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Repetição da Crise do Petróleo de 1973?

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Em 1973, o mundo foi abalado por um choque do petróleo causado por tensões no Oriente Médio. A decisão dos países árabes da OPEP de embargar o fornecimento de petróleo aos aliados de Israel, em resposta ao apoio ocidental na Guerra do Yom Kippur, gerou inflação, recessão e uma reconfiguração das potências econômicas. Cinquenta anos depois, a pergunta volta a assombrar os mercados: estaríamos novamente às portas de uma crise energética global?

Desde a última quinta-feira, 12 de junho, o conflito entre Israel e Irã se acendeu de maneira aberta e perigosa. Acusações israelenses de que Teerã estaria produzindo armas atômicas encontraram resposta imediata do regime iraniano, que nega o programa militar e reforça o discurso de que suas atividades nucleares têm apenas fins pacíficos. No entanto, para Israel, que nunca assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), mas é notoriamente conhecido por possuir um arsenal atômico não declarado, essa justificativa não passa de uma cortina de fumaça.

“O mundo, mais uma vez, se vê refém de velhos dilemas: dependência energética, disputas territoriais e a incapacidade crônica de prevenir conflitos que poderiam ser resolvidos diplomaticamente.”

O recrudescimento dessa disputa levanta temores antigos e previsíveis: a possibilidade de o conflito escalar e atingir as grandes rotas comerciais e reservas petrolíferas do Oriente Médio, afetando a produção e o transporte de petróleo para o Ocidente e para potências emergentes da Ásia. Em um momento em que a economia mundial tenta se reerguer de múltiplas crises — pandemia, guerras regionais, inflação persistente —, a lembrança do embargo de 1973 não é apenas um fantasma histórico, mas uma ameaça concreta.

Na década de 1970, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) mostrou ao mundo o poder que o controle do petróleo representa como arma geopolítica. Hoje, a situação é mais complexa. A OPEP, liderada por Arábia Saudita, ainda é influente, mas o bloco foi ampliado com o surgimento da OPEP+, que inclui também a Rússia — outro protagonista de tensões internacionais. O contexto global, porém, mudou. O crescimento das energias renováveis, o avanço do gás natural e a expansão das capacidades de produção dos Estados Unidos atenuam o impacto de um eventual choque de oferta.

O fantasma do embargo e o papel da OPEP+

Ainda assim, a interdependência com o petróleo persiste, especialmente na Europa e em partes da Ásia. As reservas estratégicas podem garantir amortecimento temporário, mas um conflito prolongado entre Israel e Irã elevaria fatalmente os preços, como já começaram a prever as bolsas de futuros.

O comportamento da Arábia Saudita neste cenário será determinante. Apesar de Riade rivalizar há décadas com Teerã pela liderança regional, uma ruptura na produção ou exportação de petróleo seria um tiro no próprio pé da economia saudita. O governo saudita tenta, por enquanto, manter uma postura moderada, pressionado por interesses comerciais e pelos esforços de modernização interna conduzidos por Mohammed bin Salman.

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Outro fator importante é o relacionamento dos EUA com esses atores. Washington, ainda o maior protetor de Israel, pode ser obrigado a equilibrar interesses contraditórios: defender Tel Aviv e, ao mesmo tempo, evitar uma escalada que desestabilize o fluxo energético global.

A comparação com 1973 não é exagerada: a configuração de forças, os interesses cruzados e a vulnerabilidade das cadeias energéticas sugerem que um conflito prolongado no Oriente Médio teria consequências geopolíticas globais.

Mas há diferenças notáveis. Hoje, os consumidores estão mais atentos à transição energética, governos possuem reservas estratégicas, e a influência da OPEP já não é a mesma. Ainda assim, o risco permanece concreto. A menor interrupção no estreito de Ormuz, por exemplo — por onde passa cerca de um quinto do petróleo mundial —, seria suficiente para causar pânico imediato nos mercados.

O comportamento da Arábia Saudita neste cenário será determinante (Ilustração: Amorim)
O comportamento da Arábia Saudita neste cenário será determinante (Ilustração: Amorim)

O mundo, mais uma vez, se vê refém de velhos dilemas: dependência energética, disputas territoriais e a incapacidade crônica de prevenir conflitos que poderiam ser resolvidos diplomaticamente. A comparação com 1973 serve mais como alerta do que como profecia inevitável. Mas, se o roteiro for seguido à risca, os próximos capítulos trarão não só petróleo caro, mas também um teste decisivo para a resiliência econômica e política global.

Não repetimos 1973 — ainda. Mas a estrada está aberta, e os riscos são reais. Se a diplomacia não prevalecer, a história pode se repetir. E ninguém parece pronto para pagar essa conta outra vez.


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