Lutero, AVC, Bets…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Marco Rubio, Trump, Lula e o amor pragmático entre nações: quando a diplomacia descobre que brigar dá prejuízo
Marco Rubio anunciou o óbvio com ar de revelação: Brasil e Estados Unidos estão numa “trajetória positiva”. Traduzindo do diplomatiquês: sancionar, tarifar e ameaçar dá trabalho e custa caro. Depois de tarifas de 50%, pressão sobre o STF e bravatas eleitorais, Washington redescobriu o valor do café, da carne e do açaí. Lula, por sua vez, colheu dividendos da paciência institucional, viu Moraes sair da lista da Magnitsky e assistiu ao tarifaço minguar. O amor não é eterno, mas é funcional. Democratas pedem menos truculência, Trump acena com pragmatismo e Bolsonaro cumpre pena. No tabuleiro geopolítico, ideologia pesa menos que balança comercial — e nisso, ambos os lados falam a mesma língua.
Oito energéticos por dia, um AVC e a ilusão moderna de que o corpo aguenta tudo: cafeína não é milagre, é química
O caso inglês do homem que decidiu viver à base de energéticos deveria vir estampado em lata, com fonte maior que a marca. O sujeito bebia oito por dia, somando mais de 1.200 mg de cafeína — três vezes o limite recomendado — e acabou com um AVC no tálamo, pressão digna de foguete e sequelas duradouras. A indústria chama de “energia”; a medicina chama de bomba. Guaraná, taurina, ginseng e outros nomes exóticos fazem o coquetel parecer natural, quase xamânico, quando na verdade é farmacologia disfarçada. O corpo humano não foi projetado para funcionar como smartphone em carregamento rápido. Mas seguimos insistindo, porque cansaço virou fracasso moral e dormir, quase um ato subversivo.
Martinho Lutero, o fogo, a bula papal e o primeiro grande “print queimado” da história: quando a Reforma começou no modo incendiário
Em 20 de dezembro de 1520, Lutero não pediu audiência, não redigiu nota de esclarecimento nem acionou assessoria de crise. Preferiu o método clássico: fogo. Ao queimar publicamente a bula de excomunhão de Leão X, inaugurou não só a Reforma Protestante, mas também a longa tradição ocidental de resolver disputas teológicas com gestos performáticos. Foi o cancelamento antes do cancelamento, o rompimento de contrato antes do jurídico, a live simbólica antes do streaming. Aquele papel em chamas marcou o momento em que a autoridade divina começou a disputar espaço com a consciência individual — algo que, séculos depois, ainda deixa muita gente nervosa. Desde então, toda ruptura institucional carrega um pouco desse fósforo simbólico aceso por Lutero.

Lula aos 80, testosterona retórica em alta e a promessa de briga até os 120: a política brasileira como esporte de resistência
Lula subiu ao palco da ExpoCatadores como quem sobe num ringue imaginário. Falou em “surra”, em desafio, em comparação de legados, e fez da longevidade uma arma política. Aos 80, diz não envelhecer porque tem causa — uma tese metafísica respeitável num país que envelhece mal e sem projeto. Entre catadores, ministros e gritos de “governador” para Haddad, o presidente construiu um discurso que mistura épico sindical, ajuste de contas histórico e ameaça institucional cuidadosamente embalada como defesa da democracia. Relembrou prisões inéditas de ex-presidente e generais, prometeu veto, reafirmou o voto como única arma legítima e deixou claro: não haverá anistia emocional. No Brasil, até o Natal vira comício, e a ceia, trincheira.
Bets, Bolsa Família e o velho dilema nacional entre o pão na mesa e a roleta no bolso: quando o Estado bloqueia a aposta mas não o impulso
No mesmo instante em que o Congresso resolveu apertar o cinto das casas de apostas — não por virtude, mas por fome arrecadatória — o Ministério da Fazenda entrou em campo como árbitro rigoroso de várzea. Bloqueou acessos, fechou torneiras digitais e decidiu quem pode ou não fazer sua fézinha. O detalhe incômodo: os cadastros usados estariam mais atrasados que fila de INSS. Resultado? Ex-beneficiários do Bolsa Família e do BPC, agora oficialmente “desbatizados” da assistência, continuam tratados como pupilos do Estado incapazes de perder dinheiro por conta própria. As bets choram seus R$ 16 milhões mensais evaporados; o Governo defende a moralidade fiscal; e o brasileiro segue fiel ao seu esporte preferido: apostar contra si mesmo. Entre o vício privado e a tutela pública, sobra pouco espaço para o bom senso — esse sim, sempre fora do cadastro.

Correios, R$ 12 bilhões, juros elegantes e o eterno plano de reestruturação que nunca termina: estatal em modo sobrevivência assistida
O Tesouro abriu o cofre com cuidado cirúrgico: autorizou até R$ 12 bilhões em crédito para os Correios, mas liberou só R$ 5,8 bilhões em 2025 — exatamente o tamanho do rombo. Juros de 115% do custo de captação, cinco bancos envolvidos, PGFN supervisionando e um sublimite criado sob medida. Tudo tecnicamente impecável, politicamente defensável e simbolicamente melancólico. A estatal mais capilarizada do país segue operando entre planos de reequilíbrio e comunicados otimistas, enquanto o limite global de crédito público cresce como quem empurra o problema para o próximo relatório. Não impacta a meta fiscal, garante a Fazenda. Impacta apenas a paciência nacional, que continua esperando a encomenda de um Correio financeiramente saudável.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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