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Empresas adotam o chamado Twin Transition

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A entrevista exclusiva de Reynaldo Naves, sócio e Managing Partner da Olivia Brasil para o portal Panorama Mercantil, oferece uma visão abrangente sobre os desafios e oportunidades que as empresas enfrentam ao adotar a Twin Transition, que combina a transformação digital com a sustentabilidade. Reynaldo destaca que as pequenas empresas no Brasil enfrentam desafios iniciais de sensibilização, conhecimento e capacidade de investimento ao abraçar esse modelo de transformação. Ele ressalta a importância de sensibilizar os empreendedores brasileiros e de fornecer fontes de financiamento específicas. Além disso, a entrevista destaca o papel das empresas na conscientização sobre a sustentabilidade e como elas podem influenciar a mudança de mentalidade nos diversos setores. Reynaldo enfatiza que as organizações são veículos efetivos para sensibilizar, educar e mobilizar as pessoas em direção a comportamentos mais sustentáveis. A integração da sustentabilidade em toda a cadeia de valor também é um tópico abordado, com ênfase na importância de alinhar estrategicamente os líderes e envolver todas as partes interessadas para identificar oportunidades de inovação e melhoria. A entrevista enfatiza a importância de considerar a sustentabilidade como uma oportunidade de negócio assertivo no caótico, turbulento e mutável século XXI.

Reynaldo, que desafios específicos as pequenas empresas enfrentam ao adotar o modelo de transformação dupla, considerando a integração da tecnologia e da sustentabilidade?

A dificuldade das pequenas empresas no Brasil começam por 2 dilemas: sensibilização e conhecimento, depois da capacidade de investimento para fazer esta transformação dupla, fazendo parte da formação do empreendedor brasileiro para este tema de forma mais prática. Entendendo sua rede e cadeia de valor para aprofundar o impacto de seu negócio e como pode resolver isso de forma efetiva na empresa.

Para a capacidade de investimento, existem diversas possibilidades que vão desde linhas de financiamento específicas de instituições públicas e privadas, como o FINEP, FINAME, BNDES, etc. As plataformas setoriais, como SEBRAE, também ajudam muito na descoberta tanto de conhecimento como de fontes de financiamento.

Qual é o papel das empresas na conscientização sobre a sustentabilidade e como elas podem contribuir para a mudança de mentalidade nos diversos setores?

Nós da Olivia acreditamos que não são as organizações que mudam, e sim as pessoas. O setor privado vem ganhando relevância e impacto na transição em direção a novas tendências sociais, como sustentabilidade, diversidade, equidade e inclusão, apoiadas ou não por políticas públicas.

As transformações sociais encontram nas organizações, um veículo efetivo de sensibilização, educação e mobilização para mudanças de comportamento não somente de seus colaboradores, mas de todos os stakeholders do negócio. Diversas empresas como Natura, Raízen, Lojas Renner ou Pfizer, por exemplo, mobilizam novos comportamentos sociais através da sua cultura organizacional que transforma pessoas, e não a sociedade.

Como as empresas podem identificar as oportunidades de negócios na adoção da Twin Transition e integrar a sustentabilidade em toda a cadeia de valor?

O processo de identificação de oportunidades não começa, como muitos podem pensar, apenas pela ponta de solução de problemas ou projetos. Este é um paradigma que deve ser quebrado. O processo começa por alinhar estrategicamente seus líderes e conectar todas as pessoas com o papel delas na sociedade, e ao impacto que geram em cada passo da cadeia de valor. Se for efetiva nesta “polinização”, imagine o poder de captura de valor que cada colaborador pode ter para gerar oportunidades de inovação, melhoria ou mesmo ruptura para uma nova forma ou modelo de operação e negócios.

Quais são os principais avanços tecnológicos que têm mostrado maior eficácia na redução das emissões globais, de acordo com sua experiência?

Existem muitas frentes de inovação tecnológica, e fica difícil ser exaustivo na resposta a sua pergunta. Tenho me impressionado com 2 movimentos em setores diferentes: agronegócios e varejo. No agronegócio as inovações transcenderam a pesquisa e desenvolvimento das matrizes de alimentos ou nutrientes. Se por um lado, por exemplo, o CTC (Centro de tecnologia Canavieira) está desenvolvendo a “supercana”, o direcionamento da inovação está orientado em reduzir custos da plantação, aproveitamento de produtividade em áreas menores, redução de uso de água e nutrientes. Por outro lado, a cadeia de valor passa por uma revolução sem precedentes que integra produção, distribuição ou novas formas de treinamento remoto da força de trabalho. Isso não só reduz impacto das emissões, como cria novas oportunidades de trabalho. No varejo, imagine a convergência do 5G, omnicanalidade e Inteligência Artificial para reduzir tempos e custos de logística de toda cadeia de valor de grandes ecossistemas de varejo. Todas estas tecnologias atendem demandas de clientes, mas infinitamente mais precisa no tempo e em qualidade.

Por que é importante considerar a sustentabilidade não apenas como uma resposta aos desafios sociais, mas também como uma oportunidade de negócio?

Clientes ou consumidores, estão cada vez mais conscientizados sobre o tema da sustentabilidade e farão escolhas de consumo orientadas a isso. A escolha não é somente sobre os produtos ou serviços em si, mas sobre outros aspectos como impacto ambiental, responsabilidade social, propósito das organizações.

Quais são os exemplos mais inspiradores de empresas que estão liderando o caminho na adoção bem-sucedida da Twin Transition, tanto no Brasil quanto no exterior?

