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A inventividade sem limites de Guto Lacaz

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O paulistano Guto Lacaz é formado em arquitetura pela FAU/USP, além de ser artista plástico. Em seu conjunto de obras podemos encontrar esculturas lúdicas, videoinstalações, multimídia, eletroperformances, projetos e instrumentos científicos. Participou de diversos eventos, entre eles SKY ART na USP (1986), e Water Work Project, Toronto, Canadá (1978). Lecionou comunicação visual e desenho de arquitetura na Faculdade de Artes Plásticas da PUC/Campinas, em 1978-80. Foi professor do curso A Técnica e a Linguagem do Vídeo, no festival de inverno de Campos do Jordão, em 1983. Foi editor da revista Around AZ. O trabalho de Lacaz é a experiência mais negativa que se conhece no Brasil (negativa no sentido de portadora de uma negação) em relação a toda a religião da produtividade que embasa as sociedades industriais. “Há 15 anos atrás, o psicanalista Roberto Freire me convidou para participar da revista Caros Amigos que estava criando com o jornalista Sérgio de Souza. Eu poderia fazer o que quisesse – logo decidi que queria ter uma página para publicar um desenho. No ano passado Alice Costa e Ayrton Bicudo da Dash Editora, me pediram um projeto editorial e eu disse – os desenhos da Caros Amigos – era só selecionar e editar. (…) Não sou só eu – todo artista espera que o público faça uma leitura bem pessoal de sua obra – esse é o retorno esperado – a comunicação entre obra e público”, afirma o designer.

Ilustrador, designer, cenógrafo e desenhista. Muitos o chamam de “O maior multiartista do Brasil”, gosta desse título? E como fazer para passar a sua linguagem única nas mais variadas formas de expressão?

Na verdade sou arquiteto (com uma passagem de 4 anos no colegial técnico de eletrônica) e artista plástico por acaso. Na minha faculdade em São José dos Campos, tínhamos um curso de comunicação visual onde aprendíamos o projeto de marcas/logos, cartazes, ilustrações, editoração, etc. Na verdade sempre é a mesma coisa: resolver uma questão – a solução pode aparecer em diferentes mídias e suportes. Acredito também, ser um pouco de exagero quando me chamam de “O maior multiartista do Brasil”. Seria melhor ser um deles.

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O senhor disse que se surpreende em ter comprado bens, criado uma filha, e ter o conforto da vida moderna, tudo isso conseguido graças ao seus desenhos. Não confiava muito no seu talento no começo da carreira?

O senhor está pregado na cruz! injustamente. Sempre desenhei mas nunca entendi que poderia ganhar a vida com desenho – como disse passei pela eletrônica – queria ser engenheiro eletrônico, aeronáutico, naval…

Por que a arte é relegada ao segundo plano em nosso país?

No Brasil tudo é relegado a segundo, terceiro, quarto plano – educação, habitação, saúde, transporte, saneamento – com a arte não seria diferente.

Você afirmou em uma certa ocasião que não é um artista apenas, é isso mas também é um “marginal chic”. O que seria um marginal chic?

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Não me lembro de ter falado desta forma, mas vamos ao marginal chic. Quando tenho um projeto pessoal sou eu quem faz tudo, ou melhor, comanda e paga tudo: fazer o projeto, formatar, levar na instituição que possui o espaço desejado, entregar, pedir o protocolo, enviar um e-mail pedindo a confirmacão do recebimento, aguardar sentado durante meses ou anos por uma resposta, etc. Marginal no sentido que não tenho nenhuma galeria, produtora ou instituição por trás de mim. Tenho sempre que começar do zero – não é uma reclamação é uma constatação – muitos colegas fazem da mesma forma não tendo uma produtora por trás, muitos centros culturais não aceitam o artista como indivíduo. Chic no sentido que vivo bem. Mas infelizmente, não sou convidado para muitas coletivas históricas e temáticas que gostaria de estar presente.

Muitas vezes o senhor afirmou que quer obter da pessoa o que ela quiser ver em seus desenhos. Essa postura de não imposição do artista é uma norma interessante do seu trabalho. Como consegue isso, já que muitos outros artistas atualmente fazem o contrário?

