O diálogo é fundamental para Leandro Machado
Leandro Machado é natural do Mato Grosso. Formou-se em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB). É sócio-fundador da CAUSE, consultoria que apoia marcas e organizações na gestão de suas causas, com estratégias de conscientização, engajamento e mobilização. É um dos idealizadores e membro do Conselho Diretor da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e membro do júri internacional do Global Teacher Prize, considerado o prêmio Nobel da educação. Atuou por mais de quinze anos nas áreas de relações institucionais, gerenciamento de crises e comunicação corporativa de grandes empresas. Em 2015, foi reconhecido como Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial. Leandro é um apaixonado pela democracia e participação popular – e acredita que a tecnologia pode desempenhar um papel fundamental no engajamento dos cidadãos comuns na política e no futuro dos governos. “A caminhada é longa, mas já demos alguns passos. Em 2018, por meio do voto, o eleitor baniu muitos nomes da velha política. Foram eleitos novos sujeitos políticos que agora podem jogar o jogo junto com os velhos caciques. Para que esses novos “players” implementem suas formas de fazer política e seus posicionamentos, eles vão ter que contar com a atenção e apoio de seus eleitores durante todo seu mandato e exercitar o diálogo inclusive com quem parece impossível de conversar”, afirma.
Leandro, a “nova política” é uma expressão bastante usada na atualidade. O que define essa nova política em sua visão?
A chamada nova política se faz, na prática, e não só no discurso ou com novos rostos. E começa bem antes das eleições. A nova política buscou se preparar para assumir mandatos eletivos e muitos já passaram pelo serviço público, ou seja, já serviram aos brasileiros. A nova política também buscou ouvir os brasileiros, sobretudo seus anseios, e se debruçou em políticas públicas que já vêm dando certo em muitos lugares. A nova política chega às Câmaras, Assembleias e demais casas abrindo mão de privilégios, conchavos e arranjos já consagrados pela velha política. Uma política de renovação genuína tem mais transparência, é “ao vivo”, aberta e para todos. E neste aspecto a tecnologia tem muito a colaborar dando ainda mais acesso a esses parlamentares e potencializando seu trabalho, seja no sentido de buscar melhorias para o Brasil ou ao fazer denúncias.
Posso destacar alguns nomes. O Brasil elegeu a primeira mulher indígena deputada federal (RR), a Joenia Wapichana, membro do Agora! e que tem dado muita voz às causas indígenas e ambiental. O Marcelo Calero, deputado Federal eleito pelo RJ e também membro do Agora!, chega chamando atenção para o combate à corrupção e para a importância dos governos usarem cada vez mais tecnologias para diminuir burocracia e facilitar a vida do cidadão. O Agora! tem apoiado o Calero no que chamamos de bancada GovTech. E no Distrito Federal, o Leandro Grass tem feito um excelente trabalho ao ouvir a população, percorrer diversas localidades e cobrar o Governo. Neste caso, a nova política está muito mais nas ruas e menos dentro dos gabinetes.
Como implementar uma nova política num país que ainda insiste em praticar a velha política?
A caminhada é longa, mas já demos alguns passos. Em 2018, por meio do voto, o eleitor baniu muitos nomes da velha política. Foram eleitos novos sujeitos políticos que agora podem jogar o jogo junto com os velhos caciques. Para que esses novos “players” implementem suas formas de fazer política e seus posicionamentos, eles vão ter que contar com a atenção e apoio de seus eleitores durante todo seu mandato e exercitar o diálogo inclusive com quem parece impossível de conversar. Foi assim que o Agora! surgiu em 2016, tentando engajar o cidadão comum na política e fazendo com que uma geração que sempre esteve distante desse cenário participasse mais ativamente. Em 2018 os brasileiros deram um recado e querem se ver representados na política.
Tivemos uma boa renovação dos quadros nas eleições de 2018. O que não pode falhar nessa renovação?
A onda de renovação é uma grande demanda da sociedade desde 2013 quando muitos grupos foram paras as ruas. O grande desafio, como disse no início, é a renovação de práticas. É exercer o mandato atento à coletividade e não a interesses partidários ou à polarização. Tivemos um saldo positivo e quem entrou para fazer mudanças, vai conseguir fazê-las.
Que sinais já foram demonstrados e que trazem evidências positivas para uma renovação de qualidade?
