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Matthew Perry, Gilmar Mendes, Sídon…

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Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.

Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.

Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.

Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.

Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.

O rombo dos Correios, a súbita conversão de parlamentares em contabilistas, e o renascimento da CPI como esporte de alto rendimento: porque nada dá mais voto que investigar cadávares empresariais fresquinhos

A crise dos Correios, com seus singelos R$ 6 bilhões de prejuízo em nove meses — quase uma ONG da generosidade com recursos alheios —, virou o buffet livre da oposição. O PL, especialista em transformar problemas em conteúdo, quer ressuscitar uma CPI com a energia de quem encontra um cadáver fresco no quintal e chama o IML para filmar. O plano é barrar empréstimos de R$ 20 bilhões da estatal a bancos privados, porque aparentemente a empresa só existe para testar limites da responsabilidade fiscal e ver até onde a União tolera “a delinquência contábil”. Rogério Marinho já acionou o TCU, com o entusiasmo de um xerife do Velho Oeste, exigindo investigação urgente. O discurso moralista, obviamente, ignora a ironia de que boa parte da ruína dos Correios é fruto de décadas de indicações partidárias, política tarifária defunta e uma orgia burocrática que transformou o serviço postal em um museu de falhas. Mas claro, quando o incêndio está grande, todos viram bombeiro – sem mencionar os fósforos que carregam no bolso. O objetivo real? Punir os culpados? Ou garantir manchetes, vídeos para redes sociais e frases de impacto para debates eleitorais? CPI no Brasil é reality show com patrocínio do contribuinte. E quando acaba, ninguém vai preso – mas todo mundo fica famoso.

Estatais quebradas, irmãos Batista, dívidas impagáveis e o ICMS como tributo de ficção científica: o Brasil transformou contas de luz em penitência teológica e profecia de sofrimento coletivo

As distribuidoras de energia, sempre inovadoras em novos modos de dar prejuízo, respondem por 20% da montanha de R$ 1,17 trilhão em dívidas de ICMS — porque, quem disse que empresa pública tem que pagar imposto, não é mesmo? No Rio Grande do Sul, a CEEE-D deve R$ 3,17 bilhões. Em Roraima, a Amazonas Energia deve R$ 877 milhões e pertence aos irmãos Batista, que se especializaram em pegar negócios falidos e transformá-los em negócios falidos pagos pelos outros. A suave gentileza do Governo Federal permitiu que a dívida de R$ 14 bilhões da empresa seja transferida ao povo – parcelada em 15 anos, para não doer tudo de uma vez. É quase religioso: confesse seus pecados, pague penitência mensal e tenha fé no apagão. O ICMS, nesse teatro, funciona como tributo simbólico: deve-se, mas não se paga; cobra-se, mas ninguém recebe; registra-se, mas ninguém entende. Enquanto isso, o consumidor financia executivo, acionista e político, e recebe no lugar luz cara, apagão e precariedade. O capitalismo brasileiro inventou a privatização do lucro, a estatização da dívida e o socialismo do prejuízo. O Brasil é a Coreia do Norte, mas só nas contas públicas. Na conta de luz, ele é Dubai.

Matthew Perry, cetamina, médicos inescrupulosos e a indústria da vulnerabilidade: quando o sistema de saúde transforma vício em oportunidade de negócios e cadáver em estatística rentável

O médico Salvador Plasencia foi condenado a 30 meses de prisão por fornecer ilegalmente cetamina a Matthew Perry, após transformar o vício do ator em business model. Perry, numa espiral de depressão, recebeu aplicações de cetamina até no banco de trás de um carro — clínica móvel sem regulamentação, mas com maquininha para passar o cartão, imagina-se. Quando médicos éticos recusaram aumentar doses, o mercado paralelo entrou com aquele profissionalismo do faroeste: “quanto esse idiota vai pagar?”. Resultado: overdose, afogamento, manchetes. Plasencia chorou no tribunal, como se lágrimas fossem política pública, mas seu arrependimento soa como discurso corporativo de recall: “falhamos, mas estamos comprometidos com a excelência”. A cetamina, remédio promissor para depressão, virou droga recreativa e produto premium para um público que pode pagar pela fuga química — até o corpo colapsar. O caso expõe o cinismo de uma cultura médica em que parte da classe se comporta como dealer com CRM: lucra com sofrimento, terceiriza culpa, romantiza “tratamento alternativo” e chama de “liberdade terapêutica” o que é, de fato, necroturismo lucrativo. O sistema de saúde fracassou com Perry antes dele morrer. Depois, só constatou o óbvio: cadáver não paga, mas dá audiência.

