Tariel Oniani: o mega mafioso tido como herói
Tariel Oniani, nascido em 1952 na cidade mineira de Tkibuli, na antiga RSS da Geórgia, é uma figura enigmática no mundo do crime organizado. Conhecido como um chefe da máfia georgiana e “ladrão na lei” (vor v zakone), Oniani liderou a gangue criminosa “Kutaisi” e acumulou uma vida repleta de atividades ilícitas e conflitos sangrentos. Este artigo explora a vida de Oniani, sua ascensão no mundo do crime, seus confrontos com rivais poderosos e como, paradoxalmente, ele é visto por alguns como uma figura heroica.
Infância e início no crime
A vida de Tariel Oniani foi marcada pela tragédia desde cedo. Seu pai morreu em um acidente de trabalho em uma mina, deixando a família em uma situação precária. Oniani, então com 17 anos, optou pelo caminho do crime, sendo condenado por assalto à mão armada e cumprindo pena na prisão. Foi durante esse período de encarceramento que ele foi iniciado como um “vor v zakone”, um título que representa um criminoso altamente respeitado na hierarquia da máfia russa e georgiana.
Nos anos 1980, Oniani já era um dos mais proeminentes “ladrões na lei” em Moscou. Sua habilidade em manipular e controlar redes criminosas lhe conferiu grande influência e poder, solidificando sua posição como um dos principais líderes do submundo do crime.
Expansão para a Europa
Com a dissolução da União Soviética e a consequente desordem que se seguiu, Oniani viu uma oportunidade de expandir suas atividades criminosas para a Europa Ocidental. Na década de 1990, ele se mudou para Paris, onde estabeleceu conexões importantes, incluindo Alimzhan Tokhtakhunov, um notório mafioso.
Em Paris, Oniani se envolveu em várias atividades criminosas, mas sua verdadeira base de operações se estabeleceu na Espanha. Lá, ele possuía ações de uma companhia aérea e dirigia uma empresa de construção civil que empregava imigrantes georgianos ilegais. Este período de relativa tranquilidade foi interrompido em 2005, quando a polícia espanhola lançou uma grande operação contra sua organização, resultando na detenção de 28 membros de sua gangue e até de sua filha de 12 anos, Gvantsa. Oniani, contudo, conseguiu escapar, passando a ser um dos criminosos mais procurados pela Interpol.
Conflitos com rivais
Após o incidente de 2005, Oniani retornou a Moscou sob a identidade assumida de Tariel Mulukhov. Sua presença em Moscou rapidamente levou a tensões com Aslan “Grandpa Hassan” Usoyan, outro poderoso chefe do crime. Essa rivalidade resultou em uma série de assassinatos e conflitos violentos, com membros das gangues de ambos os lados sendo assassinados. Em 2007, o armênio Alek Minalyan, associado a Usoyan, foi morto, intensificando ainda mais a disputa.
Para tentar apaziguar a situação, foi convocada uma reunião em 2008 no iate particular de Oniani. No entanto, essa tentativa de trégua foi frustrada pela intervenção das autoridades russas, que realizaram uma operação bem divulgada, prendendo dezenas de gângsteres. A tensão entre Oniani e Usoyan continuou a crescer, culminando no assassinato de Vyacheslav Ivankov, um mediador respeitado, em 2009. Acredita-se que sua morte foi uma retaliação pela sua decisão de apoiar Usoyan na disputa.
Prisão e extraditação
A vida de Oniani sofreu outro revés significativo quando ele foi preso na Rússia pelo sequestro de um empresário. Em julho de 2010, ele foi condenado a 10 anos de prisão. Oniani reagiu ao veredicto com indignação, prometendo recorrer da decisão. Durante sua detenção, vários de seus subordinados foram assassinados em diferentes partes da Europa, demonstrando que sua influência e a violência associada a ele persistiam mesmo enquanto ele estava preso.
Em 2011, Oniani foi extraditado para a Espanha para cumprir sua sentença. Apesar da prisão, a rivalidade com Usoyan continuou a definir a paisagem do crime organizado na Rússia e na Europa.
Assassinato de Aslan Usoyan
Em janeiro de 2013, Aslan Usoyan foi assassinado em Moscou, um evento que muitos acreditam ter sido parte da contínua rivalidade entre ele e Oniani. No entanto, outro suspeito no assassinato de Usoyan era Rovshan Janiyev, um mafioso azerbaijano. A morte de Usoyan criou um vácuo de poder no submundo do crime, levando a uma reconfiguração das alianças e do equilíbrio de poder entre as gangues.
Libertação e nova prisão
Tariel Oniani foi libertado da prisão em 9 de abril de 2019, mas sua liberdade foi breve. Imediatamente após sua libertação, ele foi preso novamente e, em 23 de outubro de 2019, extraditado para a Espanha para enfrentar novas acusações. Este ciclo de prisão e libertação sublinha a complexidade e a persistência de sua carreira criminosa.
Oniani como figura heroica
Apesar de sua longa lista de crimes e do impacto negativo que suas ações tiveram em inúmeras vidas, Oniani é visto por alguns como uma figura heroica. Esta visão paradoxal pode ser atribuída a vários fatores. Em primeiro lugar, a cultura dos “ladrões na lei” na Geórgia e na Rússia confere um certo glamour e respeito a figuras como Oniani, que são vistos como defensores de uma forma de justiça e honra, mesmo dentro do mundo do crime.
Além disso, Oniani é visto como um símbolo de resistência contra a opressão do Estado e a corrupção endêmica nas autoridades. Para muitos, ele representa um espírito indomável que, apesar das inúmeras tentativas de capturá-lo e silenciá-lo, continua a desafiar o sistema. Sua habilidade de escapar repetidamente da justiça e continuar suas atividades criminosas é vista como uma prova de sua astúcia e resiliência.
Por fim, a narrativa heroica em torno de Oniani pode ser parcialmente explicada pelo papel que ele desempenhou na organização e proteção de imigrantes georgianos ilegais na Europa. Para essas comunidades, ele não é apenas um criminoso, mas também um protetor e um líder que ofereceu oportunidades e uma sensação de pertencimento em terras estrangeiras.
Afinal, ele é mesmo um herói?
Tariel Oniani é uma figura complexa e multifacetada no mundo do crime organizado. Sua vida de crime, marcada por rivalidades violentas, prisões e fugas espetaculares, contrasta fortemente com a imagem de herói que alguns lhe conferem. Essa dualidade reflete as profundas contradições do submundo do crime, onde poder, violência e honra estão entrelaçados de maneiras que desafiam a compreensão simplista.
A trajetória de Oniani, desde seu início humilde em Tkibuli até se tornar um dos mafiosos mais notórios e respeitados do mundo, é um testemunho de sua habilidade, determinação e, paradoxalmente, da admiração que ele consegue inspirar em alguns. Ao mesmo tempo, sua história serve como um lembrete sombrio dos impactos devastadores do crime organizado na sociedade.
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