Já vejo mudança de algumas práticas. O espírito de corpo das casas legislativas que geralmente protege os seus, tem sido vencido pela pressão popular e pudemos ver isso pelas votações à presidência da Câmara e do Senado. No dia a dia isso também se faz muito presente. O Calero denunciou o critério de escolha dos gabinetes da Câmara que priorizava políticos parentes de outros políticos que não se elegeram. Uma das integrantes de outro movimento de renovação, a Tabata Amaral, denunciou o filho de um deputado que estava ocupando o apartamento funcional que por direito deveria ser ocupado pela Tabata. O país não aceita mais essa falta de ética, transparência e desrespeito com o dinheiro público. Vejo também uma terceira força se organizando para representar aqueles que não se veem na polarização de esquerda e direita que ficou tão rígida nos últimos anos. Sem esquecer da sociedade civil que tem um papel fundamental para que o país consiga abolir velhas práticas.
Em que campos da nossa sociedade você acredita que ideias diferentes podem se tornar convergentes?
O Agora! acredita que podemos chegar a consensos em todas ou pelo menos nas principais áreas. Se eu listar três áreas – Educação, Saúde e Segurança -, certamente todos concordamos que queremos o mesmo: Educação e Saúde pública de qualidade e um país seguro para todos e todas. Indo para um ambiente mais político, a pauta de combate aos privilégios também une as pessoas.
Isso será possível, mesmo num país extremamente polarizado como o Brasil?
Como disse, todo mundo quer Educação de qualidade, Saúde acessível e se sentir mais seguro. Isso independe de ideologia política e acredito que nos une. No final das contas, todos queremos um mesmo Brasil, com mais oportunidades e respeito. Só precisamos exercitar mais o diálogo para buscar consensos.
Quais os pilares que moldam o Movimento Agora!?
Os principais pilares que definem a atuação do Agora! são respeito ao diálogo democrático, aversão à polarização e extremismos, compromisso inegociável com a ética, foco no combate às desigualdades a partir de soluções concretas e compromisso com interesse e serviços públicos.
Uma das bandeiras do Agora! é a redução da desigualdade social. Como deve ser feito esse enfrentamento para solucionar (ou pelo menos diminuir) esse grave problema?
O Agora! foi criado como um movimento a partir da sociedade civil, por isso, acreditamos que o envolvimento e o trabalho conjunto da sociedade é essencial para combater as desigualdades. Por isso nossa agenda de redução das desigualdades é transversal a todas as outras. Nossas propostas são divididas em dois grandes blocos: receitas – reformar o sistema tributário para que impostos sejam coletados de maneira mais igualitária entre os mais ricos e os mais pobres, e despesas – investimento dos recursos do Estado em áreas estratégicas e nas populações mais vulneráveis. Para conhecer o que sugerimos em pelo menos oito áreas, convido a todos a visitarem o site.
A sociedade civil já demonstra desejo de se reaproximar da política como anseia o Agora!?
Observamos que esse desejo existe sim. Em julho de 2017 fizemos uma pesquisa em parceria com o Instituto Ideia Big Data e 79% dos entrevistados declararam que gostariam de ver cidadãos comuns atuando na política. Isso nos mostra que a população tem o desejo de se reaproximar da política, mas também de ver pessoas que representem a sociedade civil em cargos técnicos e eletivos. Até agora os partidos políticos e os próprios políticos tinham o monopólio dessa representação.
Corrupção é o que fez essa sociedade se afastar da política ou outros problemas foram cruciais para isso?
Com certeza as práticas de corrupção observadas no nosso país contribuiu para que a sociedade se afastasse da política, mas não acredito que esse tenha sido o único motivo. Existe também uma crise de representatividade: a sociedade civil olha para os políticos eleitos e não vê uma conexão, não sente que aquelas pessoas representam suas ideias e interesses. Foi justamente em meio a essa crise de representação que surgiu o Agora! com uma nova proposta: aproximar a sociedade da política a partir da ação e do engajamento da própria sociedade civil.
Você afirmou que os partidos políticos estão em xeque. O que é essencial na forma de conduzir um movimento como o Agora!, para que ele não fique em xeque também?
É sempre importante lembrar que o Agora não é um partido político e sim um movimento de renovação formado pela sociedade civil. Somos um grupo plural, formado por cerca de 90 homens e mulheres especialistas em suas áreas de atuação e composto também por cerca de sete mil parceiros e apoiadores, distribuídos por todas as regiões do Brasil. Estamos sempre agindo em conjunto e escutando demandas da sociedade para desenvolver e aperfeiçoar nossas propostas de políticas públicas, e neste processo tão dinâmico, estamos sempre em renovação. Neste contexto, é preciso também entender que é possível impactar o debate público de outras formas, em cargos técnicos e em organizações da sociedade civil.
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