Desastres naturais e as fragilidades do Brasil
Os impactos dos desastres naturais no Brasil em 2024 evidenciam tanto a vulnerabilidade estrutural do país quanto a necessidade urgente de estratégias mais robustas para enfrentar eventos climáticos extremos. Segundo o Global Catastrophe Recap Report da Aon, o país acumulou perdas de US$ 6,4 bilhões entre janeiro e setembro, um número que, embora menor do que os US$ 10 bilhões registrados no mesmo período de 2023, ainda revela um quadro preocupante de ineficiência na mitigação de riscos e de resiliência climática. Esses prejuízos incluem US$ 5 bilhões resultantes das enchentes no Rio Grande do Sul, US$ 360 milhões decorrentes de queimadas em diversas regiões e US$ 470 milhões de perdas atribuídas à seca histórica.
Beatriz Protásio, CEO de Resseguros da Aon no Brasil, destacou a necessidade de ações concretas, como a modelagem catastrófica e a transferência de riscos climáticos por meio de seguros, para proteger a infraestrutura nacional e apoiar a recuperação das comunidades afetadas. Porém, a implementação dessas medidas no Brasil continua longe de alcançar a eficácia observada em outros países.
O cenário global reforça o peso desse desafio. Enquanto os prejuízos econômicos globais causados por desastres naturais foram de US$ 258 bilhões nos primeiros nove meses de 2024, o Brasil segue com um déficit alarmante na proteção de seguros e na preparação para enfrentar eventos climáticos extremos. O contraste com outras nações, como os Estados Unidos, onde as perdas seguradas tiveram uma contribuição significativa na redução do impacto financeiro, ressalta a lacuna brasileira em políticas públicas eficazes e uma integração mais profunda entre o setor privado e o público.
Enchentes no Rio Grande do Sul: o evento mais devastador de 2024
Entre os dias 28 de abril e 3 de maio, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das enchentes mais severas de sua história recente. Com prejuízos estimados em US$ 5 bilhões, o evento revelou falhas na infraestrutura local, desde sistemas de drenagem insuficientes até a falta de planejamento urbano para áreas de risco. Cidades inteiras ficaram submersas, forçando milhares de pessoas a abandonar suas casas e causando perdas irreparáveis no setor agrícola, motor econômico da região.
Além do impacto econômico direto, as enchentes também geraram uma crise humanitária, expondo a população a doenças e comprometendo a segurança alimentar. Medidas de emergência foram implementadas, mas a falta de coordenação entre os Governos Federal e estadual limitou a eficácia das ações. A necessidade de investimentos robustos em infraestrutura hídrica e sistemas de alerta precoce torna-se urgente diante da recorrência desse tipo de evento.
Queimadas e o custo ambiental e econômico
As queimadas que devastaram a vegetação brasileira entre janeiro e setembro de 2024 geraram danos de US$ 360 milhões. O impacto ambiental, no entanto, vai além do custo econômico imediato. A destruição de ecossistemas vitais contribui para o agravamento das mudanças climáticas, alimentando um ciclo de eventos extremos que só tende a se intensificar.
Parte significativa das queimadas está associada ao desmatamento ilegal e à expansão agrícola desordenada, problemas que refletem a ausência de políticas públicas eficazes de fiscalização e preservação ambiental. O Brasil, embora reconhecido por sua biodiversidade, enfrenta dificuldades em equilibrar desenvolvimento econômico e sustentabilidade, um dilema que precisa ser resolvido com urgência para evitar catástrofes futuras.
Seca histórica: impactos na produção e no abastecimento
A seca histórica que assolou o Brasil em 2024, gerando prejuízos de US$ 470 milhões, afetou diretamente o setor agrícola, com quedas expressivas na produtividade de culturas como soja e milho. Além disso, comprometeu o abastecimento de água em várias regiões, forçando racionamentos e elevando os custos de energia devido à dependência da matriz hidrelétrica.
Os efeitos prolongados da seca destacam a necessidade de uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos. Investimentos em tecnologias de irrigação, preservação de nascentes e diversificação da matriz energética são fundamentais para reduzir a vulnerabilidade do país a eventos climáticos extremos.
A lacuna de seguros no Brasil
O relatório da Aon destaca uma lacuna significativa na proteção de seguros no Brasil. Enquanto globalmente 40% das perdas econômicas de desastres naturais foram cobertas por seguros, no Brasil essa proporção é drasticamente menor. Esse déficit reflete a falta de conscientização sobre os benefícios do seguro e as barreiras financeiras que dificultam o acesso a esse recurso.
A criação de incentivos fiscais e a implementação de programas públicos de seguro para populações de baixa renda podem ajudar a reduzir essa lacuna. Além disso, parcerias entre o setor público e privado são essenciais para viabilizar soluções acessíveis e garantir maior resiliência econômica frente aos desastres naturais.
O papel do planejamento urbano na mitigação de desastres
A vulnerabilidade das cidades brasileiras a desastres naturais está diretamente ligada ao planejamento urbano inadequado. A ocupação desordenada de áreas de risco, a falta de infraestrutura de drenagem e a impermeabilização excessiva do solo são fatores que agravam os impactos de enchentes e outros eventos climáticos extremos.
A adoção de políticas públicas que priorizem a sustentabilidade e a resiliência urbana é imprescindível. Medidas como a criação de áreas verdes, a regulamentação do uso do solo e o investimento em sistemas de drenagem eficientes podem reduzir significativamente os prejuízos econômicos e sociais causados por desastres naturais.
A importância da resiliência climática
A CEO de Resseguros da Aon no Brasil, Beatriz Protásio, ressaltou a necessidade de estratégias de resiliência climática para enfrentar os desafios impostos pelos eventos extremos. A modelagem catastrófica, a transferência de riscos por meio de seguros e o fortalecimento da infraestrutura são pilares fundamentais dessa abordagem.
No entanto, a resiliência climática exige mais do que medidas técnicas. É preciso promover uma mudança cultural que valorize a prevenção e o planejamento de longo prazo. A integração de ações governamentais, empresariais e comunitárias é essencial para construir um futuro mais seguro e sustentável.
O que o Brasil pode aprender com outros países
Países como Japão e Estados Unidos oferecem lições valiosas sobre como lidar com desastres naturais. Ambos investem pesadamente em tecnologia para monitoramento e alerta precoce, além de contar com sistemas de seguros bem estruturados para mitigar os impactos econômicos.
O Brasil, por sua vez, precisa adaptar essas práticas às suas realidades sociais e econômicas. O desenvolvimento de políticas públicas integradas e o fortalecimento das instituições são passos cruciais para transformar a vulnerabilidade atual em uma oportunidade de crescimento e resiliência.
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