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Como o AI-5 matou Vladimir Herzog?

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A morte de Vladimir Herzog em 25 de outubro de 1975 se tornou um dos episódios mais emblemáticos da repressão do regime militar brasileiro (1964-1985). O jornalista, de origem iugoslava e naturalizado brasileiro, era diretor de jornalismo da TV Cultura e mantinha ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), alvo frequente da repressão. Seu assassinato, forjado como suicídio nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, expôs a brutalidade da ditadura e gerou uma reação sem precedentes na sociedade brasileira. A tentativa de encobrir sua morte fracassou, e o caso se transformou em um marco na luta pela redemocratização do país. Décadas depois, a verdade sobre o crime foi oficialmente reconhecida, e o Estado brasileiro admitiu sua responsabilidade na tortura e assassinato de Herzog.

A versão oficial divulgada pelos militares afirmava que Herzog teria cometido suicídio dentro da cela onde estava detido. No entanto, evidências fotográficas, depoimentos de sobreviventes da tortura e análises periciais indicaram que ele foi brutalmente torturado até a morte. O laudo original, assinado pelo legista Harry Shibata, sustentava a tese do suicídio, mas foi posteriormente desmentido.

A repercussão do caso foi intensa. Pela primeira vez, um assassinato cometido pelo regime militar foi amplamente questionado pela sociedade civil e pela imprensa. A missa ecumênica realizada na Catedral da Sé, em São Paulo, reuniu milhares de pessoas em protesto silencioso contra a ditadura. Personalidades como o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel desempenharam papéis fundamentais na denúncia do crime. O assassinato de Herzog marcou uma virada no processo de resistência ao regime, impulsionando movimentos pela abertura política e pelo fim da repressão.

Décadas mais tarde, em 2013, a Comissão Nacional da Verdade confirmou que Vladimir Herzog foi torturado e morto pelos agentes do DOI-CODI. Sua viúva, Clarice Herzog, lutou incansavelmente para que a verdade fosse reconhecida e, em 2018, o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos pela omissão no caso. A história de Herzog continua sendo um lembrete sombrio dos horrores da ditadura e da importância de manter viva a memória daqueles que lutaram contra a opressão.

O contexto da repressão política nos anos 1970

A morte de Vladimir Herzog ocorreu em um dos períodos mais sombrios da ditadura militar, quando a repressão atingia seu auge. O AI-5, instituído em 1968, fechou o Congresso Nacional, cassou mandatos e intensificou a censura e a perseguição política. O DOI-CODI, órgão de repressão subordinado ao Exército, tornou-se o principal centro de tortura e assassinato de opositores. Em São Paulo, a Operação Radar visava desmantelar células do PCB, e Herzog foi uma de suas vítimas. O Governo Geisel, embora buscasse uma distensão lenta e controlada, manteve a repressão feroz contra grupos de esquerda, autorizando a continuidade da tortura e dos assassinatos nos porões da ditadura.

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A prisão e as torturas no DOI-CODI

No dia 24 de outubro de 1975, Vladimir Herzog atendeu a uma convocação do DOI-CODI para prestar depoimento. Apesar de sua ida voluntária, foi imediatamente detido e submetido as sessões de tortura. Testemunhos de ex-presos políticos indicam que Herzog sofreu espancamentos, choques elétricos e asfixia. Os torturadores buscavam extrair confissões sobre sua ligação com o PCB e forçá-lo a denunciar colegas jornalistas. A violência foi tamanha que, no dia seguinte, seu corpo já não resistia. A decisão de forjar seu suicídio foi uma tentativa desesperada do regime de ocultar a brutalidade da repressão.

A farsa do suicídio e as contradições da versão oficial

Poucas horas após sua morte, o Exército divulgou um comunicado informando que Herzog havia se enforcado com o cinto de seu macacão. A imagem divulgada pela ditadura mostrava um corpo suspenso de forma incompatível com um suicídio: seus pés tocavam o chão. Além disso, a cela onde ele foi encontrado não possuía estrutura para permitir tal ato. O laudo do legista Harry Shibata corroborou a versão oficial, mas posteriormente foi desmentido por análises independentes. A tentativa de acobertar o assassinato gerou indignação e contribuiu para a mobilização contra a ditadura.

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A reação da sociedade e a missa na Catedral da Sé

A indignação com a morte de Herzog não se limitou aos círculos políticos. Jornalistas, intelectuais e religiosos se uniram em um protesto silencioso, culminando na missa ecumênica realizada na Catedral da Sé, no dia 31 de outubro de 1975. Organizada por Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright, a cerimônia reuniu milhares de pessoas e se tornou um símbolo da resistência à ditadura. A missa marcou um ponto de virada na luta pela redemocratização, demonstrando que a repressão não conseguiria mais silenciar a sociedade civil.

A luta de Clarice Herzog por justiça

Clarice Herzog se recusou a aceitar a versão oficial e iniciou uma longa batalha para provar que seu marido foi assassinado pelo regime. Em 1976, ingressou com uma ação na Justiça, exigindo que o Estado fosse responsabilizado. Em 1978, a União foi condenada a indenizar a família, reconhecendo indiretamente o crime. Décadas depois, em 2013, a Comissão Nacional da Verdade confirmou oficialmente que Vladimir Herzog foi torturado e morto pelos agentes da ditadura. A luta de Clarice culminou na condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2018, que determinou novas medidas para a reparação do caso.

A responsabilização tardia e a impunidade dos torturadores

Apesar das evidências e do reconhecimento do crime, nenhum dos responsáveis pela morte de Herzog foi punido. A Lei da Anistia de 1979 garantiu a impunidade dos torturadores, protegendo militares e agentes da repressão. O coronel Audir Santos Maciel, comandante do DOI-CODI na época, e o delegado Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais torturadores do regime, nunca responderam judicialmente pelo assassinato. A falta de punição aos responsáveis evidencia a dificuldade do Brasil em lidar com seu passado autoritário, diferentemente de outros países latino-americanos que julgaram e condenaram seus repressores.

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A memória de Vladimir Herzog e a importância da verdade histórica

O caso de Vladimir Herzog permanece como um símbolo da resistência contra a ditadura militar e da luta por justiça. Seu nome batiza o Instituto Vladimir Herzog, dedicado à defesa dos direitos humanos e à preservação da memória dos crimes do regime. O reconhecimento de sua morte como assassinato reforça a necessidade de manter viva a lembrança dos abusos cometidos pelo Estado e de impedir que a história seja reescrita por narrativas revisionistas. A busca pela verdade e pela justiça continua, para que crimes como esse jamais se repitam.


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