A visão do mentor Mauricio Benvenutti
Mauricio Benvenutti é escritor, empreendedor, mentor e palestrante. Especialista em Sistemas de Informação pela PUCRS, possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas e pós-graduação em Marketing por UC Berkeley. Foi sócio e diretor B2B da XP Investimentos por quase 10 anos e ajudou a transformá-la na maior corretora do Brasil e numa das maiores instituições financeiras da América Latina. Desde 2015, é sócio e membro do conselho da StartSe – empresa de educação executiva com sedes no Vale do Silício, China e Brasil. A StarSe já levou mais de 8 mil pessoas para participar dos programas internacionais, dentre eles empreendedores, CEOs, governadores de estado, empresas, atores, músicos, etc. É autor dos livros “Incansáveis” (9ª edição) e “Audaz” (5ª edição), duas obras lançadas pela Editora Gente que entraram na lista dos mais vendidos do Brasil na categoria “negócios”. No início do mês, o autor lançou “Desobedeça”, seu terceiro livro pela Editora Gente. “No livro, explico como mudei minha postura para deixar de ser o “Mauricio da XP” e passar a ser o “Mauricio Benvenutti”. Também mostro como as empresas devem apostar numa política de valorização da reputação pessoal dos seus colaboradores e não focar apenas nas experiências profissionais. Tal conduta pode aumentar o reconhecimento, a influência e, até mesmo, as vendas de uma companhia”, explica Benvenutti.
Mauricio, como se encontra as startups brasileiras neste momento em comparação com outras partes do globo?
Se analisarmos o hoje, o agora, outras regiões do mundo, outros ecossistemas de inovação como Vale do Silício, Nova York, Seattle, Austin, Toronto, Índia, Israel, Europa, esses locais têm alguns atributos que favorecem a inovação: abundância de capital, ecossistema mais favorável… Mas quando analisamos os últimos 5, 10 anos dessa evolução, essa diferença ou essa disparidade entre o Brasil e o resto do mundo era muito maior. O Brasil deu um salto muito grande nos últimos anos no que diz respeito ao surgimento de startups competitivas, a ponto de ganhar mercado e impactar não só a economia brasileira, mas de outras partes do mundo também. Isso deve muito em função do que é fundamental para um ecossistema de inovação acontecer, ou seja, você ter cases de sucesso. Pessoas que já empreenderam e que tiveram uma saída bem-sucedida. O fato de terem ganhado dinheiro e colocado esse dinheiro no bolso, faz com que muitos desses empreendedores acabem criando fundos de investimento para investir em outras startups.
Então, você começa a criar uma espiral, um ciclo. E isso foi o que aconteceu quando olhamos outras partes do mundo. Quando você tem empreendedores que criam startups, recebem investimentos de fundos, crescem, conseguem fazer uma saída bem-sucedida, colocam dinheiro no bolso… o que eles fazem a seguir? Começam a investir no próprio ecossistema. Isso é fundamental. Temos diversos fundos de investimento no Brasil, criados por ex-empreendedores (isso é ótimo). No Brasil hoje já perdemos a conta de quantos unicórnios existem (startups que valem mais de 1 bilhão de dólares). Não existia nenhuma há 5 anos atrás e hoje não dá mais para contar. O Brasil deu saltos incríveis no que diz respeito ao ecossistema de inovação especificamente de startups nos últimos anos.
Além da alta carga tributária, quais são os outros grandes obstáculos para quem quer empreender no Brasil?
