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O terrorismo do Baader-Meinhof na Alemanha

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O grupo Baader-Meinhof, também conhecido como Fração do Exército Vermelho (RAF – Rote Armee Fraktion), foi uma organização terrorista de extrema-esquerda que marcou profundamente a história da Alemanha Ocidental durante as décadas de 1970 e 1980. Fundado por Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike Meinhof e outros militantes, o grupo tinha como objetivo combater o que considerava ser o imperialismo e o capitalismo desenfreados, utilizando a violência como principal ferramenta de ação.

Neste artigo, vamos explorar o contexto de criação do Baader-Meinhof, suas ações mais notáveis, o impacto na sociedade alemã, a reação do governo e a relevância histórica do grupo, além de discutir as razões pelas quais o grupo, apesar de seus atos violentos, conseguiu atrair simpatizantes.

Contexto social e político na Alemanha pós-guerra

O surgimento do Baader-Meinhof na Alemanha Ocidental não pode ser entendido sem uma análise do contexto político e social da época. A Segunda Guerra Mundial havia deixado cicatrizes profundas na sociedade alemã, e a divisão entre Alemanha Oriental e Ocidental simbolizava a guerra ideológica entre o comunismo e o capitalismo.

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A geração de jovens alemães dos anos 1960 e 1970 sentia-se traída pelo que consideravam uma falta de responsabilização dos crimes cometidos durante o regime nazista. Muitas figuras de destaque no governo, na economia e até na cultura da Alemanha Ocidental tinham ligações com o regime de Hitler, o que gerava uma forte sensação de desilusão. A geração de jovens universitários começou a protestar contra o autoritarismo do Estado, o consumismo, o militarismo e a presença de tropas americanas no país.

Foi nesse ambiente de insatisfação e radicalização que surgiu o Baader-Meinhof. Inspirados pelos movimentos de guerrilha urbana na América Latina e por grupos revolucionários como os Panteras Negras nos Estados Unidos, os membros do RAF acreditavam que a única maneira de combater o que chamavam de “Estado fascista” era por meio de ações violentas e terrorismo.

Fundação e ideologia da fração do Exército Vermelho

A RAF foi oficialmente fundada em 1970, mas suas raízes remontam aos movimentos estudantis e de contestação social do final da década de 1960. Andreas Baader e Gudrun Ensslin foram inicialmente presos por atos de vandalismo e incêndio em lojas de departamentos em Frankfurt, em protesto contra a guerra do Vietnã. A jornalista Ulrike Meinhof, que já tinha uma carreira bem-sucedida, uniu-se ao grupo após ajudar a planejar e executar a fuga de Baader da prisão, o que consolidou a formação do Baader-Meinhof como organização.

A ideologia do grupo era uma mistura de marxismo-leninismo, anti-imperialismo e uma visão de que o Estado alemão era, essencialmente, uma continuação do regime fascista. Eles acreditavam que as instituições democráticas eram uma fachada para a dominação capitalista, e que somente a violência poderia desmantelar o sistema.

As ações do Baader-Meinhof foram influenciadas por teóricos revolucionários como Che Guevara, Frantz Fanon e Mao Tsé-Tung, cujas ideias de guerra revolucionária e guerrilha urbana foram adotadas pelo grupo. Eles justificavam o uso de bombas, assaltos e assassinatos como parte de uma luta mais ampla contra o imperialismo ocidental e o que consideravam ser a opressão das classes trabalhadoras.

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As ações terroristas mais conhecidas

O Baader-Meinhof realizou uma série de ataques que causaram medo e instabilidade na Alemanha Ocidental durante os anos 1970. Entre os atos mais significativos, destacam-se:

Assaltos a bancos: O grupo financiava suas operações por meio de roubos a bancos. Um dos primeiros atos do Baader-Meinhof foi um ataque coordenado a vários bancos em Frankfurt em 1970.

Atentados a bomba: A RAF realizou inúmeros atentados a bomba contra alvos que simbolizavam o capitalismo e o Estado, como a sede do jornal conservador Axel Springer e o quartel-general dos Estados Unidos em Frankfurt.

Sequestros e assassinatos: Um dos eventos mais impactantes foi o sequestro e assassinato de Hanns-Martin Schleyer, presidente da Confederação da Indústria Alemã, em 1977. Schleyer era um alvo simbólico para o grupo, pois representava a elite econômica e suas supostas conexões com o nazismo.

Essas ações levaram a um período conhecido como o “Outono Alemão”, uma fase de grande tensão e medo, com o governo sendo forçado a adotar medidas repressivas e aumentar a vigilância.

