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Carlito Carvalhosa analisa a arte e a cópia

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Luiz Carlos Cintra Gordinho Carvalhosa (mais conhecido como Carlito Carvalhosa) é um pintor e gravador renomado. Estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU) e no ateliê de Sérgio Fingermann. Nos anos 1980, integra o grupo Casa 7 e, no fim da década, recebe bolsa do Deutscher Akademischer Austauschdienst, vivendo na cidade de Colônia, na Alemanha, até 1992. Carvalhosa participou da 18ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1985, da Bienal de Havana, em 1986 e 2012, e da Bienal do Mercosul, em 2001 e 2009. Teve exposições individuais no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, em 2013, e no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 2011. “As instituições culturais no Brasil são mais casca que substância: há muitos prédios, mas muito poucos têm um funcionamento consistente durante um período longo. Gasta-se uma fortuna na obra, e depois tudo fica largado. Nas artes há no entanto instituições funcionando bem há mais de 20 anos: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o CCBB e o Instituto Moreira Salles em várias cidades, o MAM de São Paulo, o SESC de São Paulo. O MASP está se recuperando muito bem, a Bienal bem ou mal vem ocorrendo desde os anos 50”, afirma o artista plástico e escultor que é criador de obras que envolvem o espectador numa sucessão de interações dos sentidos.

Carlito, em que momento o seu ofício lhe chamou para a sua missão?

Foi uma coisa que aconteceu naturalmente, o que os artistas fazem talvez venha do desejo de não ter ofício, de buscar o que não está ali, correndo o risco de que não esteja mesmo.

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Qual a influência da FAU em sua carreira?

Minha experiência na FAU foi suficiente para saber que não poderia ser arquiteto, mas o tempo que passei lá – e meu interesse por arquitetura – foi importante para o que faço. Por essa experiência, com seus altos e baixos, sou um crítico mais feroz de arquitetura do que de arte. Meu encanto com a arquitetura moderna vem junto ao desencanto com o urbanismo moderno, uma distinção que se vê no meu trabalho, onde lugar e espaço costumam estar em tensão. A arquitetura moderna, quando boa, é magnífica, transcendente, aspira à atemporalidade, à transparência, ao vazio e ao infinito. Aplicados no urbanismo, esses ideais não sei porque levam a um vazio no vazio, à dificuldade de formalização, bem expressa naqueles gráficos, fluxos e números que os urbanistas tanto usam. A cidade do século XIX é criticada por querer simular uma sala de visitas burguesa, mas é justamente nessa transposição (o conceito de espaço fechado imposto ao espaço aberto) que está o interesse dessas cidades. Já a cidade moderna, com seus vazios abandonados e incompreensíveis, é inegavelmente interessante, como desastre.

Quanto o estudo e uma faculdade são importantes na vida de um artista?

Hoje a maioria dos artistas passa por uma escola ou faculdade de artes, ao contrário do que ocorria antes. Não vejo problema algum nisso, há mais informação, as pessoas são mais preparadas, mas no fim para cada trabalho uma vida inteira é necessária.

A arte deve exercer algum papel político ou social em sua essência?

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A arte prevê o futuro. É sempre política e social.

Quais os maiores desafios de um artista num mundo cada vez mais conectado?

Saber lidar com o tempo.

Em que momento você considera ter encontrado a sua forma de fazer arte que é única?

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Já no começo do meu trabalho notei que havia coisas que sempre voltavam. Com o tempo a gente aceita que não há como ser uma outra pessoa. Por isso se pode copiar à vontade – você nunca fará igual. O princípio da arte é a cópia.

O Estado ou a iniciativa privada devem ser os maiores difusores culturais de um país em sua visão?

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Acho um engano a oposição entre Estado e iniciativa privada. São dois aspectos estruturais da vida em sociedade. Não há iniciativa privada ou mercado sem um Estado que funcione, e o Estado sem o indivíduo é um pesadelo distópico. Para o Estado funcionar há que se fazer política, pois não há solução tecnicamente pura, a política é o lugar da escolha, da recusa. Temos que dar um jeito de viver em sociedade.

Qual a análise que faz dessa difusão no Brasil?

As instituições culturais no Brasil são mais casca que substância: há muitos prédios, mas muito poucos têm um funcionamento consistente durante um período longo. Gasta-se uma fortuna na obra, e depois tudo fica largado. Nas artes há no entanto instituições funcionando bem há mais de 20 anos: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o CCBB e o Instituto Moreira Salles em várias cidades, o MAM de São Paulo, o SESC de São Paulo. O MASP está se recuperando muito bem, a Bienal bem ou mal vem ocorrendo desde os anos 50.

Citei Rio e São Paulo porque são as cidades que conheço melhor, há outras instituições em outras cidades que não conheço tão bem. O interesse do políticos, não só nas artes, é fazer a obra, por razões que conhecemos bem. Basta ver os estádios abandonados que foram feitos para a Copa do Mundo, ou a desproporção entre o custo da obra e a dificuldade de manutenção da Cidade das Artes, no Rio. Já a iniciativa privada vem tendo mais presença, com galerias mais estruturadas, algumas instituições particulares muito boas como Inhotim, IMS etc. O ideal seria ter essas instituições particulares e públicas funcionando de forma mais coordenada.

Quais falhas são inadmissíveis em uma criação que tende a ser autoral?

Não correr risco.

Nós temos três corpos (animal, racional e espiritual). Acredita que no artista o espiritual prevalece?

Como todo mundo o artista tem um corpo. Bem animal.

Última atualização da matéria foi há 3 anos

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