São três fatores na minha visão que favorecem o ecossistema de inovação e as pessoas que querem empreender. Primeiro: você tem que ter a presença da rebeldia, do pensamento criativo, do pensamento diferente. Você tem que ter um ecossistema que privilegie as ideias distintas e não que afronte as mesmas ou que intimide as mesmas. Você tem que ter essa presença de rebeldia e ter a presença de uma sociedade que valoriza isso; Segundo: além da rebeldia, é imprescindível você ter o conhecimento. Por quê? Porque um rebelde sozinho com uma bandeira querendo mudar o mundo é apenas um rebelde sozinho com uma bandeira querendo mudar o mundo… Sozinho ninguém vai muito além. Agora, quando você colocar capital intelectual ao lado dessa rebeldia, você começa criar as condições para que essa “loucura” comece a virar um produto ou uma solução. Presença de capital intelectual, de conhecimento, de nível profundo, de detalhamento em uma determinada ciência, isso é fundamental. Presença de boas universidades, presença de boas Academias, de bons institutos de pesquisa, de pessoas com conhecimento profundo, isso é imprescindível; Terceiro: capital. É a presença de pessoas dispostas a olhar para essa “loucura”, enxergar valor nisso e colocar dinheiro para financiar o projeto e a ascensão dessas iniciativas. Rebeldia, conhecimento e capital formam um tripé que favorece a inovação quando você tem esses três elementos presentes numa sociedade.
Vou dar o exemplo do Vale do Silício. O Vale do Silício é a região mais inovadora do mundo há muitos anos, porque tem esses três elementos em sua carga máxima. É muita rebeldia e muito conhecimento. Stanford, UC Berkeley (duas das principais universidades do mundo) estão lá. O centro de pesquisa da NASA, inúmeros institutos de research, de pesquisa científica… muito conhecimento e muito capital. A indústria de Venture Capital mais poderosa do mundo fica no Vale. Consequentemente o Vale é esse motor de inovação que produz inovações em série há 6, 7 décadas. O Brasil tem muita rebeldia? Tem. O Brasil tem um povo criativo pra caramba que dá o seu jeito e isso é incrível. Tem muito conhecimento? Deixa a desejar, já que poderia ter mais incentivo para as nossas Academias e pesquisa. Tinham que valorizar mais isso. Tem muito capital disponível para investir em startups? Foi o que eu disse na pergunta um. No passado existia muito pouco e hoje existem muito mais. Se compararmos o Brasil com o resto do mundo no que diz respeito a investimentos, ainda é muito tímido, mas já demos passos bastante largos no que diz respeito a evolução nesse sentido. Colocando aqui como principais desafios para quem quer empreender, diria que estes desafios são a rebeldia, o conhecimento e o capital no Brasil. Ainda temos um déficit de conhecimento, temos um déficit de capital que é bom perante os últimos 10 anos, mas que poderia ser melhor, além do que foi falado da nossa carga tributária que realmente é uma das maiores do mundo.
A inovação disruptiva é algo que veio para ficar no pós-Covid?
Diria que não é uma inovação disruptiva. Na minha visão, tendemos a entender que inovação é mandar o ser humano para Marte ou você fazer um negócio surreal… Isso é inovação? Claro que é, mas para mim a inovação prática se dá nas pequenas coisas. É quando alguém pega a jornada de experiência de um cliente em determinada indústria, analisa essa jornada do início ao fim, encontra ruídos nessa jornada e acha uma solução para resolvê-los. Pra mim isso é inovação. Vou pegar um exemplo muito batido que é o Uber. O que é o Uber? Uma inovação, mas uma inovação simples e prática. O que o Uber fez foi pegar a experiência de um cliente, analisar as dores e resolver essas dores. Antes tinha que ir lá, ligar para uma cooperativa, esperar se o taxi estava perto ou não (olha o ruído, olha a dor), não saber se estava chegando, depois entrava no taxi, na hora de pagar tirava o dinheiro… Quem aqui não teve que parar no destino do taxi e ter que ficar buscando o troco em estabelecimentos comerciais porque o taxista não tinha troco! (olha o ruído). O Uber foi lá e matou isso. Acabou com esses ruídos. Isso é inovação prática. É o que o QuintoAndar fez no Brasil (acabou com o fiador), inovação prática. É o que várias outras empresas estão fazendo. A inovação simples e prática é pra mim a que tem mais valor e mercado. É claro que vai ser um grande feito quando o Elon Musk mandar as pessoas para Marte. O mundo precisa de pessoas assim, mas no dia a dia o que a população sente de fato em quanto mudanças, são essas inovações simples, práticas em seu dia a dia. Acredito muito que o mundo pós-Covid, valorizará cada vez mais esse tipo de empreendimento, uma vez que as empresas tiveram que mudar suas estratégias da noite para o dia. Muitas empresas buscaram soluções através de startups. Muitas pessoas começaram a empreender agora ao longo da pandemia.
