Michele Kang entra… John Textor sai
A cadeira mais quente do futebol francês acaba de mudar de ocupante. A empresária sul-coreana naturalizada americana Michele Kang assumiu oficialmente a presidência do Olympique Lyonnais. A saída pela porta dos fundos do outrora ambicioso John Textor, após o rebaixamento histórico do clube para a segunda divisão francesa, fecha um ciclo desastrado. Abre-se, agora, uma nova fase — com verniz tecnológico, discurso inclusivo e, claro, a aposta em uma bilionária de perfil inusitado para os padrões da cartolagem europeia.
Michele Kang não é uma figura comum no universo do futebol masculino — tampouco o quer ser. Ela construiu sua fortuna de US$ 1,2 bilhão com a Cognosante, empresa de soluções em tecnologia voltadas ao setor de saúde nos Estados Unidos, vendida por US$ 1 bilhão. Até aí, uma bilionária clássica do setor de tecnologia.
“A chegada de Kang ao topo do Lyon é emblemática. É uma mulher, asiática, bilionária, da tecnologia e do futebol feminino assumindo um clube europeu em ruínas..”
Mas Kang é também uma rara exceção que colocou seus recursos a serviço do futebol feminino com a mesma intensidade com que muitos magnatas da bola torram milhões no mercado de homens milionários e insaciáveis.
Dona do Washington Spirit (da liga feminina americana) e do London City Lionesses (segunda divisão inglesa), Kang fez sua entrada no universo do Lyon pela porta lateral, como integrante do conselho da Eagle Football Group — o conglomerado que gere, além do clube francês, o Botafogo no Brasil, o Crystal Palace na Inglaterra e o Molenbeek na Bélgica. Com a queda do Lyon, a renúncia de Textor tornou-se inevitável. Era preciso alguém com credibilidade, liquidez e, acima de tudo, um plano.
Da filantropia à gestão de crise
É aqui que a história ganha contornos dignos de um ensaio sobre capitalismo esportivo e reinvenção institucional. Kang, em sua mais recente ação filantrópica, doou US$ 30 milhões à Federação de Futebol dos Estados Unidos para ampliar o acesso de meninas e mulheres ao esporte. Esse gesto, de viés progressista, serve de cartão de visitas para sua nova missão: reerguer o Lyon não apenas como um clube de elite, mas como uma plataforma de transformação esportiva e institucional. Resta saber se esse idealismo corporativo resiste às pressões do vestiário masculino e às contas do DNCG — o órgão regulador das finanças dos clubes franceses, que não perdoou a lambança administrativa dos últimos anos.
A chegada de Kang ao topo do Lyon é emblemática. É uma mulher, asiática, bilionária, da tecnologia e do futebol feminino assumindo um clube europeu em ruínas. Uma mulher com discurso de modernidade, mas que terá de enfrentar as velhas raposas do futebol europeu — e a matemática cruel do rebaixamento. A cereja no bolo é o alemão Michael Gerlinger, ex-executivo do Bayern de Munique, que assume como CEO. Se não der certo, não será por falta de currículo.
John Textor, por sua vez, deixa o Lyon envolto em fracassos. Sua tentativa de criar um “sistema de clubes conectados” revelou-se, no mínimo, mal calibrada. O projeto prometia sinergia entre os elencos, compartilhamento de know-how e até uma certa mística cosmopolita. O que entregou foi uma confusão de prioridades, atletas exilados em diferentes ligas e, no caso do Lyon, um fim melancólico na Ligue 2. O que era para ser um laboratório de gestão global tornou-se uma colcha de retalhos com remendos apertados demais.
Ainda assim, Textor não está fora do mapa. No Botafogo, continua como protagonista. Mas a venda da operação do Lyon é um duro golpe em sua narrativa de modernizador. A história não perdoa derrotas — especialmente quando elas vêm com humilhação pública e perda de prestígio financeiro.
Kang herda uma estrutura fragilizada, um elenco desvalorizado e uma dívida que lateja. No entanto, se conseguir articular sua experiência empresarial com uma gestão séria e progressista, pode virar a chave. A batalha jurídica com a DNCG será o primeiro teste: conseguir a reversão do rebaixamento pode ser o que separa sua gestão de um milagre ou de mais um capítulo do fracasso anunciado.

Por ora, Michele Kang representa esperança, ruptura e inteligência estratégica. Mas o futebol, como bem sabemos, é um campo onde a bola pune. E, mesmo bilionários, todos precisam aprender a jogar.
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