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Satoshi Nakamoto: quem é o bilionário?

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No panteão das grandes figuras anônimas da história, Satoshi Nakamoto ocupa um altar peculiar, feito de linhas de código, idealismo libertário e cifrões digitais. Criador do Bitcoin, o ativo mais polêmico, incompreendido e revolucionário do século XXI, Nakamoto é a esfinge dos nossos tempos: todo mundo quer decifrá-lo, mas ninguém consegue. Com uma fortuna estimada em 1.096.000 bitcoins — o equivalente a US$ 129,23 bilhões —, ele é mais rico que Michael Dell, o magnata da informática que dá nome a milhões de laptops pelo mundo. Isso o colocaria confortavelmente na 11ª posição do ranking de bilionários da Forbes, caso ele resolvesse, enfim, sair da sombra.

Mas ele não sai. Não responde. Não dá sinais. Desde que sumiu da internet em 2011, Satoshi virou um nome que se invoca com respeito ou revolta, dependendo da volatilidade do mercado. Trata-se, afinal, do maior desaparecido voluntário da história recente — e talvez também o mais eficiente em manter seu anonimato na era da vigilância total. Alguns o veem como um libertário genial. Outros, como um farsante estratégico. Há quem diga que Nakamoto é uma mulher, um grupo, uma IA ou até mesmo um alienígena (a internet nunca falha em teorias). Mas uma coisa é inegável: seu impacto no mundo é brutal.

Seus bitcoins, nunca movidos, funcionam como a cripta digital de sua lenda. Estão lá, estáticos, dormindo desde os primórdios da blockchain — mais especificamente desde o “bloco gênese”, minerado em 2009. Isso, por si só, já gera especulação. Por que não vender? Por que não tocar nem um satoshi (a menor unidade do BTC)? Culpa? Ideologia? Medo do Fisco? Ou será que Satoshi… morreu?

“No final das contas, Satoshi Nakamoto é uma invenção — no melhor e no pior sentido. É o reflexo de uma era que sonha com autonomia, mas clama por estabilidade; que grita contra o sistema, mas compra tokens com cartão de crédito; que idolatra a descentralização, mas depende de influenciadores para investir.”

A verdade é que a figura de Satoshi, ou a ausência dela, virou um espelho perturbador da nossa era. Criou-se um bilionário sem rosto, sem rastro, sem vaidade e, aparentemente, sem apetite. Em contraste com a ostentação de Elon Musk ou Jeff Bezos, Nakamoto não desfila foguetes, não adota cachorros com nome de moeda, não coleciona jatinhos. E ainda assim, ou justamente por isso, provoca admiração. Uma espécie de “anti-bilionário”, que não compra ilhas, mas que inventou o conceito de soberania digital pessoal.

Nakamoto fundou um sistema que permite ao cidadão comum enviar dinheiro sem precisar de bancos, governos, corretoras ou benção divina do Federal Reserve. E isso foi em 2008, no auge da crise financeira, quando o mundo inteiro sentia o chão ruir sob Wall Street. No fundo, o Bitcoin nasceu como um protesto: contra o sistema financeiro, contra o excesso de controle estatal e, paradoxalmente, contra a própria previsibilidade da economia moderna. É uma obra política, disfarçada de código.

Mas será que o criador do Bitcoin previa o que viria a seguir? Sabia que seu filho pródigo geraria pirâmides, golpes, NFTs ridículos e fanáticos cripto-religiosos? Provavelmente não. Ou sim, mas achava inevitável. Afinal, como todo mito fundador, o Bitcoin tem sua Queda — e ela se expressa na bolha de 2021, no colapso da FTX, no surgimento de milhares de moedas zumbis e na transformação da blockchain em cassino. Nakamoto pode ser gênio, mas o gênio já não controla a criatura.

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A ironia maior? Satoshi virou o que nunca quis: um bilionário. Um dos mais ricos do mundo. E isso sem nunca ter vendido seu estoque.

O bilionário fantasma de um mundo caótico

Se, por hipótese, Nakamoto resolvesse um dia emergir e liquidar parte de sua fortuna, o mercado entraria em pânico. Uma venda dessa magnitude poderia derrubar o preço do Bitcoin em questão de minutos. Isso nos leva à conclusão incômoda de que o sistema descentralizado, supostamente à prova de controle, tem um centro oculto — e ele é um só endereço digital. A ironia é monumental: o apóstolo do “dinheiro sem mestre” é, por omissão, o mestre oculto do dinheiro.

E há também o drama moral. Seria Satoshi culpado por permitir que o Bitcoin se tornasse instrumento de lavagem de dinheiro, especulação desenfreada e manipulação de mercado? Ou ele apenas construiu uma ferramenta, e o problema está na mão de quem a usa? Essa pergunta ecoa como a de outros criadores: Einstein e a bomba atômica, Zuckerberg e as redes sociais, Oppenheimer e Los Alamos. Todo inventor, em algum momento, tem que lidar com o monstro que criou. Satoshi, não. Ele fugiu antes. Como um Prometeu digital, que entregou o fogo à humanidade e desapareceu nas nuvens da web.

No final das contas, Satoshi Nakamoto é uma invenção — no melhor e no pior sentido. É o reflexo de uma era que sonha com autonomia, mas clama por estabilidade; que grita contra o sistema, mas compra tokens com cartão de crédito; que idolatra a descentralização, mas depende de influenciadores para investir. Com sua fortuna virtual intacta, Satoshi permanece como a grande esfinge do capitalismo digital: bilionário sem rosto, símbolo sem corpo, poder sem ação.

Nakamoto ocupa um altar peculiar, feito de linhas de código e ideais (Foto: InvestNews)
Nakamoto ocupa um altar peculiar, feito de linhas de código e ideais (Foto: InvestNews)

E talvez — só talvez — isso seja exatamente o que ele queria.


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