O ponto é: crises são momentos da história. Se olharmos desde a Peste Negra, são esses momentos que mudam o curso de indústrias, profissões… possivelmente os negócios que vamos estar escutando falar nos próximos 5, 6 anos, estão sendo criados agora, porque a adversidade é um momento propício para a construção de negócios. O Uber e o Airbnb nasceram no olho da crise de 2008 e hoje são duas das empresas mais conhecidas da chamada “sharing economy” (economia do compartilhamento). O e-commerce na China explodiu em meio a SARS, em 2002, quando as pessoas isoladas em casa começaram a consumir produtos via internet. Muitas burocracias que existem hoje e modelos de segurança implantados na aviação comercial, surgiram depois da queda das Torres Gêmeas. Quem voava antes do 11 de setembro tinha uma experiência de voo e hoje é uma experiência completamente diferente. O mundo pós-Covid não será diferente do mundo pré-Covid e certamente esse evento abriu espaço para inúmeras soluções surgirem para quem estiver disposto a arregaçar as mangas e olhar as dores que existem na sociedade, resolvendo-as. Certamente terá muito espaço para isso.
Como ser uma empresa valorizada, diferenciada e, ao mesmo tempo, inovadora no mercado de startups?
Vou repetir um pouco o que respondi nas perguntas anteriores. A estatística é a seguinte (no Vale do Silício): de cada 10 startups, 9 morrem, ou seja, somente 10% sobrevivem. Dos 90% que morrem, de todas as startups que falham, 50% delas ficam pelo caminho porque não encontraram o seu product-market fit (não encontraram mercado para o seu produto). Resumindo: construíram um produto que pouca gente quer consumir. Como ser uma empresa valorizada no mercado de startups? Quando você está construindo uma startup, você tem que se preocupar com duas coisas que são produto e cliente. É isso. Trabalhar no meu produto e mostrar para o meu cliente. O que está certo continuo fazendo e o que está dando errado eu vou lá, corrijo, altero e mostro para o cliente de novo, ou seja, produto/cliente/produto/cliente. Quanto mais próximo um empreendedor ou uma empreendedora de startup estiver do seu cliente e o quanto mais rápido ele conseguir corrigir as funcionalidades que o cliente diz que não está bom e apresentar para esse cliente de novo a solução corrigida, quanto mais rápido conseguir fazer essas interações, mais possibilidades tenho de acertar o timing de uma solução que eu venha corrigir ou de uma dor extremamente demandada pelo mercado. Produto/cliente.
Que parte do espírito empreendedor do norte-americano você mais admira e por quê?
Não sou muito fã de comparar as coisas, porque cada país tem sua cultura. Cada região tem seus valores. Não dá para o Brasil querer ser os EUA. São coisas completamente diferentes. Assim como não dá para os EUA querer ser a China. Assim como não dá para a China querer ser a Europa… Cada país tem suas particularidades, virtudes e limitações. Tendemos sempre a achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa. Moro nos EUA há 6 anos. Moro no Vale do Silício que é uma das regiões mais inovadoras do mundo e que teoricamente poderia ser perfeita, mas também está cheia de problemas. Claro, são outros problemas se comparados com os problemas do Brasil, mas tem problemas. Não sou muito fã de comparar, pois, cada região tem a sua particularidade, tem os seus problemas e suas virtudes, enfim, “this and the life” (a vida é assim) e temos que valorizar aquilo que temos de bom. O que admiro muito e que aprendi demais com a cultura americana é a objetividade. É a praticidade. A capacidade de ser eficiente no que diz respeito a fazer o que precisa ser feito. Isso é incrível!
