda não acho a minha cara. Claro, é sempre a minha cara porque sou que faço. Mas eu acho que é quando ele está realmente pronto, quando eu coloco a música que eu quero, que eu faço a montagem que eu quero, que eu faço a abertura que eu quero, eu acho que só aí, eu acho que só no finalzinho mesmo. Eu não fico achando que “ah! este filme está a minha cara” quando estou rodando. Nessa hora acho que é intuição. A gente não tem esse pensamento: “Esse filme vai ficar a minha cara”. Acho que o filme depois fica a sua cara. É que nem fazer um filho. O filho você faz, está dentro da barriga (eu como mulher tenho dois) e a gente não sabe como vai nascer. Se vai nascer parecido com a gente, se vai nascer parecido com o pai…, mas o DNA é nosso e é isso que importa.

“Confissões de Adolescente” foi um marco na TV brasileira. Como foi a sensação de codirigir no cinema uma produção que marcou época e está na lembrança de tantas pessoas?

Olha, foi ótimo. Eu tenho uma sintonia muito grande com o Daniel Filho, já que eu trabalho com ele desde “Se eu Fosse Você” e a gente não se desgrudou até hoje. Às vezes a gente nem fala um com outro. Ele nunca viu o que filmei na época do “Confissões” e eu nunca vi o que ele filmou e a gente escolhia assim: “Hoje vai você, eu vou mais tarde…” O filme está lá. A gente não sabe quem dirigiu o quê, pois, às vezes eu não sei e nem ele. A gente fala: “Você não dirigiu essa cena”. Aí eu falo: “Não foi você”. Nesse sentido de codirigir com o Daniel, pra mim, é sempre muito prazeroso primeiro porque eu aprendo muito e aprendi muito com o Daniel Filho assim como com todos os outros diretores com quem eu trabalhei. Com a Carla Camurati, com o João Falcão, com o Pedro Bial, com a Tânia Lamarca… agora, era uma série de sucesso, realmente uma série de sucesso. Mas eu acho que as histórias vêm se contando se você não trair o público. Eu não podia fazer um “Confissões” de maneira diferente do que acho que foi feito assim como o “Sai de Baixo”.

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Eu também acabei de dirigir o “Sai de Baixo” e é o mesmo. O trabalho de direção no “Sai de Baixo” fica um pouco menor. A Magda já é pronta, o Caco Antibes já é pronto… eles sabem mais do personagem do que eu. Era uma troca. Eu só olhava, assisti muitos episódios para eu relembrar das personalidades, mas eu acho que sempre é muito prazeroso porque é quase já pronto e aí mesmo que é um trabalho de orquestração. Em “Confissões” foi o mesmo. Apesar de ter um elenco completamente diferente, a história do adolescente permanece: o primeiro beijo, a primeira transa… esses problemas familiares por mais que o tempo passe existem até hoje. Você pode tratar de maneira diferente, mas o problema existe.

Em que projetos vêm trabalhando atualmente?

Atualmente eu estou trabalhando na montagem do “Sai de Baixo” que eu acabei de rodar há alguns meses; estou dirigindo o filme “Os Parças 2”, que eu fui convidada pelo Tom Cavalcanti para dirigir. É isso. São muitos projetos pela frente mais esses são os imediatos. Eu não gosto de falar o que acontecerá muito para frente. Eu gosto de fazer e falar o que estou fazendo no momento e o que eu vou fazer no momento seguinte. Então é isso que eu tenho…

Última atualização da matéria foi há 1 ano


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