Sua Página
Fullscreen

Terra em Transe: Glauber previu o hoje?

Anúncios
Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

O cinema de Glauber Rocha não apenas marcou a história da sétima arte, mas também projetou um retrato visceral e profético da realidade política e social do Brasil. Lançado em 1967, Terra em Transe é um dos filmes mais impactantes do Cinema Novo, movimento cinematográfico que buscava uma linguagem inovadora para denunciar as contradições do país. A obra apresenta um Brasil ficcional, Eldorado, que poderia facilmente ser interpretado como uma metáfora da própria América Latina, mergulhada em crises políticas, traições ideológicas e um permanente conflito entre o desejo de revolução e o conformismo.

A trama gira em torno do poeta e jornalista Paulo Martins, vivido por Jardel Filho, um intelectual que oscila entre o compromisso político e o desencanto diante da realidade corrupta e autoritária. Ao longo da narrativa, ele transita entre diferentes figuras de poder: o populista Felipe Vieira, o oligárquico Porfírio Diaz e o industrialismo neoliberal de Julio Fuentes. A partir desse tríplice jogo, Glauber Rocha estrutura um painel feroz da política brasileira, denunciando a ilusão do messianismo e a fragilidade das promessas de redenção.

O filme foi recebido com entusiasmo e críticas acaloradas, especialmente pelo seu estilo estético frenético, marcado pelo uso de câmera na mão, montagem abrupta e atuações teatralizadas. Glauber Rocha, influenciado por Brecht, Eisenstein e pela vanguarda francesa, rejeitou a narrativa convencional e transformou Terra em Transe em um grito de revolta, ao mesmo tempo, lírico e desesperador. No contexto histórico, sua estreia ocorreu em meio à ditadura militar, um período de intensas tensões políticas no Brasil, tornando sua mensagem ainda mais contundente. Mas, ao olharmos para o Brasil de 2025, podemos dizer que Glauber previu nosso destino? A obra se mantém atual? E o que seu discurso ainda pode nos ensinar sobre o país?

O delírio político de Eldorado como reflexo do Brasil

Eldorado é um espaço simbólico, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente familiar. As figuras políticas que Glauber Rocha retrata em seu filme podem ser facilmente associadas a personagens da história recente do Brasil. O populismo ingênuo, o liberalismo selvagem e a ditadura disfarçada de ordem se repetem ciclicamente no cenário político nacional. Em Terra em Transe, essas forças se chocam de maneira quase histérica, refletindo uma nação em permanente estado de crise.

Paulo Martins: o intelectual derrotado e a impotência da crítica

Paulo Martins é o protagonista ideal para um filme que retrata o caos ideológico. Ele deseja transformação, mas se vê encurralado entre concessões e traições. Sua figura é a do intelectual incapaz de mudar o mundo, um observador crítico que, no fim, se torna vítima de sua própria ilusão. Glauber Rocha parece antecipar a frustração dos que tentam compreender e modificar o Brasil, mas acabam consumidos pelo sistema.

Anúncios

A estética da revolta: forma e conteúdo se misturam

O cinema de Glauber Rocha rompe com padrões tradicionais. Em Terra em Transe, o ritmo é acelerado, as imagens são caóticas, a montagem é abrupta. O filme rejeita a linearidade e mergulha em um frenesi visual que traduz a turbulência política. Esse uso radical da linguagem cinematográfica reflete o próprio estado de confusão e desesperança do Brasil retratado na tela.

Leia ou ouça também:  A chacina que consagrou Truman Capote

A censura e o impacto do filme na época

Lançado em plena ditadura, Terra em Transe sofreu dura censura e resistências. Glauber Rocha foi acusado de ser subversivo, e sua obra foi alvo de tentativas de silenciamento. No entanto, o impacto do filme ultrapassou as barreiras impostas pelo regime militar, consolidando-se como um marco da cinematografia nacional. Sua recepção no exterior também foi expressiva, reforçando a relevância global do Cinema Novo.

Glauber Rocha e o messianismo político brasileiro

A figura do líder messiânico está presente em toda a história política do Brasil. Em Terra em Transe, Glauber critica essa esperança cega em salvadores da pátria, mostrando como as promessas revolucionárias muitas vezes terminam em desilusão. O roteiro sugere que a política brasileira está presa em um ciclo onde os mitos se desfazem e dão lugar a novos oportunistas.

O Brasil de 2025 e a atualidade da distopia glauberiana

Olhando para o Brasil atual, Terra em Transe continua incrivelmente pertinente. A fragmentação ideológica, o extremismo político e a crise de representatividade são elementos tão presentes hoje quanto na década de 1960. O delírio político de Eldorado ainda ressoa na realidade brasileira, tornando o filme uma profecia inquietante.

Um filme que nunca deixa de ser atual

Mais de meio século após seu lançamento, Terra em Transe segue sendo um dos retratos mais contundentes da política brasileira. Glauber Rocha criou uma obra que transcende sua época, antecipando o caos que continuaria a marcar o país. Em 2025, seu legado permanece vivo, provando que o cinema pode ser, ao mesmo tempo, arte e profecia.

Anúncios

Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

Facebook Comments

Espaço Publicitário:
Anúncios
Pular para o conteúdo
Verified by MonsterInsights