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David Schurmann analisa o ato de dirigir no cinema

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David Schurmann nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, e é integrante da família Schurmann, famosa por velejar ao redor do mundo. Com treze anos de idade, começou a filmar suas viagens e aprendendo, na prática a profissão. Aos 18 anos, iniciou seus estudos cinematográficos na Nova Zelândia e nos Estados Unidos, onde completou sua formação formal e acadêmica. Estreou no cinema em “O Mundo em Duas Voltas” (2007), documentário que narra a trajetória da família Schurmann durante sua viagem dando volta ao mundo em um veleiro. Ficou conhecido por dirigir o longa de horror “Desaparecidos” (2011), pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival Cine PE. Em 2016, seu filme “Pequeno Segredo”, foi escolhido como representante brasileiro na disputa por uma das vagas na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2017. Desde o ano 2000, é responsável pela administração das empresas da família Schurmann. “A maior celebração é a de ter a honra de poder contar histórias, dar vida a personagens complexos e reais e de ter a oportunidade de expressar minha arte na grande tela. Não existe nada mais incrível do que uma pessoa ser tocada pelo seu filme. Tocar a alma, emocionar, fazer as pessoas refletirem ou abrirem suas mentes. Quando sua obra faz isso, a celebração é imediata”, afirma o cineasta, explorador e palestrante.

David, quais foram as suas maiores frustrações e celebrações ao se dedicar ao mundo cinematográfico?

A maior celebração é a de ter a honra de poder contar histórias, dar vida a personagens complexos e reais e de ter a oportunidade de expressar minha arte na grande tela. Não existe nada mais incrível do que uma pessoa ser tocada pelo seu filme. Tocar a alma, emocionar, fazer as pessoas refletirem ou abrirem suas mentes. Quando sua obra faz isso, a celebração é imediata. Confesso que sinto uma certa frustração quando – às vezes – percebo uma classe desunida, uma indústria dividida. Estamos todos no mesmo barco, batalhando pelo mesmo ofício: a arte de fazer cinema no Brasil. Mas lamento que nem todos enxerguem esse objetivo maior, essa missão comum. Mas a maior frustração de todas é o financiamento para fazer um filme, a parte que mais demora.

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Em que momento o cinema ocupa um papel social?

Quase sempre! Quando mostramos uma cultura, diversidade e um povo na tela grande, ele está desempenhando um papel social de expor, provocar, questionar e, às vezes, enaltecer aquele povo. Outro exemplo é quando o cinema leva a nossas histórias e arte para fora do Brasil, ele está desempenhando um importante papel social de dizer para o mundo que nós existimos e de como é essa nossa cultura. Existe também o momento de quando ele arranca uma gargalhada, aliviando a alma de um povo sofrido. Quando ele transforma história em cinebiografias de qualidade, resgatando e reverenciando nossa própria história. Por outro lado, tem um papel fundamental na formação de profissionais de diferentes áreas, da geração de empregos diretos e indiretos, de movimentar a economia de uma maneira tão bonita e inspiradora: com arte.

Podemos dizer que existe uma indústria de cinema no Brasil?

Sim, existe uma indústria importante, com altíssima capacidade produtiva. Mas essa indústria sofre ameaças externas (pouca informação, interpretações equivocadas e especulações que desmerecem e prejudicam nossa atividade) e internas (segregação, separatismo e rivalidade entre a classe). Assim como foi na Nova Zelândia, onde estudei cinema, aqui no Brasil, a indústria cinematográfica pode ter um futuro incrível para produções de consumo doméstico, assim como para produções internacionais.

O que ainda falta para essa indústria?

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Conscientização pública da importância dessa indústria, o povo brasileiro tem que ser informado de como o cinema é uma ferramenta econômica, que ajuda o mundo a conhecer o Brasil e querer consumir a “brasileridade”. Se os brasileiros entenderem que, pela arte do cinema todos ganham, irão entender que não somos um bando de “vagabundos mamando no Governo” e sim agentes importantes para promover o Brasil, dentro e fora do país.

Quais filmes deveriam ser subsidiados no Brasil?

Não acredito em políticas discriminatórias, defendendo que um merece mais que o outro. O processo deve ser democrático e acessível a todos, com regras claras e justas para todos. São os filmes de arte que quebram barreiras e se destacam em festivais internacionais e filmes comerciais que atendem o gosto do público. E todos no meio desse caminho são importantes e válidos.

