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Você lembra do Banco Excel-Econômico?

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O Brasil é um cemitério de bancos. Uns tombaram discretamente, como quem pede licença para sair da festa; outros caíram de forma estrondosa, deixando manchetes, calotes e feridas abertas no bolso do contribuinte. O Banco Excel-Econômico pertence a esta segunda categoria. Fundado em 1990 por Ezequiel Nasser como Banco Excel, o ousado projeto parecia disposto a desafiar a lógica bancária da época. Cresceu rápido, surfou na onda das privatizações e do dinheiro fácil da década de 90, até engolir em 1996 o Banco Econômico — um cadáver fresco socorrido pelo Proer, aquele programa federal criado para “sanear” o sistema financeiro. O Excel vestiu a nova pele e passou a se chamar Banco Excel-Econômico. Parecia o início de uma era. Na verdade, era o prelúdio do fim.

O Proer, convém lembrar, foi vendido ao público como um mecanismo de proteção ao sistema bancário. Tradução livre: dinheiro público salvando banqueiros privados. O Econômico já estava condenado, mas o Governo precisava evitar um efeito dominó no setor. O Excel, ambicioso e com apetite, aceitou a missão. Mas era como trocar a boia furada por um barco cheio de goteiras. A cada movimento, mais dívidas emergiam. O Excel-Econômico virou um Frankenstein corporativo: costurado às pressas, sem identidade própria e fadado a desmoronar.

“O Banco Excel-Econômico não foi apenas um fracasso empresarial; foi um retrato da política econômica dos anos 90, da crença cega no capital estrangeiro e da eterna vocação brasileira de transformar crises em oportunidades… mas só para alguns.”

Ainda assim, não faltou ousadia para marketing. Em 1997, quando as contas já chiavam, o banco decidiu entrar em campo — literalmente. Patrocinou Corinthians, Botafogo, Vitória e América-MG. A jogada parecia visionária: associar a marca bancária ao futebol de massas. Mas, na prática, foi o típico gesto de quem tenta disfarçar o rombo com uma bandeira na arquibancada. Era a lógica brasileira de “se aparecer, já vale”. Até funcionou por uns meses: camisas reluzindo nas transmissões de TV, o nome “Excel-Econômico” na boca do torcedor. Porém, nem o gol de placa do marketing conseguiu tapar o buraco nos cofres.

Quando a corda estourou, em 1998, o desfecho foi digno de novela mexicana. O Banco Bilbao Vizcaya (BBV) aparece como cavaleiro europeu disposto a resgatar o banco agonizante. A narrativa oficial dizia que o BBV teria desembolsado US$ 500 milhões para assumir o controle acionário. Belo número, cifras respeitáveis, manchete de impacto. Só que, anos depois, veio à tona a versão incômoda: a venda teria sido fechada por uma quantia simbólica de R$ 1.489. Isso mesmo: pouco mais do que o preço de uma TV de tubo na época.

O grande teatro das finanças tupiniquins

A história do Excel-Econômico é quase uma parábola nacional. O banco que se apresentou como solução virou problema; o comprador que parecia generoso talvez tenha pago preço de banana; e o contribuinte, como sempre, foi o convidado indesejado que arcou com a conta final. O episódio escancara a coreografia típica das finanças brasileiras nos anos 90: governos privatizando prejuízos e socializando perdas, banqueiros jogando roleta com o risco alheio e instituições estrangeiras aproveitando a liquidação para ampliar território.

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Não deixa de ser curioso notar como os símbolos culturais entram nesse jogo. O Excel-Econômico apostou no futebol, mas não no fundamento da boa gestão. Preferiu o espetáculo da arquibancada à contabilidade realista. Resultado: virou lembrança de almanaque, objeto de resenha nostálgica como esta. O torcedor que vibrava com a camisa estampada talvez não soubesse que o patrocínio era sustentado por uma engenharia financeira frágil, de curto prazo e dependente da boa vontade do Governo.

Olhar para o Excel-Econômico é olhar para o espelho de um Brasil que insiste em repetir a mesma peça. Bancos quebram, programas emergenciais são criados, o setor privado levanta taças com dinheiro público, e depois a conta recai sobre o cidadão comum. O Excel foi apenas mais um ator nesse grande teatro. A diferença é que sua queda foi ruidosa o bastante para ser lembrada.

Se você se pergunta por que tantas vezes se repete a história da farra financeira, talvez a resposta esteja na própria cultura nacional: confunde-se ousadia com irresponsabilidade, marketing com estratégia, “resgate” com privatização disfarçada. O Banco Excel-Econômico não foi apenas um fracasso empresarial; foi um retrato da política econômica dos anos 90, da crença cega no capital estrangeiro e da eterna vocação brasileira de transformar crises em oportunidades… mas só para alguns.

Marcelinho Carioca e Túlio Maravilha com o boné do finado banco (Foto: Divulgação)
Marcelinho Carioca e Túlio Maravilha com o boné do finado banco (Foto: Divulgação)

Lembrar do Excel-Econômico não é apenas recordar um logotipo em camisas de futebol ou manchetes antigas. É revisitar um capítulo didático da nossa história financeira. Um capítulo que revela como, no Brasil, o dinheiro público costuma sair da carteira do povo para entrar no cofre de banqueiros sorridentes. E, cá entre nós, isso nunca parece ter mudado muito.


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