Hoje, são vários os países da Europa, da Ásia e da América que estão liderando a transformação gêmea em diferentes setores, e estão impulsionando o desenvolvimento de práticas mais sustentáveis e eficientes através da inovação tecnológica (Inteligência Artificial, Blockchain, impressão 3D, construção circular e robótica, entre outras) e a colaboração. Empresas como Siemens, Unilever, Ikea, Danone e Tesla, entre tantas outras, estão apostando fortemente na dupla transição, ao mesmo tempo, inovando em matéria de implementação tecnológica. Sem deixar de buscar enfrentar os desafios da mudança climática. Existem diversos exemplos ao redor do mundo, prefiro falar de setores econômicos como:

Energias renováveis: empresas que se dedicam à produção e distribuição de energia renovável, como a solar, eólica, hidráulica, geotérmica, entre outras, estão avançando para um modelo energético mais sustentável.

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Indústria automobilística: produzindo veículos elétricos e outras tecnologias de mobilidade sustentável para um sistema de transporte mais limpo e eficiente.

Tecnologia: inúmeras empresas e startups desenvolvendo tecnologias para a gestão inteligente de cidades, edifícios e redes de energia e transporte.

Alimentação e agricultura: como já comentei, desenvolvendo práticas de agricultura sustentável, produção de alimentos orgânicos, tecnologias para a redução de desperdícios e gestão de recursos.

Construção: construir edifícios energeticamente eficientes, edificações sustentáveis e tecnologias para a gestão de resíduos e o uso de materiais sustentáveis.

Por que a fusão das estratégias de sustentabilidade e transformação digital é essencial para gerar valor e benefícios reais nos negócios?

Já não há dúvidas de que a transformação digital e a sustentabilidade são estratégias centrais que são prioridade na agenda corporativa, e é difícil pensar num futuro sem ambas integradas. Quem for capaz de fazer isso de forma bem-sucedida, sem dúvida, terá uma vantagem em relação aos outros e maiores probabilidades de triunfo. As empresas que incorporarem eficientemente os avanços tecnológicos, serão as mais capazes de obter rentabilidade no futuro, segundo um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT). A questão atualmente não é se vale a pena ou não a Twin Transition! E sim como você fará na sua empresa e como medir os ganhos não somente da empresa e de seus stakeholders, mas da sociedade com um todo.

Quais são os principais obstáculos que as empresas podem encontrar ao buscar integrar a sustentabilidade e a tecnologia em seus modelos de negócios?

O estudo Estudio Sustainability in the Digital Age – Intended and Unintended Consequences of Digital Technologies for Sustainable Development, do Clube de Roma, montou um laboratório de ideias que reúne uma centena de cientistas, economistas, ex-políticos e industriais de 52 países e recomendou em uma carta aberta que precisamos nos assegurar de que as tecnologias exponenciais, a Inteligência Artificial e a digitalização sejam otimizadas para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade através da entrega de uma sociedade circular orientada ao bem-estar, baixa em carbono e sustentável e socialmente justa. Sinceramente entendo que o foco mais importante não são as resistências, mas sim como geramos oportunidades intencionalmente de impacto positivo para o todo, ou seja, a sociedade. E isso depende de sensibilização, conscientização e educação para as novas tecnologias e seus impactos. Vejamos o caso da IA e toda discussão em torno dela!

Por que você acredita que a consciência sobre a sustentabilidade está se expandindo rapidamente em diferentes setores empresariais?

Esta transformação pode ter um impacto muito significativo sobre o negócio, tanto a curto quanto a longo prazo. É que, cada vez mais, a tomada de consciência sobre a sustentabilidade está muito estendida entre os responsáveis de compras nas empresas. Segundo uma pesquisa da Amazon Business, da qual participaram 1.000 colaboradores de empresas espanholas em 2022, um de cada três empregados na Espanha leva em conta a sustentabilidade em suas compras empresariais, enquanto 80% afirmam levar em conta se os produtos e fornecimentos que adquirem para sua empresa são sustentáveis. Por isso, volto ao tema das pessoas e sua conexão com a transformação digital e a sustentabilidade. Estes temas devem fazer parte da estratégia e da cultura das organizações para estar em cada ação e decisão dos líderes e colaboradores. Acho inclusive que não é fazer a Twin Transition, mas sim ser Twin Transition em cada momento!

Quais são as principais visões que as empresas brasileiras podem tirar das experiências das empresas europeias, asiáticas e americanas que adotaram a transformação gêmea?

Acho que existem 2 movimentos importantes:

O primeiro deles, é a sensibilização e mobilização dos agentes públicos, privados e organizações da sociedade civil para criar ou otimizar políticas públicas de investimento, operação consciente de negócios de setores essenciais, e “core” do Brasil. Esta pauta deveria criar planos estratégicos setoriais que façam convergir transformação digital e sustentabilidade.

O segundo movimento é do setor privado na visão de um novo modelo de rentabilidade e resultados de negócio que não seja apenas financeiro mas também de impacto ESG. Isso estimula um novo mindset direcionado a valor e não apenas resultados. Neste caso, o continente europeu está bem à frente nesta discussão há pelo menos 15 anos.

Como você vê o futuro da Twin Transition e seu impacto a curto e longo prazo nos negócios no Brasil?

Vejo como um processo inexorável e irreversível. É uma condição para manter-se no jogo dos negócios, e cada vez mais tecnologias inovadoras, como Inteligência Artificial, Blockchain, impressão 3D, 5G, etc. Estarão disponíveis e acessíveis às empresas e setor público. A questão, a meu ver, não será financeira ou de disponibilidade tecnológica, e sim, capacidade gerencial, dos setores público e privado, de se organizarem para avançar rapidamente para o contexto de Twin Transition.

Última atualização da matéria foi há 6 meses


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