França quer “jogar” criminosos na Guiana

O anúncio do governo francês sobre a construção de uma prisão de segurança máxima na Guiana Francesa acendeu um debate incômodo e necessário sobre a persistência de práticas de gestão colonial camufladas de política de segurança. Prevista para ser inaugurada em 2028, em Saint-Laurent-du-Maroni, cidade encravada na selva amazônica e marcada historicamente pela presença do infame Campo Penal da era colonial, a nova unidade deverá abrigar até 60 dos presos mais perigosos da França continental — incluindo traficantes de drogas e condenados por radicalismo islâmico.
Sem voz, sem escuta,
a colônia ainda serve
à ordem distante.
A proposta, apresentada pelo ministro da Justiça Gérald Darmanin como uma “estratégia para isolar os chefes das redes de tráfico”, expõe mais do que um plano carcerário: revela um gesto simbólico de profundo desrespeito à população local e uma visão ainda metropolitana da gestão de seus territórios ultramarinos.
A construção de uma prisão de 450 milhões de dólares em uma região com problemas estruturais crônicos parece ignorar as prioridades sociais, educacionais e econômicas da Guiana Francesa. Mais do que combater o crime, transfere-se o problema geograficamente — e com ele, o estigma.
A indignação de autoridades locais é compreensível. Tanto Jean-Paul Fereira quanto Jean-Victor Castor apontam, com razão, a ausência total de diálogo prévio e a sensação de que o território está sendo usado como “depósito” para os criminosos indesejados da França continental.
A iniciativa remete, inevitavelmente, ao passado sombrio da colônia penal, onde presos políticos foram enviados à força — um simbolismo histórico que deveria ter sido tratado com cautela.
A Guiana Francesa, que já possui o maior índice de criminalidade proporcional da França, pede medidas concretas de segurança, sim — mas não à custa de importar um problema que não é seu. Reiterar políticas punitivistas desconectadas das demandas locais apenas reforça a imagem de um governo central que enxerga seus territórios ultramarinos mais como solução logística do que como parte integral da República.
Diz Paris: “punir”.
Mas quem vive sob as grades
não foi consultado.
O erro não é apenas político: é moral.

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