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Mulheres, Zumbi, ultraprocessados…

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Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.

Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.

Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.

Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.

Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.

Donald Trump, Jeffrey Epstein, Times Square e a inevitável colisão entre memória curta, cartazes grandes e arquivos que ninguém quer abrir: a nova temporada do velho escândalo

Donald Trump acordou recentemente com um súbito ataque de transparência — condição rara, geralmente causada por pressão política, luz forte ou medo de que alguém publique “prints”. O presidente americano, que sempre variou entre “não lembro”, “não estava lá” e “não sou eu na foto”, agora pede que republicanos votem pela divulgação dos arquivos do caso Jeffrey Epstein. Segundo ele, “não temos nada a esconder”, o que, numa democracia saudável, deveria soar tranquilizador; nos Estados Unidos atual, soa mais como o aviso prévio de que algo muito feio está prestes a emergir. Para enriquecer a paisagem, Times Square acaba de ganhar um monumental outdoor proclamando: “Epstein on Donald Trump: Of course he knew about the girls”. A frase, que qualquer assessor de comunicação enterraria a sete palmos, agora brilha para milhões de turistas que só queriam um hot dog e uma selfie com o Naked Cowboy. É como se a verdade, cansada de ser ignorada, tivesse contratado um bom publicitário. Trump tenta contra-atacar alegando perseguição, complô comunista e talvez interferência extraterrestre, mas o fato é que a história está de volta — e mais uma vez o mundo descobre que negar gravidade não impede a queda. Resta saber se a transparência súbita é uma estratégia brilhante ou mais um capítulo da velha tática de inverter a mesa antes que o garçom traga a conta.

Ritchie Blackmore, renascentista tardio, cardiologista ansioso e a inevitável batalha entre gota, idade e guitarras medievais: um trovador do século XXI tentando vencer o tempo

Ritchie Blackmore, o homem que reinventou riffs e brigou com metade do rock britânico, agora luta contra um inimigo menos romântico: o próprio corpo. O Blackmore’s Night, seu projeto renascentista com Candice Night, já vinha reduzindo o ritmo; agora, oficializou o adiamento de toda a turnê americana e, pela linguagem evasiva do comunicado — “questões médicas” —, fica claro que a situação é mais grave do que o marketing gostaria de admitir. Candice revelou que o guitarrista sofreu um ataque cardíaco há pouco mais de um ano e meio, recebe recomendações rígidas de cardiologistas e coleciona seis stents como quem colecionava púas de guitarra nos anos 70. Some-se a isso gota, artrite e dores nas costas e temos um guerreiro medieval enfrentando batalhas que nem o arco e flecha resolveriam. Ele completa 80 anos em abril de 2026, embora insista em tocar como se tivesse 40. Candice, prática, lembra que os fãs aceitariam até vê-lo de cadeira de rodas — afinal, para quem sobreviveu às versões tardias do Rainbow, qualquer configuração é lucro. Mas Blackmore não quer parecer debilitado. Quer parecer mito. E o mito, infelizmente, não viaja mais de avião. A música renascentista pode esperar; o século XXI, não. Resta ao público torcer para que o trovador continue seu canto enquanto o tempo permitir — mesmo que seja do sofá, com compressa quente e cardiologista na linha.

Violência contra mulheres, estatísticas que não mudam e o espanto ensaiado da humanidade: quando a OMS lembra ao mundo que meio planeta vive com medo e a outra metade finge surpresa

A OMS divulgou um relatório devastador: 840 milhões de mulheres já sofreram violência doméstica ou sexual ao longo da vida. É um número tão grande que deveria paralisar o mundo — mas, claro, não paralisa. Dos últimos 12 meses, 316 milhões foram vítimas de violência física ou sexual praticada por parceiros. O progresso? Risível: queda anual de 0,2% desde 2000. É como tentar esvaziar o oceano com uma colher furada. Pela primeira vez, o relatório inclui estimativas de violência cometida por não parceiros, chegando a 263 milhões de vítimas — e ainda assim subnotificado, graças ao estigma universal que transforma sobreviventes em culpadas em potencial. Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, diz o óbvio com elegância diplomática: nenhuma sociedade é justa enquanto metade de sua população vive com medo. O problema é que governos, na prática, tratam esse assunto com a eficiência de quem tenta resolver incêndio soprando. O relatório fala em ampliar políticas, fortalecer serviços, investir em dados — aquele pacote básico que todo relatório internacional repete há décadas. O drama maior: a violência começa cedo. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, 16% já sofreram violência de parceiros. O planeta segue indiferente, culpando roupas, horários e hormônios, como se a violência fosse fenômeno climático, não estrutural. E assim o mundo gira, sempre um pouco mais vergonhoso do que no dia anterior.