Não sou só eu – todo artista espera que o público faça uma leitura bem pessoal de sua obra – esse é o retorno esperado – a comunicação entre obra e público. O que acontece é que muitas vezes as obras e exposições já vêm embrulhadas em conceitos enunciados pelos curadores, e parece que todo mundo tem que concordar com o que eles dizem – a opinião deles é apenas mais uma e não a única. As opiniões do público muitas vezes são mais poéticas e surpreendentes que as dos artistas sobre suas obras.

Leia ou ouça também:  Sarkis Semerdjian desponta na arquitetura

Na sua obra intitulada OFNIs (Objetos Flutuantes Não-Identificados) podemos ver claramente uma tendência surrealista. O senhor é influenciado por Dalí, Duchamp e outros, e tirá alguma coisa do seus trabalhos, para tentar moldar ao seu estilo, como fez nesse que citamos?

Sou neto da vanguardas – Construtivismo, Surrealismo, Dadaísmo e depois Pop, Fluxus, Patafísica e Minimalismo – e estou sempre revendo as obras desses mestres e procurando reinterpretá-los. Você poderá em meu site ver o video da expo Eletro Livros, que realizei em 2012 no Maria Antonia – uma homenagem a todos eles – www.gutolacaz.com.br – artes plásticas – objetos.

Você levou 6 meses produzindo as ilustrações de “Peter e Wendy”, fale um pouco dessa rotina de criação.

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Foram 6 meses bem espaçados para conciliarmos as agendas das editoras, do fotógrafo e a minha. Eu desenhei sobre papéis coloridos, depois recortava as imagens e as montava em diferentes planos para termos profundidade, tridimensionalidade e sombras. Sempre surgiam novas situações a serem ilustradas e mais recortes eram feitos.

Dois anos atrás você afirmou que o grafite já deu o que tinha que dar, a não ser um Banksy [famoso artista de rua britânico] com toda sua genialidade. O que mais lhe incomoda nessa forma de expressão?

O que me incomoda é que o grafite, em especial o de São Paulo, não é crítico é mais egoico – grandes áreas sem razão de ser – também a constante sobreposicão de imagens impede uma leitura das partes – gosto do que muita gente odeia que é o grafite tipográfico no alto dos prédios – esse sim é um grito de guerra!

Por qual motivo o senhor gosta de ser identificado como “artista prático?”.

Isso de ser chamado de “artista prático”, foi uma invenção de Grace Gianoukas, para o prêmio ‘Os Melhores do Ano do Grupo Harpias’ – aí pegou! – acho simpático. Já o jornalista Carlos Moraes para um editorial, criou o termo “humorista plástico”.

Como a formação de arquiteto ajudou a projetar e realizar as suas ideias?

Muito – praticamente tudo que faço é projeto – croquis, desenho técnico, vistas, perspectivas, escala, maquetes, modelos experimentais, etc.

Muitos críticos dizem que o seu trabalho desmonta, desorganiza e desconstrói o sistema produtivo industrial, concorda com essa afirmação?

Concordo. Boa parte de meu trabalho apresenta ou reapresenta objetos conhecidos de forma inusitada – isso produz as vezes desconforto, às vezes boas risadas, e às vezes bons textos críticos.

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Fale para nós sobre “80 Desenhos” um dos seus mais recentes trabalhos.

Há 15 anos, o psicanalista Roberto Freire me convidou para participar da revista Caros Amigos que estava criando com o jornalista Sergio de Souza. Eu poderia fazer o que quisesse – logo decidi que queria ter uma página para publicar um desenho. No ano passado Alice Costa e Ayrton Bicudo da Dash Editora, me pediram um projeto editorial e eu disse – os desenhos da Caros Amigos – era só selecionar e editar. Em dois meses estava pronto!

Podemos dizer que transgredir e chocar é o seu lema de trabalho?

Podem dizer o que você quiserem.

Última atualização da matéria foi há 3 anos


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