Eduardo Cunha, Revolução, Kesha…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Eduardo Cunha, Maravilha FM e a Bíblia das Conveniências: redenção, rádio e rádio redenção
Eduardo Cunha está de volta — ou, pelo menos, tentando. Depois de ter implodido uma presidente da República, sido preso, e virado personagem recorrente do teatro cínico-político nacional, o ex-presidente da Câmara agora deseja reestrear no Congresso, desta vez por Minas Gerais. Sim, trocou o Rio pelo queijo e quer o apoio dos evangélicos. Sua nova estratégia de marketing político-místico começa por Belo Horizonte, onde estreia em uma rádio chamada, sem ironia, Maravilha FM. Lá, lê trechos bíblicos a cada hora, talvez esperando que a repetição litúrgica o redima dos pecados laicos. O grupo de rádios — que cresce pelo interior mineiro — já opera sob o nome do genro, marido da deputada Dani Cunha, sua herdeira e spin-off legislativa. Se antes Eduardo falava com banqueiros e lobistas, agora fala com Deus. Ou melhor, sobre Deus, desde que isso renda votos. Não é o primeiro caso de Bíblia usada como palanque, mas talvez seja o mais audaciosamente transparente. Se a fé move montanhas, por que não mover as urnas?

O sindicalismo brasileiro: uma odisseia tropical com 17.289 capítulos e nenhum final
Enquanto sindicatos na Argentina (91), Reino Unido (168) e EUA (190) parecem lidar com a ideia de centralização, o Brasil segue fiel à sua vocação barroca de pulverizar tudo: temos 17.289 sindicatos. Isso mesmo. Um para cada quarteirão, praticamente. É o sindicalismo elevado à condição de capilaridade patológica. Há sindicato para tudo: dos balconistas de farmácia em regime parcial aos jogadores de peteca recreativa de segunda-feira. É como se cada cidadão tivesse direito a um CNPJ sindical próprio, com uma sede, um carro oficial e um dia de churrasco. Tudo isso sustentado por um ecossistema de contribuições obrigatórias e convenções coletivas que ninguém lê. A pluralidade virou paródia, e a defesa dos trabalhadores virou uma miríade de siglas que se digladiam em cafés de aeroporto. A luta de classes? Virou rifa de cargos. No Brasil, o sindicalismo não é um movimento. É um setor da economia.
9 de Julho: São Paulo comemora derrota com feriado, e a Revolução Constitucionalista vira peça de museu e meme
Todo 9 de julho, o estado de São Paulo se enche de solenidade, discursos sobre bravura e comemorações patrióticas — para lembrar de uma revolta… que perdeu. A Revolução Constitucionalista de 1932 é um caso raro de derrota que virou mito oficial. Foi uma tentativa de São Paulo (com ajuda de parte do Mato Grosso do Sul) de dizer a Getúlio Vargas: “Chega, queremos Constituição!”. Vargas respondeu com canhões e a revolta virou história. Mas o paulista, esse mestre da reinvenção simbólica, transformou a surra em heroísmo. Temos avenidas, estátuas, nomes de ruas, museus e, claro, o feriado. Um feriado para lembrar que perder, com estilo, pode ser mais rentável do que ganhar sem marketing. Se o Brasil é uma ópera bufa, São Paulo é seu barítono altivo. E neste feriado, enquanto muitos confundem a Revolução com a Proclamação da República ou com o 7 de Setembro, o estado vai às compras, porque revolução mesmo, hoje, é 70% de desconto com frete grátis.

A voz de Kesha não é dela: litígio, Dr. Luke e a ópera pós-pop da mulher que canta mas não manda em sua própria garganta
Kesha passou anos vivendo em dois mundos — um deles recheado de glitter e fãs, o outro de contratos, abusos e amarras jurídicas. Durante sua briga judicial com o produtor Dr. Luke, ela continuava cantando, mas sem possuir a própria voz. Literalmente. As gravações pertenciam à gravadora Kemosabe Records, ligada ao próprio produtor que ela acusava de abuso. O dilema era quase dostoievskiano: libertar-se do opressor produzindo arte para ele. No podcast Reclaiming, de Monica Lewinsky (sim, essa Monica), Kesha narra a insanidade emocional de viver presa entre o palco e o tribunal. “Foi a maior confusão mental da história”, diz ela. E quem duvidaria? As leis autorais americanas fizeram da voz um objeto alienável. Como se cantar para sobreviver à dor significasse, também, eternizar a prisão. Kesha saiu do contrato, mas não do trauma. E o pop? Esse continuou, como sempre, fingindo que bastam luzes, batidas e refrões para silenciar o que grita por dentro.
O Brasil esqueceu R$ 10,1 bilhões nos bancos: o amnésico coletivo mais lucrativo da história financeira recente
Você já deixou R$ 20 no bolso da calça? O Brasil deixou R$ 10,1 bilhões nos bancos. O Banco Central informou que essa montanha de dinheiro está esquecida em contas de pessoas físicas e jurídicas. São 43,9 milhões de pessoas e 4,2 milhões de empresas que, aparentemente, acordaram um dia e decidiram ignorar os próprios saldos. O valor é tão alto que poderíamos bancar metade de uma campanha presidencial ou comprar 11 ovos em um supermercado carioca. O mais irônico? O sistema de consulta foi lançado com alarde, filas virtuais e histeria coletiva — e mesmo assim, bilhões ficaram para trás. Talvez estejamos diante de um novo conceito: o capitalismo zen, onde dinheiro é apenas energia que flui, e esquecer R$ 500 é um ato de desapego espiritual. Ou talvez só provemos que o brasileiro, ao contrário do meme, não tem só CPF — tem CPF, CNPJ e memória curta. Em especial quando o banco é o beneficiário.
Trump quer taxar os Brics em 10%: o multilateralismo segundo um vendedor de imóveis com botão nuclear
Donald Trump acordou com vontade de guerrear, mas sem tanques — então decidiu atacar os Brics com tarifas. “Qualquer país do Brics terá uma cobrança de 10% em breve”, disse ele, com a mesma convicção de quem cobra taxa de limpeza em hotel. Lula respondeu indignado ao lado de Narendra Modi: “Não aceitamos intromissões”. O problema é que o mundo está vivendo um reboot geopolítico onde os blocos comerciais se comportam como gangues rivais e onde “multilateralismo” soa como palavra de dicionário empoeirado. A retórica de Trump é simples como sua gravata: ou você dança conforme a música americana, ou paga o cover. Lula tenta manter o tom altivo, defendendo a soberania dos países e o diálogo multilateral. Mas em tempos de TikTok e guerras comerciais, até isso soa vintage. O planeta virou um condomínio onde os síndicos não se falam, mas continuam mandando boletos. E Trump, como sempre, lidera o motim com um megafone e um tweet em caixa alta.
Última atualização da matéria foi há 5 meses
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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