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Por que o NYT criou o pornô chic?

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No início da década de 1970, a sociedade americana testemunhou uma transformação cultural significativa: a ascensão do “pornô chic”. Esse termo, cunhado pelo jornalista Ralph Blumenthal em um artigo de cinco páginas no The New York Times Magazine em 21 de janeiro de 1973, descrevia o fenômeno em que filmes pornográficos começaram a ser discutidos abertamente por celebridades e levados a sério por críticos de cinema. Antes restrita a ambientes clandestinos, a pornografia passou a ocupar espaço no mainstream cultural, influenciando não apenas o cinema, mas também a moda, a publicidade e outras esferas da sociedade. Filmes como “Garganta Profunda” (1972), “Atrás da Porta Verde” (1972) e “O Diabo na Sra. Jones” (1973) não apenas alcançaram sucesso de bilheteria, mas também foram objeto de debates públicos e análises críticas, marcando o que ficou conhecido como a “Era de Ouro da Pornografia”.

O contexto cultural dos anos 1970

A década de 1970 foi marcada por uma série de mudanças sociais e culturais nos Estados Unidos. Movimentos pelos direitos civis, a segunda onda do feminismo e a contracultura dos anos 1960 desafiaram normas estabelecidas e promoveram uma maior abertura em relação a temas antes considerados tabus, incluindo a sexualidade. Nesse cenário, a pornografia começou a emergir das sombras, impulsionada por uma demanda por conteúdos que refletissem a nova liberdade sexual da época. A legalização da pornografia na Dinamarca em 1969 e a subsequente produção de filmes com conteúdo explícito influenciaram cineastas americanos a explorar o gênero de maneira mais artística e narrativa. A sociedade estava, portanto, em um ponto de inflexão, onde a curiosidade e a vontade de quebrar barreiras culturais abriram espaço para que a pornografia se infiltrasse no mainstream.

A emergência do “pornô chic”

O termo “pornô chic” surgiu para descrever a tendência de filmes pornográficos que, diferentemente das produções anteriores, possuíam enredos elaborados, melhor qualidade de produção e eram exibidos em cinemas convencionais. “Garganta Profunda” (1972), dirigido por Gerard Damiano e estrelado por Linda Lovelace, é frequentemente citado como o ponto de partida desse movimento. O filme narrava a história de uma mulher em busca de satisfação sexual, apresentando cenas explícitas envoltas em uma trama humorística. Seu sucesso inesperado, tanto de público quanto de crítica, abriu caminho para outras produções como “Atrás da Porta Verde” (1972), dos irmãos Mitchell, e “O Diabo na Sra. Jones” (1973), também de Damiano. Esses filmes não apenas atraíram grandes audiências, mas também despertaram o interesse de figuras públicas e críticos renomados, que começaram a discutir abertamente o valor artístico e cultural dessas obras.

A influência do The New York Times

A decisão do The New York Times de publicar um artigo extenso sobre o fenômeno “pornô chic” representou um marco na legitimação da pornografia como tema de discussão cultural séria. O jornalista Ralph Blumenthal, em seu artigo de 1973, destacou como filmes pornográficos estavam se tornando “fashionáveis e muito lucrativos”, analisando o impacto econômico e social dessas produções. Ao abordar o assunto com seriedade e profundidade, o jornal não apenas refletiu as mudanças culturais em curso, mas também influenciou a percepção pública sobre a pornografia, afastando-a do estigma e aproximando-a do debate intelectual e artístico. Essa cobertura midiática contribuiu para que o “pornô chic” fosse visto como um movimento cultural legítimo, digno de análise e discussão nos círculos mainstream.

Impacto na moda e na publicidade

A ascensão do “pornô chic” transcendeu o cinema e permeou outras áreas da cultura, especialmente a moda e a publicidade. Fotógrafos renomados como Helmut Newton e Terry Richardson incorporaram elementos eróticos explícitos em seus trabalhos, criando imagens que desafiavam as convenções e exploravam a sensualidade de maneira sofisticada. Marcas de moda começaram a adotar estéticas mais ousadas, refletindo a crescente aceitação da sexualidade aberta na sociedade. Campanhas publicitárias passaram a utilizar temas e imagens que antes seriam consideradas inapropriadas para o mainstream, evidenciando uma mudança nos padrões de moralidade e nas estratégias de marketing. Essa tendência, iniciada nos anos 1970, continuou a evoluir nas décadas seguintes, influenciando a forma como a sexualidade é representada na mídia e na cultura popular.

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Controvérsias e reações sociais

Apesar da crescente aceitação e popularidade do “pornô chic”, o movimento não esteve isento de controvérsias. Grupos conservadores e religiosos expressaram preocupações sobre o impacto moral e ético da pornografia na sociedade. Debates acalorados surgiram sobre a objetificação do corpo, a exploração sexual e os possíveis efeitos negativos no comportamento social. Além disso, questões legais relacionadas à obscenidade e à censura foram amplamente discutidas, levando a batalhas judiciais que buscavam definir os limites da liberdade de expressão e da decência pública. Essas controvérsias destacaram as tensões entre a liberdade artística e os valores tradicionais, refletindo os desafios enfrentados por uma sociedade em rápida transformação cultural.

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A transição para o vídeo doméstico

Com o advento do videocassete nos anos 1980, a indústria pornográfica passou por uma transformação significativa. A possibilidade de consumir conteúdo adulto no conforto e na privacidade do lar reduziu a frequência ao cinema para assistir a filmes pornográficos. Essa mudança impactou a produção, que se voltou para filmes de menor orçamento e qualidade variável, priorizando a quantidade sobre a qualidade artística.

Isso marcou o declínio do “pornô chic” como um fenômeno cinematográfico e sua transição para um formato mais acessível e menos prestigiado. A pornografia se tornou amplamente disponível, mas perdeu a aura de sofisticação que havia adquirido nos anos 1970. Grandes produções como Garganta Profunda e O Diabo na Sra. Jones deram lugar a vídeos de baixo orçamento, voltados para o consumo rápido e sem a pretensão de contar histórias elaboradas. Com isso, o debate intelectual e cultural em torno do pornô também se dissipou, dando espaço para uma abordagem mais comercial e menos artística do gênero.

O legado do “pornô chic” nos dias atuais

Apesar do declínio do “pornô chic” como movimento cinematográfico, sua influência ainda pode ser percebida na cultura contemporânea. O erotismo continua a desempenhar um papel central na moda, na publicidade e no cinema mainstream. Filmes como Nove Semanas e Meia de Amor (1986), Instinto Selvagem (1992) e Cinquenta Tons de Cinza (2015) resgatam elementos do “pornô chic”, explorando a sexualidade de forma estilizada e sofisticada.

Além disso, a ascensão das plataformas de streaming e da pornografia sob demanda trouxe uma nova era de experimentação no gênero adulto. Produções independentes, muitas vezes dirigidas por mulheres, buscam resgatar a abordagem artística e narrativa que marcou o “pornô chic” nos anos 1970. A pornografia de luxo, com estética refinada e ênfase na experiência sensual, tem encontrado um público disposto a consumir conteúdo erótico que vai além do convencional.

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Ao mesmo tempo, o debate sobre a pornografia e seus impactos sociais continuam relevante. Questões como o empoderamento feminino, a ética na produção de filmes adultos e a influência da internet no consumo de pornografia são temas recorrentes nas discussões culturais e acadêmicas. Assim, mesmo que o “pornô chic” tenha deixado de ser um fenômeno dominante, seu legado persiste e continua a moldar a forma como a sociedade enxerga a sexualidade no entretenimento.


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