Matthew Perry, numa espiral de depressão, recebeu aplicações de cetamina (Foto: Wiki)
Matthew Perry, numa espiral de depressão, recebeu aplicações de cetamina (Foto: Wiki)

Gilmar Mendes, impeachment, Constituição e o Supremo como fortaleza: quando a independência judicial vira armadura anti-populismo e o Senado descobre que sempre foi figurante

Gilmar Mendes rejeitou pedido da AGU para alterar sua decisão que restringe as regras de impeachment de ministros do STF, num movimento que agradou constitucionalistas e irritou sedentos por sangue institucional. O ministro afirmou que sua decisão tem “fiel amparo na Constituição”, como se lembrasse ao país que a Carta não é manual de telemarketing. Agora, só a PGR pode apresentar pedidos, e é preciso 2/3 para abrir e aprovar — o que transforma o impeachment em animal mitológico: existe, mas ninguém vê. Gilmar disparou contra o uso político da ferramenta: “ameaçar ministros já é intimidação”, o que, convenhamos, é diagnóstico do acelerado processo de linchamento institucional patrocinado por parte do Congresso. O ministro ainda blindou julgamentos, afastamentos automáticos e denúncias motivadas por discordância jurídica — sentença que, traduzida, diz: “populismo anti-judiciário não passará”. A nova arquitetura limita o Senado, que desde 1950 tem poder de punir, mas nunca teve maturidade de usá-lo sem vira-latismo partidário. O recado é claro: a democracia tem freios e contrapesos, não paredão. O STF se protege porque sabe que, no Brasil, quem entra no circo pode sair sem cabeça. Gilmar apenas decidiu que, desta vez, o picadeiro não será o Supremo.

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Cruzadas, Jerusalém, e a captura de Sídon em 1110: quando religião, monarquia e violência criaram o primeiro manual corporativo de globalização à base de espada, dogma e colonialismo

Em 4 de novembro de 1110, o Cerco de Sídon resultou na captura da cidade pelo Reino de Jerusalém, num dos tantos capítulos em que Deus foi convocado como CEO de uma multinacional medieval. A tomada de Sídon foi menos um ato espiritual e mais uma expansão imobiliária com marketing religioso: “expandimos territórios, exterminamos infiéis e garantimos presença estratégica no Oriente!”. Na época, o que hoje chamamos de crimes de guerra era apenas “quinta-feira”. A cruzada, com todo seu fervor homicida, foi o embrião da modernidade: tropas internacionais, guerra por narrativa, construção de identidades inimigas e controle de rotas comerciais. O que os cruzados chamavam de fé, sua contabilidade chamaria de lucro. O massacre foi romantizado como heroísmo, os sobreviventes chamados de bárbaros e a história reescrita pelos vencedores – padrão global desde então. A captura de Sídon foi mais que conquista militar: foi um protótipo de ocupação colonial com branding religioso. Nada muito diferente do que empresas e Estados continuam fazendo, exceto que hoje chamamos isso de “defesa da democracia”, “interesse nacional” ou “inovação estratégica”. A Idade Média nunca acabou, só trocou o slogan.

Puff Daddy, funeral milionário, contrato adulterado e a moral do capitalismo cultural: até morto, The Notorious B.I.G. continua pagando a conta de quem lucra com sua tragédia

Após o assassinato de Biggie em 1997, Sean Combs planejou um funeral digno de faraó, só que com recibo e com nota fiscal emitida para o morto. Segundo o documentário, Diddy fingiu pagar o evento, mas registrou o funeral como despesa a ser cobrada do espólio — como um gerente de hotel que cobra minibar de defunto. Kirk Burrowes afirma que isso era apenas o aquecimento: Combs ainda teria tentado alterar, secretamente, o contrato de Wallace, inserindo novas páginas pós-morte, para que a Bad Boy lucrasse com o cadáver como se fosse startup de necropolítica. A ética empresarial é simples: se está morto, não reclama; se reclama, está vivo demais. O funeral virou espetáculo para a imprensa, enquanto Biggie atravessava o Brooklyn como Cristo pop — e Combs planejava sua capa na Rolling Stone. O capitalismo do rap sempre foi cínico, mas esse é um nível shakespeariano de vilania. Burrowes foi demitido, obviamente, porque integridade é incompatível com a indústria musical. O caso só reforça uma verdade melancólica: na cultura pop, a morte não encerra o ciclo econômico. Ela abre o quarter fiscal. Biggie morreu, mas nunca descansou. Nem no túmulo, o rapper teve direito de viver sem pagar por isso.

O rombo dos Correios, a súbita conversão de parlamentares em contabilistas, e o renascimento da CPI como esporte de alto rendimento

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