A reação do estado alemão

A resposta do governo alemão ao terrorismo do Baader-Meinhof foi rápida e brutal. O Estado começou a intensificar o uso de medidas de segurança, como a vigilância e o controle de comunicações, além de implementar prisões em massa de suspeitos de apoio ao grupo.

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O principal evento que destacou a repressão estatal foi a prisão dos líderes Andreas Baader, Gudrun Ensslin e Ulrike Meinhof no início dos anos 1970. Eles foram mantidos em condições de isolamento extremo na prisão de Stammheim, o que foi amplamente criticado por organizações de direitos humanos. No entanto, mesmo presos, os líderes do RAF continuaram a influenciar suas ações externas, planejando ataques através de uma rede de simpatizantes.

O julgamento dos líderes do Baader-Meinhof foi um dos mais longos da história alemã e foi marcado por tensões e boicotes por parte dos acusados. A morte de Ulrike Meinhof na prisão em 1976, oficialmente considerada um suicídio, gerou suspeitas e alimentou teorias de que o governo havia orquestrado seu assassinato para silenciar a dissidência.

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As mortes de Baader, Ensslin e outros membros da RAF em 1977, também registradas como suicídios coletivos na prisão de Stammheim, foram recebidas com grande ceticismo por muitos, que acreditavam que o governo alemão estava envolvido. Essas mortes encerraram um capítulo importante na história do grupo, mas a RAF continuou suas atividades por vários anos após a queda de seus fundadores.

Simpatizantes e rede de apoio

Apesar dos atos violentos, o Baader-Meinhof conseguiu atrair simpatizantes, especialmente entre estudantes universitários e intelectuais de esquerda. Muitos viam o grupo como um símbolo de resistência contra o capitalismo global e o imperialismo, enquanto outros compartilhavam da crítica ao governo alemão por seu passado nazista e sua ligação com os Estados Unidos.

A RAF conseguiu estabelecer uma rede de apoio que incluía outros grupos radicais na Europa, como as Brigadas Vermelhas na Itália e o Action Directe na França. Além disso, recebiam apoio de organizações no Oriente Médio, como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que ajudou no treinamento militar de seus membros.

Essa rede de apoio foi crucial para a sobrevivência do grupo ao longo dos anos, permitindo-lhes continuar com suas operações, mesmo após a prisão de seus principais líderes. A simpatia por suas causas também ilustra a polarização ideológica da época, em que uma parte significativa da juventude ocidental estava disposta a desafiar o status quo, ainda que através de métodos violentos.

O declínio do Baader-Meinhof

Embora o Baader-Meinhof tenha continuado a realizar atentados durante a década de 1980, o grupo começou a enfraquecer após a morte de seus fundadores. A segunda e terceira gerações da RAF não conseguiram manter o mesmo nível de coesão e apoio que os primeiros membros haviam conquistado.

A repressão do Estado também foi um fator determinante no declínio da organização. Com o tempo, o governo alemão foi capaz de desmantelar grande parte da rede de apoio e financiamento da RAF. Muitos membros foram presos ou mortos em confrontos com a polícia, e o grupo acabou ficando isolado e sem capacidade operacional significativa.

Em 1998, a RAF anunciou oficialmente sua dissolução, encerrando quase três décadas de terrorismo. Embora o grupo tenha sido extinto, seu legado permanece controverso na Alemanha, sendo lembrado tanto como um símbolo de resistência quanto como um exemplo dos perigos da radicalização violenta.

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Legado e relevância histórica

O Baader-Meinhof e suas ações deixaram uma marca indelével na história da Alemanha. Seu legado é duplo: por um lado, o grupo é lembrado como um dos mais notórios movimentos terroristas da Europa do pós-guerra; por outro, suas críticas ao capitalismo, ao imperialismo e à herança nazista da Alemanha Ocidental continuam a ressoar em debates acadêmicos e políticos.

A reação do governo alemão ao terrorismo, que incluiu a intensificação da vigilância e da repressão, também levantou questões sobre o equilíbrio entre segurança e liberdades civis, temas que permanecem atuais em todo o mundo, especialmente na era do terrorismo global.

O Baader-Meinhof serve como um lembrete de como a insatisfação política e social, combinada com uma visão extremista, pode levar à radicalização violenta. Ao mesmo tempo, sua existência também reflete os desafios enfrentados pelos governos democráticos na tentativa de lidar com movimentos revolucionários sem sacrificar os princípios de liberdade e justiça.

A história do grupo continua a ser objeto de estudo e reflexão, e sua influência pode ser vista em representações na cultura popular, filmes e livros, mantendo viva a memória de um dos capítulos mais perturbadores da Alemanha do pós-guerra.


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