Sua Página
Fullscreen

Behdad Eghbali: futuro dono do Santos?

Anúncios
Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

Por anos, o Santos Futebol Clube resistiu às ondas globais do capitalismo esportivo com o mesmo orgulho de quem guarda uma camisa de Pelé emoldurada na sala. Mas o futebol brasileiro mudou, e as finanças do clube praiano estão à beira do colapso. O encontro de julho, nos Estados Unidos, entre Marcelo Teixeira e Behdad Eghbali — o bilionário iraniano-americano que co-comanda o Chelsea — acendeu mais do que luzes de boate em bastidores do futebol: acendeu especulações. Seria o Santos, esse peixe mítico, prestes a ser fisgado pelo anzol de Wall Street?

Behdad Eghbali não é um aventureiro qualquer surfando a maré do “sportswashing”. Ele tem 48 anos, uma fortuna de US$ 4,4 bilhões e um currículo de operações ousadas. Cofundador da gigante de investimentos Clearlake Capital, ele já demonstrou um apetite para clubes tradicionais quando comprou o Chelsea junto de Todd Boehly liderando o consórcio BlueCo, após a saída de Roman Abramovich. Sua fórmula é clara: injetar capital, modernizar estruturas, maximizar receitas e transformar clubes em ativos globais. Para os fãs do Peixe, acostumados a imaginar heróis da base como Rodrygo, Neymar e Robinho, essa lógica soa fria, mas pode ser a tábua de salvação para um clube atolado em dívidas de quase R$ 1 bilhão.

“Por outro lado, Marcelo Teixeira é a imagem invertida de Eghbali. Não é bilionário, não vem de private equity, mas sim de uma linhagem de dirigentes e empresários brasileiros, sempre orbitando o Santos com uma aura de guardião.”

Por outro lado, Marcelo Teixeira é a imagem invertida de Eghbali. Não é bilionário, não vem de private equity, mas sim de uma linhagem de dirigentes e empresários brasileiros, sempre orbitando o Santos com uma aura de guardião. Desde os anos 1990, Teixeira é personagem recorrente no clube, e sua volta à presidência veio justamente sob a promessa de recuperar o Santos, equilibrar as contas e resgatar a dignidade do time que já teve o goat Pelé, o canhão Pepe, o raçudo Serginho Chulapa, o goleador Pagão, o tático Elano entre tantos outros craques históricos de renome nacional e internacional. Enquanto Eghbali aposta em modelos globais, Teixeira ainda fala a língua do torcedor do Pacaembu, da Vila Belmiro e dos estádios acanhados.

É nesse choque de estilos que reside o drama. De um lado, um investidor global que vê o Santos como uma oportunidade: SAF avaliada em R$ 2,2 bilhões (pouco se compararmos com a grandeza imaterial do clube), um mercado brasileiro gigantesco, um clube histórico que pode ser reposicionado como “a marca Pelé” do século XXI. De outro, um dirigente local que sabe o peso de vender não apenas um ativo, mas um patrimônio emocional de milhões de torcedores. O encontro em solo americano não foi um café inocente — contou com Giuliano Bertolucci e Kia Joorabchian, polêmicos empresários e conhecidos por intermediar transferências multimilionárias. Na reunião estava também Marcelo Teixeira Filho (Marcelinho Teixeira para os íntimos do esporte criado na China e remodelado pelos britânicos), o herdeiro natural de Milton e Marcelo (avô e pai respectivamente) e dizem as más e boas línguas, o verdadeiro operador do dia a dia da equipe alvinegra.

Entre Pelé, bilhões e tubarões

Behdad Eghbali enxerga no Santos o que Wall Street chama de “distressed asset”: uma joia arranhada pelo tempo, mas com potencial para brilhar. Foi assim que Clearlake Capital construiu seu império, adquirindo empresas em apuros e reerguendo-as para o lucro. Para os santistas, essa narrativa é sedutora, mas perigosa. Se o clube virar SAF com investidores estrangeiros, haverá capital para quitar dívidas, modernizar a Vila Belmiro e reforçar o elenco. Mas também haverá uma mudança radical na governança: decisões tomadas em Los Angeles ou Londres, prioridades pautadas por ROI, não por títulos regionais.

Eghbali, por sinal, não ignora a simbologia. Ao lado de Boehly, transformou o Chelsea num laboratório de transferências e contratos de longa duração, gastando centenas de milhões em jovens promissores. O Santos, tradicionalmente um celeiro de craques, poderia virar uma espécie de filial sul-americana desse modelo — exportando talentos para a Europa num pipeline ainda mais lucrativo. Os tubarões do mercado já farejam: Kia Joorabchian, por exemplo, tem longa experiência em intermediar atletas brasileiros para clubes ingleses.

Leia ou ouça também:  Dick Cheney: um ícone da política americana

A ironia é que Marcelo Teixeira e Eghbali têm mais pontos em comum do que parecem. Ambos entendem o futebol como um negócio, ambos transitam bem entre empresários e ambos têm um olhar estratégico. A diferença é que, enquanto Teixeira precisa lidar com o passivo circulante e com o torcedor que protesta no portão do CT Rei Pelé, Eghbali lida com fundos, conselhos de administração e investidores globais.

Os críticos lembram que a SAF não é panaceia. Cruzeiro, Vasco e Botafogo abriram esse caminho no Brasil com resultados mistos: injeção inicial de capital, reestruturação administrativa, mas também perda de autonomia e, por vezes, conflitos entre torcedores, investidores e dirigentes. No caso santista, o risco é ainda mais simbólico, porque o clube é depositário de uma história que transcende títulos — é herdeiro do maior jogador de todos os tempos. Vender esse legado exige mais do que cláusulas contratuais; exige delicadeza política e compreensão cultural.

Mas há quem argumente que não há alternativa. Com um passivo descoberto de R$ 447 milhões e sem ativos líquidos para saldar dívidas, o Santos está financeiramente à deriva. A SAF seria o bote salva-vidas. E se o bote for comandado por Eghbali, ao menos ele vem com motor turbo, gasolina aditivada e know-how global. Para o torcedor que viu o time cair para a Série B em 2023, essa promessa soa tentadora.

Eghbali é dono de US$ 4,4 bilhões e um currículo de operações ousadas (Foto: FM24)
Eghbali é dono de US$ 4,4 bilhões e um currículo de operações ousadas (Foto: FM24)

Por fim, Eghbali talvez não seja o “novo dono do Santos” no sentido literal (ainda); talvez seja vencido por árabes, russos e outros mais afortunados na hora do “preto no branco”; mas ele simboliza o inevitável: o futebol brasileiro deixou de ser um feudo familiar local. Hoje, é ativo global, um playground para fundos multibilionários. E no tabuleiro do futebol, Marcelo Teixeira pode ser tanto um guardião quanto um negociador ou ainda um embaraço… A reunião de julho não foi apenas sobre cifras, mas sobre destino — um encontro entre dois mundos, duas biografias e duas visões de futebol.

Se o peixe vai virar SAF e nadar em águas internacionais, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o Santos, que sempre viveu de revelar craques e desafiar gigantes, agora se vê diante de um bilionário que olha para ele como quem olha para uma startup em potencial. É o choque entre a Vila Belmiro e Wall Street. E para um clube fundado à beira-mar, talvez não haja metáfora mais adequada: ou aprende a nadar nesse mar de tubarões, ou será engolido.


Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

Facebook Comments

Anúncios
Acessar o conteúdo
Verified by MonsterInsights