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A oligarquia vistosa de Alexander Mamut

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Em um cenário global marcado pela opacidade dos grandes capitais e pelo papel cada vez mais controverso de bilionários ligados ao poder político, Alexander Mamut se destaca como um personagem emblemático da oligarquia russa pós-soviética. Com uma fortuna estimada em 1,3 bilhão de dólares, segundo a Forbes, Mamut é o retrato acabado de como as conexões certas — ou convenientes — podem servir como escada silenciosa para o topo do capitalismo de compadrio.

Nascido em Moscou em 1960, filho de um jurista bem posicionado na burocracia soviética, Mamut cresceu entre livros e decisões jurídicas, mas rapidamente aprendeu que o verdadeiro poder não está nas bibliotecas, e sim nos bastidores do capital. Ele estudou direito na Universidade Estatal de Moscou, o que lhe forneceu as credenciais para transitar no novo ecossistema jurídico e econômico da Rússia nos anos 1990, quando a antiga ordem comunista desmoronava e surgia, sobre os escombros, uma elite empresarial voraz e veloz.

“Mamut é um exemplo vivo de como a riqueza pode ser menos um fim e mais um instrumento. O problema é que, nesse jogo de sombras, quem define as regras não são os eleitores nem os consumidores.”

Mamut começou sua trajetória como advogado corporativo, fundando a firma ALM-Consulting, mas logo percebeu que o verdadeiro lucro estava na intermediação entre o capital estatal e os interesses privados. Sua carreira decolou nos anos 1990, quando ele atuou como conselheiro financeiro do governo de Boris Yeltsin, em pleno auge das privatizações, época em que o patrimônio público foi, muitas vezes, liquidado por centavos a amigos do poder.

Sua habilidade em conciliar interesses políticos e financeiros o aproximou de figuras influentes como Roman Abramovich e Boris Berezovsky — nomes que também compuseram o núcleo duro da primeira geração de oligarcas russos. Ao contrário de outros bilionários mais midiáticos ou aventureiros, Mamut sempre cultivou uma imagem mais discreta, preferindo mover-se nos bastidores do que ocupar os holofotes.

Do setor financeiro à mídia e tecnologia

A trajetória de Mamut é marcadamente multifacetada. Ele investiu em bancos, no setor de telecomunicações e na mídia. Em 2008, comprou a editora Kommersant, uma das principais publicações independentes da Rússia, e, mais tarde, investiu pesadamente no setor de tecnologia e varejo digital, adquirindo participações em empresas como a Rambler Media Group e a loja de livros Waterstones, no Reino Unido.

Essa última aquisição, feita em 2011, chegou a causar surpresa: um bilionário russo adquirindo uma tradicional rede britânica de livrarias físicas em plena era do Kindle parecia um capricho. Mas, com a ajuda do empresário britânico James Daunt, Mamut conseguiu revigorar a marca, demonstrando que, para além da especulação, havia uma compreensão estratégica dos negócios de varejo cultural. Ainda assim, críticos apontam que sua presença no setor editorial foi menos uma busca por rentabilidade e mais uma maneira de exercer influência sutil sobre a opinião pública — algo que oligarcas russos entenderam bem cedo.

No campo da tecnologia, suas apostas em portais de internet e serviços de streaming como a Okko também mostram o interesse pela convergência entre entretenimento, dados e controle de narrativa. Ainda que seus investimentos tenham oscilado em rentabilidade, o que se percebe é uma diversificação que parece mais movida por influência e presença do que por lucro direto.

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Com o avanço da guerra na Ucrânia e a intensificação das sanções contra figuras próximas ao Kremlin, Mamut, até agora, conseguiu manter uma posição ambígua: não figura entre os principais alvos de sanções do Ocidente e tampouco assumiu posições públicas de apoio a Vladimir Putin. Sua discrição, neste caso, talvez seja sua principal blindagem.

Mesmo assim, sua fortuna pessoal — avaliada em US$ 1,3 bilhão — permanece intacta, ainda que envolta em estratégias de offshores, holdings internacionais e ativos de difícil rastreamento. Não se trata de mera especulação, mas de um padrão recorrente entre bilionários russos que aprenderam, desde os anos 1990, a operar no entrelaçamento entre política, negócios e jurisdição transnacional.

O ricaço Alexander Mamut se encontra com o fiteiro Vladimir Putin (Foto: Meduza)
O ricaço Alexander Mamut se encontra com o fiteiro Vladimir Putin (Foto: Meduza)

O que Alexander Mamut representa, no fundo, é a sofisticação de uma oligarquia que aprendeu a se disfarçar sob os modos do capitalismo ocidental. Diferentemente dos figurões que ostentam iates e clubes de futebol, ele prefere o verniz cultural, o patrocínio editorial e as bibliotecas com fachada de negócios. Mas isso não torna sua fortuna menos simbólica de um modelo de ascensão que, embora legalizado, permanece moralmente ambíguo.

Em tempos de reflexão sobre os limites da concentração de poder econômico e da fragilidade das democracias frente ao capital transnacional, Mamut é um exemplo vivo de como a riqueza pode ser menos um fim e mais um instrumento. O problema é que, nesse jogo de sombras, quem define as regras não são os eleitores nem os consumidores — são os silenciosos arquitetos do poder. E eles, como Mamut, preferem sempre agir em silêncio.


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