Oleg Deripaska: o imperador do alumínio
Oleg Deripaska é uma daquelas figuras que parecem saídas de um romance russo moderno — desses em que o vilão e o herói compartilham o mesmo rosto. Nascido em 1968, ele atravessou a turbulência da Rússia pós-soviética como quem atravessa um campo minado com uma colher de prata na mão. No final da década de 1990, quando os oligarcas brotavam do chão fertilizado pela desordem econômica, Deripaska erguia seu império de alumínio, uma matéria-prima que, ironicamente, se tornou símbolo do peso do dinheiro. Hoje, com uma fortuna estimada em 4,2 bilhões de dólares, ele continua sendo uma das personalidades mais enigmáticas e controversas do capitalismo russo.
Deripaska construiu a Rusal, a maior produtora de alumínio do mundo fora da China, com uma combinação de genialidade financeira, ambição desmedida e, dizem, uma dose de brutalidade corporativa típica da era Yeltsin. Não é à toa que muitos o chamam de “imperador do alumínio”. Ele não apenas dominou um setor estratégico — essencial para aeronaves, automóveis e infraestrutura —, como também se tornou peça-chave no xadrez político-econômico da Rússia. Em Moscou, poucos enriqueceram tanto e tão rápido. E menos ainda conseguiram permanecer de pé depois da tempestade de sanções, acusações e mudanças de poder.
“A habilidade de Deripaska em sobreviver politicamente é quase uma arte performática. Ele soube, ao longo das décadas, adaptar-se ao novo czarismo econômico de Vladimir Putin, sem jamais se colocar completamente de joelhos — mas também sem levantar demais a cabeça. Uma dança perigosa, que muitos oligarcas não souberam executar.”
Seus métodos, no entanto, nunca foram exatamente suaves. O império de Deripaska foi erguido em meio a disputas ferozes, aquisições questionáveis e uma guerra corporativa que, segundo críticos, beirava o faroeste. Ele sempre negou qualquer envolvimento com práticas ilegais, claro — e o fez com a fleuma de quem sabe que, na Rússia, o poder fala mais alto que o passado. Sua fortuna, construída sobre a transformação de fábricas soviéticas decadentes em gigantes privatizadas, o colocou entre os homens mais ricos do país. Mas também o transformou num alvo constante, tanto do Ocidente quanto de rivais internos.
Em 2018, Deripaska foi atingido em cheio pelas sanções impostas pelos Estados Unidos, que o acusaram de ter ligações próximas com o Kremlin e com atividades “incompatíveis com os valores democráticos ocidentais”. Suas empresas, incluindo a En+ e a Rusal, viram as ações despencarem muito rapidamente. A fortuna pessoal derreteu como alumínio ao sol. Ainda assim, o oligarca não desapareceu. Como os personagens resilientes de Dostoiévski, ele recuou, reorganizou e, em silêncio, manteve o controle sobre partes do império que ainda respiravam lucro.
Entre sanções e sobrevivência
A habilidade de Deripaska em sobreviver politicamente é quase uma arte performática. Ele soube, ao longo das décadas, adaptar-se ao novo czarismo econômico de Vladimir Putin, sem jamais se colocar completamente de joelhos — mas também sem levantar demais a cabeça. Uma dança perigosa, que muitos oligarcas não souberam executar. Alguns acabaram exilados, outros mortos, outros simplesmente apagados da história. Deripaska, ao contrário, ainda respira o ar rarefeito do poder, mesmo que suas asas tenham sido parcialmente queimadas.
Nos últimos anos, ele tentou se apresentar como uma espécie de empresário pragmático, defensor de reformas econômicas e até crítico discreto do excesso de centralização estatal. Em 2022, por exemplo, ousou sugerir que o governo russo precisava de mais transparência e eficiência. Uma ousadia que, em outro contexto, seria banal, mas na Rússia soa quase como uma heresia sussurrada na catedral do autoritarismo.
Mesmo assim, o império do alumínio segue firme. A Rusal continua produzindo, exportando e sustentando milhares de empregos. Deripaska, por sua vez, aprendeu que o alumínio é um metal dúctil — e talvez tenha aplicado a mesma lição a si. Ele molda a própria imagem conforme o vento político muda de direção. É o tipo de sobrevivente que entende o jogo do poder como uma questão de liga metálica: resistência, maleabilidade e brilho suficiente para cegar quem olha demais.
Há quem diga que o oligarca busca, discretamente, se distanciar do rótulo de “homem do sistema”. Outros afirmam que ele nunca deixou de ser parte essencial da engrenagem. A verdade, como quase tudo na Rússia contemporânea, é opaca. Deripaska é simultaneamente símbolo do sucesso capitalista e do colapso moral da transição pós-soviética. Um homem que, ao transformar alumínio em ouro, revelou que o milagre econômico russo tinha o mesmo brilho falso de um metal polido demais.

Oleg Deripaska é, em última instância, o retrato de um país que ainda não decidiu se quer ser império ou empresa. Um bilionário que sabe o preço de tudo e o valor de nada, mas que, de alguma forma, continua ditando as regras num jogo que devora quem tenta entendê-lo. No fim, ele talvez seja menos um imperador e mais um alquimista moderno — daqueles que descobriram que, na Rússia, o poder é o verdadeiro metal precioso.
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