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Criolo faz da música uma conexão entre as pessoas

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Kleber Cavalcante Gomes é um rapper que vem se destacando no cenário musical do nosso país. Criolo Doido (como era conhecido) começou a cantar rap em 1989, sendo que até o início da década de 2000, era praticamente desconhecido. Trabalhou como educador entre 1994 e 2000. Em 2006, lançou seu primeiro álbum de estúdio, intitulado Ainda Há Tempo e fundou a Rinha dos MC’s existente até hoje. Em 2011 lançou seu segundo disco, “Nó na Orelha”, gratuitamente através da internet e mudou seu nome artístico para apenas “Criolo”. No disco, o cantor diversificou os ritmos do rap com vários outros, como a MPB, funk, soul e blues. Este disco teve excelente recepção pela crítica (inclusive estrangeira). Com o disco, Criolo foi um dos campeões de indicações ao Video Music Brasil 2011 da MTV, sendo indicado nas categorias “Videoclipe do Ano”, com “Subirusdoistiozin”, “Artista do Ano”, “Álbum do Ano”, com “Nó na Orelha” (venceu), “Música do Ano” com “Não existe amor em SP” (venceu), e como “Banda ou Artista Revelação” (venceu). “Eu agradeço por estar vivo, passamos por muitas coisas na vida e o mundo é hostil, a sensação de ser “ninguém” sempre esteve presente na vida de quem (sub)existe. (…) Minha família passou por muitos momentos difíceis: fome, repressão, preconceitos dos mais diversos tipos. Muita gente me estendeu a mão, se não fosse isso eu seria apenas mais um”, afirma o rapper. 

Há dois anos, você disse que cantava para expressar uma dor que sentia. Acredita que essa dor algum dia vai passar, ou ela será para sempre o seu principal combustível para a realização da sua arte?

Eu não sei, às vezes parece que não. Às vezes dá a impressão de que essa dor só aumenta. O que ajuda é perceber que mesmo com tantos defeitos, erros e equívocos, temos o dom do perdão que muito nos ajuda no processo dessa passagem e isso é motor pra vida, em todos os aspectos, perceber que podemos nos melhorar.

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Você é um músico que aparenta ter os pés no chão, diferentemente de outros que ficam com ego inflado quando o sucesso chega. Acredita que a sua origem ajuda neste momento?

Minha família passou por muitos momentos difíceis: fome, repressão, preconceitos dos mais diversos tipos. Muita gente me estendeu a mão, se não fosse isso eu seria apenas mais um na fila da frustração a caminho do silêncio forçado.

Seria correto dizer que depois do disco “Nó na Orelha”, o mainstream teve que te “engolir” no bom sentido, ou seja, você está fazendo a música que quer, e ela não está sendo imposta por ninguém para chegar ao maior número de pessoas possíveis?

Seria correto dizer que estamos aí até quando nos permitirem estar.

“O absurdo virou a regra e a sanidade a exceção.” Fale mais sobre essa sua frase.

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Antes das caravelas já rolava esse papo. Espelho, incenso, cachaça…

A maioria das pessoas que vão aos seus shows, dizem que se emocionam muito com as suas canções. Como você se sente no palco, sabendo que é um mensageiro desse momento tão especial para milhares de espectadores e ouvintes?

Eu apenas canto minhas canções graças a solidariedade das pessoas.

Você já rala (essa é a palavra) há mais de 20 anos no mundo da música. Não fica meio pensativo quando alguém diz que o seu sucesso aconteceu de repente?

Eu agradeço por estar vivo, passamos por muitas coisas na vida e o mundo é hostil, a sensação de ser “ninguém” sempre esteve presente na vida de quem (sub)existe. Tiroteios, mortes, sofrimento, insegurança e nada muda. Então só de existir a possibilidade de pessoas ouvirem música num mundo assim temos que agradecer.

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Algo que você disse sobre o álbum “Nó na Orelha”, muitos outros artistas também dizem: que ele não foi um trabalho imposto. Você acredita que esse é o segredo para que uma arte seja cada vez mais vista, ouvida ou lida?

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Não tem regra, ou te toca ou não te toca. Repito, só o fato de ter tido a oportunidade de dividir minha música já é, por si só, algo sublime. Precisamos parar de associar esse pensamento fordiano à poesia.

A arte deve ter algum papel social?

Se a arte é construída pelo homem – ser social – não tem como não ter um papel social.

Eu sei que falamos várias vezes em sucesso, mas parece que você não gosta muito dessa palavra. O sucesso te incomoda?

Sucesso é meus pais não terem desistido de mim.

Outra palavra muito dita a seu respeito (tanto por jornalistas especializados como pelo público de modo geral), é gênio. Você se considera um gênio?

Temos um roadie iluminado chamado “Nino” e um diretor de palco chamado “Paul Lewis”, esses são os verdadeiros gênios.

Você tem um carinho muito especial pelo samba tanto em suas canções, como também em participações com outros músicos. De onde vem essa paixão por esse ritmo musical?

Brasil, São Paulo, Zona Sul, Favela, tataravô escravo, pai metalúrgico e mãe benzedeira. Vem daí toda paixão que eu sinto.

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O single ‘Não existe amor em SP’ é um dos mais falados pela imprensa e sempre é lembrado pelo público. Acredita que isso se dá porque muita gente sabe e sente que nessa cidade não existe amor?

Teríamos que perguntar um por um.

Você não tem um projeto definido quando se prepara para um novo trabalho, sempre preferindo deixar as coisas rolarem. Agindo assim, você acredita que o seu trabalho sairá com o frescor daquele momento?

Falam sempre de uma nova era e se esquecem do eterno. Não tem nexo criar expectativa por algo que não está em nossas mãos. A poesia não está em minhas mãos, eu é que estou nas mãos dela.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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