O que sobra na produção dos países desenvolvidos e que falta em nosso país?

Me formei e comecei minha carreira na Nova Zelândia. Tive o privilégio de estar lá e testemunhar o movimento que a indústria daquele pequeno (em extensão territorial) país em incentivar e promover sua indústria interna e externamente. Foi um movimento de união. Sem gênero. Comédia, ação, fantasia, romance… ok. Vamos fazer essa indústria acontecer! No final, todos saem vitoriosos, incluindo o público. Acho que falta esse espírito por aqui. E isso acaba contaminando o público também, que se divide e acaba se envolvendo em “preconceitos” injustos. Fazer rir e levar milhões de pessoas para o cinema não é uma arte menor que um filme de arte que ganha muitos prêmios. Será que nós, diretores de dramas, também conseguimos esse feito? No Brasil, fazer filme que não seja de “arte” é visto, por muitos, com preconceito. Isso é lamentável e tem que mudar. Nos Estados Unidos, por exemplo, você vê Oliver Stone, Spielberg e Adam Sandler sentados em uma mesa, todos respeitados e se respeitando, cada um fazendo um tipo de cinema.

Leia ou ouça também:  Um papo com João Cesar Pinheiro Rodrigues

Como define o ato de dirigir?

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Um ato alucinante de amor, paixão, descoberta, perseverança, troca. Tudo isso com uma incrível vulnerabilidade enquanto você expõe sua alma na construção de um sonho, registrado a 24 quadros por segundo. É uma aventura intensa! Faço um paralelo com a forma que cresci a bordo de um veleiro! (risos) Vivemos juntos em codependência enfrentando muitas tempestades. Por isso, é fundamental reunir a tripulação certa, com cada um sabendo qual é o seu papel dentro daquela estrutura e, confiante em seu ofício, desempenhando sua arte complementando a arte do colega. E o diretor/capitão está ali em controle para compartilhar sua alma, visão e orquestrar todo esse processo, mantendo no horizonte o rumo de onde quer chegar.

Em que momento das filmagens você percebe que um filme está ficando com a sua cara?

Quando você grita “corta!” com a satisfação de ver que aquela cena aconteceu como você esperava ou te surpreendendo positivamente. Um momento de satisfação ao encerrar uma diária com euforia e entusiasmo, independentemente do horário que tenha começado ou terminado. E quando sua equipe começa a ficar tão empolgada quanto você, é um momento inebriante.

“Pequeno Segredo” foi um desses filmes que ficou com as suas “impressões digitais” em sua visão?

Com certeza. Até porque o filme é baseado na mesma história real que inspirou minha mãe Heloisa em seu livro “Pequeno Segredo”. Ao contrário do que muita gente pensa, o filme não é uma adaptação do livro, mas a minha visão pessoal para aquela mesma história. Reconheço no filme as minhas “impressões digitais” porque ele emociona com uma delicadeza ímpar, fala de algo muito carregado com um toque especial. Isso é uma de minhas “impressões digitais”.

Trazer a história da sua família para as telas (mesmo considerando ser um filme de ficção), mexeu com você de alguma forma na hora das filmagens?

Foi um grande desafio pessoal e profissional. Ao mesmo tempo, que você, diretor, mantém um “distanciamento”, você, filho/irmão, é tomado, em determinados momentos, pela emoção de “reviver” sua própria história. Em diversos momentos, olhando Julia em cena (no caso a atriz Julia Lemmertz), eu reconhecia minha mãe, por exemplo. Mas eu me orgulho de ter conseguido manter o distanciamento necessário, me permitindo buscar em Julia a Heloisa da tela de cinema e não necessariamente a cópia fiel da minha mãe. É algo sutil, mas real e necessário. Principalmente para mim, como cineasta.

O que não pode faltar em uma obra sua e que considera ser essencial?

Uma boa história e um bom roteiro! Sou um contador de história e preciso acreditar nessa história para contá-la no formato que julgar mais adequado, seja um documentário ou um longa de ficção e preciso de um roteiro que traga essa história para um formato de cinema.

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Última atualização da matéria foi há 3 anos


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