840 mi de mulheres já sofreram violência doméstica ou sexual em toda vida (Foto: Wiki)
840 mi de mulheres já sofreram violência doméstica ou sexual em toda vida (Foto: Wiki)

Zumbi, 1695, Palmares e a eterna mania brasileira de transformar resistência negra em rodapé de livro didático: o passado que ainda grita mais alto que a República

Em 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares foi morto por tropas de Domingos Jorge Velho, o bandeirante que a história oficial insiste há séculos em tratar como desbravador, não como destruidor. É um desses episódios que o Brasil relembra com solenidade anual — discursos protocolares, hashtags de ocasião e, claro, a tradicional ignorância prática que segue firme e forte. Zumbi, líder do maior quilombo da América, virou símbolo de resistência, orgulho e luta, mas continua sendo apresentado no ensino básico como uma nota de rodapé entre escravidão e República. A data de hoje existe para isso: lembrar que nada foi dado, tudo foi arrancado. Palmares resistiu quase um século à maquinaria colonial, algo que deveria ser estudado com profundidade, não com pressa. O país, porém, é especialista em esquecer o que incomoda e celebrar apenas o que cabe no calendário. A ironia: quase quatro séculos depois, o Brasil ainda debate se deve ou não reconhecer o óbvio — que sem Zumbi e tantos outros, não teria havido história brasileira para contar. O 20 de novembro serve, portanto, como alerta e acusação. É o passado levantando a mão e dizendo: “Eu ainda estou aqui, e vocês ainda não aprenderam nada”.

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Ultraprocessados, grandes corporações, doenças crônicas e o Brasil entrando de cabeça no buffet químico global: o século da comida que não estraga porque já nasceu estragada

Pesquisadores da USP e mais 40 cientistas publicaram na The Lancet uma constatação indigesta: a participação de ultraprocessados na dieta brasileira saltou de 10% para 23% desde os anos 1980. A pizza congelada venceu. O biscoito recheado venceu. A salsicha venceu. E nós, consumidores orgulhosos de “amor à comida caseira”, perdemos. O fenômeno não é isolado: em 93 países analisados, o consumo só não aumentou no Reino Unido — que já parou no patamar surreal de 50% da dieta composta por ultraprocessados. Os EUA seguem campeões, com mais de 60%. Os produtos são baratos, práticos e viciantes, o que é exatamente o objetivo das corporações globais que os vendem. Como lembra o pesquisador Carlos Monteiro, o lobby dessas empresas é tão poderoso que políticas públicas de alimentação saudável parecem sempre nascer doentes. As consequências estão aí: aumento de obesidade, diabetes tipo 2, câncer colorretal e doenças inflamatórias intestinais. A revisão de 104 estudos mostra que 92 associam ultraprocessados a doenças crônicas. A ciência já grita; o mercado, mais alto. E o consumidor, entre um miojo e um frango empanado, segue acreditando que está só “matando a fome”, quando na verdade está sendo devorado por uma lógica industrial que transforma comida em produto e saúde em detalhe.

Sérgio Moro, Polícia Federal, megaoperações e a eterna disputa de narrativas no palco preferido de Brasília: onde CPI vira arena, estatística vira munição e ninguém admite erro

Na CPI do Crime Organizado, Sérgio Moro resolveu questionar a eficiência da Polícia Federal. Segundo ele, há uma “percepção” de que a PF não está fazendo o suficiente. “Percepção” é sempre uma palavra interessante — permite criticar sem precisar provar. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, rebateu explicando que a corporação trabalha com grupos permanentes de investigação, como a Ficco e a Gise, e que só não participou da megaoperação do Rio (aquela com 121 mortos) porque a PF simplesmente não tinha atribuição legal ali. Uma resposta burocraticamente impecável, ainda que politicamente inconveniente. Moro, por sua vez, comparou a mobilização da PF no 8 de Janeiro com a atuação contra facções como PCC e Comando Vermelho, como se esses fenômenos fossem equivalentes em estrutura, motivação e lógica de operação. Brasília, no entanto, adora esse tipo de paralelo improvável: dá manchete, dá clique, dá discurso inflamado. A PF tenta se defender apontando novos setores de análise de facções, mapeamentos e operações — um esforço técnico que raramente rende like nas redes. No fundo, o embate revela mais sobre o jogo político do que sobre a segurança pública. E confirma aquilo que o país já sabe, mas insiste em fingir que não: em Brasília, até a luta contra o crime organizado vira instrumento de disputa entre quem quer palco e quem quer protocolo.

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