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A clareza na escrita de Luis Fernando Verissimo

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Com mais de 60 títulos publicados, o porto-alegrense Luis Fernando Verissimo é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. Conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicadas diariamente em vários jornais brasileiros. Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e revisor de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Em 2003, uma reportagem de capa da revista Veja destacou Verissimo como “o escritor que mais vende livros no Brasil”. Ao mesmo tempo, a versão em inglês de “Clube dos Anjos” (“The Club of Angels”) é escolhida pela New York Public Library como um dos 25 melhores livros do ano. Em 2004, na França, recebeu o Prix Deux Oceans do Festival de Culturas Latinas de Biarritz. É filho do também lendário escritor Érico Veríssimo. “A falta de leitores decorre da falta de condições econômicas para comprar livros. A solução é melhorar o nível de vida da população para aumentar o mercado editorial. E a educação. Na minha experiência, o que está sendo feito nas escolas, pelos professores, para criar interesse pela leitura, com a encenação de textos e convites para a visita de autores, por exemplo, está sendo bem feito. (…) Eu não tenho nenhuma pretensão a fazer Literatura, com “L” maiúsculo”, afirma o escritor. 

É quase uma unanimidade quando se fala no nome de Luis Fernando Verissimo. Por que acredita que exista tanto carinho e respeito com o seu trabalho, depois de anos nesse ofício que o senhor mesmo diz que é como qualquer outro?

Meus textos são curtos e quase sempre bem humorados, de leitura fácil. Mas eu acho engraçado quando me chamam de “unanimidade”. É porque não sabem das cartas raivosas que recebo de leitores, geralmente quando o assunto é política.

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Por que o senhor acha que não tem uma obra literária importante?

É a velha discussão sobre crônica, se é um gênero literário respeitável ou não. Eu não tenho nenhuma pretensão a fazer Literatura, com “L” maiúsculo.

O senhor nunca conversou sobre literatura com o seu pai. Quais eram as conversas que tinha naquela época com o lendário Érico Veríssimo?

Nós éramos, os dois, pessoas introspectivas, que convivíamos bem sem a necessidade do papo literário. Mas ele me influenciou de várias maneiras indiretas. Meu gosto pela leitura vem do convívio com ele…

Assim como o seu pai, o senhor tem um texto de fácil comunicação com o público. Como ser popular sem cair no popularesco?

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Acho que a gente pode ser acessível sem necessariamente ser superficial ou primário. O importante é escrever com clareza.

Os jovens gostam muito dos seus livros, mas no geral ainda temos poucos leitores se compararmos com o tamanho do nosso país. O que o senhor acredita que precisa ser feito para termos ainda mais leitores de livros no Brasil?

A falta de leitores decorre da falta de condições econômicas para comprar livros. A solução é melhorar o nível de vida da população para aumentar o mercado editorial. E a educação. Na minha experiência, o que está sendo feito nas escolas, pelos professores, para criar interesse pela leitura, com a encenação de textos e convites para a visita de autores, por exemplo, está sendo bem feito.

Como enxerga o humor na mídia brasileira atualmente?

A grande novidade no humor brasileiro é o “Porta dos Fundos”, mas o programa não é para todos os públicos. O humor típico brasileiro ainda é o do exagero caricato, que também tem seu valor.

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O senhor se desiludiu com a política nacional e vamos dizer que “morreu” em 2005 junto com a Velhinha de Taubaté?

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É, a Velhinha [Velhinha de Taubaté é um personagem criado por Verissimo durante o Governo do general João Baptista de Figueiredo 1979 – 1985, famosa por ser “a última pessoa no Brasil” que acreditava no Governo] morreu porque não acreditava em mais nada e em ninguém. Ainda não cheguei a esse ponto.

Em uma certa ocasião, o senhor afirmou que o grande segredo é escrever sem ter assunto. Quantas vezes já teve que escrever sem ter assunto?

Esse é um velho truque, já manjado: na falta de assunto, escreve-se sobre a falta de assunto. Não funciona mais. Mas tirar uma crônica do nada, em cima do prazo, ainda é um desafio.

No seu livro “Diálogos Impossíveis”, podemos dizer de certa forma, que existe uma observação com uma certa dose de ironia de alguém que é tido como tímido, mas que, na verdade, diz que são os outros que conversam demais, ou seja, nem sempre conversar demais melhora a comunicação trazendo muitas vezes mal-entendidos?

Quando dizem que eu falo pouco, sempre respondo que são os outros que falam muito. Sou naturalmente introvertido, se bem que a timidez tenha diminuído com a idade. Mas concordo: com silêncio as pessoas se entendem mais que falando.

Como vê a ascensão das Dora Avantes nos grandes veículos de comunicação do nosso país, em certos casos se tornando apresentadoras de programas de TV?

A Dora Avante [Dora Avante ou Dorinha é uma personagem criada por Verissimo que critica as dondocas da alta sociedade, com suas ideias fúteis, a instabilidade de seus relacionamentos amorosos e a obsessão pela eterna juventude, manifestada nas operações plásticas e na insistência em não revelar a própria idade] plástica precisa sobreviver, ainda mais quando está entre maridos e chega a conta do Pitanguy [Ivo Pitanguy, professor, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos mais renomado cirurgiões plásticos do Brasil e do mundo].

Mudou de alguma forma a maneira de ver a vida, depois que uma gripe o levou à UTI em novembro de 2012?

Não. Sempre gostei muito de viver e isto não mudou. A morte é a última coisa que eu quero que me aconteça.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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