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Um papo com o professor José Raimundo Facion

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Iniciado no dia 21 de setembro, o curso Norteando Condutas de José Raimundo Facion, compreende 5 módulos com conteúdo teórico-prático que guiarão pais, amigos, cuidadores e familiares das pessoas autistas a conduzirem suas ações de maneira mais assertiva, contribuindo para o melhoramento da qualidade de vida daqueles com transtorno e também de quem convive com eles. Sua carreira acadêmica foi toda cumprida na Alemanha, onde, em 1983, foi o único estrangeiro a participar da fundação do Instituto Alemão de Pesquisas sobre o Autismo. Mas é no Brasil a sua base clínica, onde ele assiste e orienta casos de todos os graus de acometimento, principalmente os mais severos. Em quase todos os estados têm quem se beneficie dos conhecimentos e da dedicação de Facion. O diálogo direto e simplificado que o Professor Facion tem com as pessoas leigas é a sua estratégia mais sensível e democrática no tratamento das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ao longo dos seus 45 anos de experiência, o psicólogo e especialista em transtornos psicopatológicos na infância e adolescência tem um acumulado de conhecimentos acadêmico e clínico admirável, que lhe conferem o título de um dos maiores pesquisadores do autismo. Uma obstinação que se iniciou logo no início da sua carreira e lhe causou uma afeição especial pelos indivíduos com esta condição.

Professor, existe muita confusão quando se fala sobre o autismo. De uma forma sucinta, poderia falar o que é o autismo?

Autismo: do grego “por si só”, “ensimesmado”. Pessoas com autismo apresentam comportamento de isolamento em si mesmos. Não respondem adequadamente quando os chamamos pelo seu nome; apresentam timidez quando mantém contato olho a olho; apresentam movimentos estereotipados (repetitivos, como pendular o corpo; balançar as mãos); não demonstram medos de perigos reais; são fixados em objetos que giram; não se misturam com outras crianças, etc.

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O que causa o autismo?

Até hoje não se sabe sobre a etiologia (causa) do autismo; porém, há fortes indícios de se tratar de um transtorno de ordem neurobiológico. Ninguém se torna autista; a pessoa já nasce com o autismo. Nos casos mais leves a família só começa a desconfiar depois dos três anos.

Quais os sinais que os pais devem ficar atentos para saber se o seu filho é autista ou não?

Quando a mamãe o coloca nos seus braços e ele não se aninha; quando a mãe a chama pelo seu nome e ele não reage; quando ele troca a noite pelo dia; ser um bebê que se fascina com os movimentos de seus próprios dedos da mão; bebês muito quietinhos e quase nem se manifestam quando estão com fome. Nestes casos os pais devem procurar logo o(a) médico(a) de confiança para uma avaliação.

Que tratamentos estão disponíveis atualmente?

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Para os casos mais leves de autismo (poucos sintomas aparentes), a família deve procurar um(a) psicólogo(a) que saiba trabalhar com a Análise Aplicada do Comportamento (ABA) e seguir as orientações de outros profissionais quando indicados (Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional). Estes outros profissionais também devem conhecer, pelo menos, os princípios da ABA.

Quais os maiores desafios de uma família que tem um filho com a TEA?

Primeiramente encontrar profissionais especialistas em autismo; profissionais quem conhecem a Análise Aplicada do Comportamento; seguir as orientações dos profissionais, mesmo quando o “coração” mandar ter compaixão do(a) filho(a). É importante que a família se organize e se discipline nas condutas educacionais com o(a) filho(a).

O que foi descoberto sobre o autismo recentemente e que ainda não chegou ao grande público?

Saber o que funciona e o que não funciona na educação da pessoa com autismo. Quem consegue aprender um pouco sobre como funciona o comportamento humano apresenta uma melhora significativa no desenvolvimento de seu(sua) filho(a).

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Quais os métodos utilizados em suas pesquisas para chegar a conclusões assertivas sobre o autismo?

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Primeiramente instalar uma rotina de vida diária (desde o despertar até a hora de ir dormir). Não há necessidade de criar um quartel-general dentro de casa, mas uma rotina diária favorece, por demais, a estabilidade do desenvolvimento de um ser humano. Este procedimento é saudável para qualquer ser humano comum. Instalar um comportamento alimentar saudável, de preferência não industrializados (sem conservantes e corantes), assim como consumir menos fosfatos (pão, bolachas, macarrão, lasanha, bolo etc). A ciência demonstra que as pessoas com autismo necessitam de um ambiente menos agitado, com menos ruídos e menos instável.

Déficit de atenção pode ser confundido com autismo?

Não. Quem tem o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH, não apresentam isolamento social; este é um transtorno per se. O que pode ser observado são pessoas com autismo que apresentam hiperatividade como um sintoma de um transtorno maior – TEA. Portanto, são duas patologias distintas.

Fale um pouco sobre o curso Norteando Condutas.

Hoje ainda não sabemos tudo sobre o TEA – Transtorno do Espectro Autista; mas já sabemos o que não devemos fazer. Um dos equívocos que pais e profissionais cometem é quando querem tratar o autismo com vários tipos de terapias, vários terapeutas e com distintas condutas. Isto acaba por ser feito de tudo um pouco e pouco do nada! O curso Norteando Condutas trata, primeiramente, de conhecer as diversas faces do autismo (leve, moderado e severo) para, depois indicar condutas terapêuticas focadas.

O segundo passo é aprender a fazer escolhas, ou seja, se a pessoa com autismo apresenta uma série de excessos comportamentais, propõe-se inicialmente escolher um, dois e, no máximo três comportamentos alvo com o objetivo de amenizar, ou até eliminar, tais excessos (hiperatividade, autolesão, insônia, baixo limiar de frustração, estereotipias, etc); após este passo, elencar mais outras respostas alvo. E assim sucessivamente. Querer trabalhar muitos sintomas (ou muitos objetivos) de uma vez só é um equívoco, pois, acaba-se por estressar tanto a pessoa com autismo, assim como seus familiares e os resultados não são tão animadores.

Quais são os diferenciais desse curso?

O que foi descrito acima: aprender a fazer escolhas; aprender um pouco sobre os princípios elementares do comportamento humano; aprender a construir uma folha de registro; basear-se em fatos, números e evidências e não tão somente às suas elocubrações subjetivas. O curso propõe nos tornarmos mais precisos, mais assertivos e menos subjetivos.

Última atualização da matéria foi há 2 anos

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