O americano tem uma cultura desde sua formação (desde a escola) de ser muito prático nas coisas. De não dar bola e não gastar tempo com coisas supérfluas. Se você pegar um americano médio no horário das 9 da manhã às 5 da tarde, possivelmente o nível de eficiência dele seja um dos maiores do mundo. Ele não se distrai, ele não tem essa cultura do cafezinho… Aprendi no Vale do Silício que existe reunião de 15 minutos e ela é extremamente produtiva. Você consegue resolver praticamente tudo que você precisa em 15 minutos desde que você chegue e no segundo 1 dos 15 minutos você comece a discutir o problema que você tem que discutir. O fato aqui não é: “Ah! No Brasil você chega em uma reunião e tem que falar do futebol…”; isso faz parte da cultura. Se o americano quiser vir para o Brasil e ter esse tipo de postura (como tem em seu país), não vai dar certo. Por quê? Porque é a nossa cultura. Para você criar elos de confiança e formar relacionamentos no Brasil é assim. Nossa cultura é essa! Gostamos de falar de futebol… Não é melhor ou pior, certo ou errado. Não existe isso. Mas a pergunta foi: “O que você aprendeu com a cultura americana?”. O espírito empreendedor e essa praticidade. Essa capacidade de fazer muitas coisas em pouco tempo é muito característico de quem nasce nos EUA.
É possível trazer essa mentalidade para o Brasil em larga escala?
De novo: não existe certo e errado, melhor ou pior. Não penso que porque é feito de uma forma em outro lugar tem que fazer aqui assim, mas sempre que pudermos observar pontos positivos em outras culturas e achar um espaço para aplicar isso dentro da nossa, acredito ser sempre super válido. Uma coisa que os americanos aprendem muito conosco, e posso falar isso, pois, convivo há 6 anos com eles, sendo que eles admiram isso demais no brasileiro é a nossa criatividade. A nossa capacidade frente ao imprevisto de dar o nosso jeito e resolver. O americano das 9 da manhã às 5 da tarde (como havia dito) é uma das pessoas mais eficientes do mundo, mas se acontecer alguma coisa nesse meio tempo que fuja do padrão e que ele vai ter que encontrar uma situação diferente, aí meu amigo o brasileiro vem e dá um baile, porque já temos essa capacidade intrínseca da nossa cultura de frente a imprevistos, de frente as situações não esperadas, frente ao inesperado, de resolver como nem um outro povo do mundo tem.
Assim como os americanos olham a nossa capacidade criativa (por isso que os brasileiros na região onde moro que é o Vale do Silício, são muito bem-vistos, pela nossa capacidade de resolver problemas de formas distintas e de uma maneira rápida), acredito que se conseguirmos trazer um pouquinho da eficiência do americano para dentro do nosso dia a dia, para de repente fazermos aquela reunião de uma hora e que de fato ficamos discutindo apenas 30 minutos e os outros 30 foram apenas conversa; se conseguirmos reduzir isso para ser mais objetivo, temos a ganhar enquanto sociedade. De novo: não existe certo ou errado, não existe melhor ou pior. Existe o que aplica em uma cultura e o que não se aplica em outra.
Quais são as principais tendências do mundo da internet e da tecnologia para os próximos anos?
Sabe de uma coisa. Acredito demais que todos os nomes bonitos e tecnológicos que estamos escutando falar recentemente, vai virar a realidade e possivelmente, num prazo muito menor do que a grande maioria das pessoas imagina. Inteligência Artificial, Robótica, Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Impressora 3D, tudo isso fará parte das nossas vidas, com algumas tecnologias a curto prazo e outras no médio prazo. Os movimentos tecnológicos se mostram imparáveis. Desde a Revolução Industrial, tudo que era tendência tecnológica virou realidade. Não tem como parar isso. Respondendo a pergunta, acredito que a próxima grande onda de inovação que vamos viver (se já não estamos vivendo), chama-se inovação de gente, inovação de pessoas, inovação do indivíduo, inovação do ser humano. Para mim essa é próxima grande inovação que vamos viver. É a nossa capacidade de observar esse mundo em transformação que está ao nosso redor e entender como utilizo todas essas ferramentas cada vez mais abundantes e disponíveis que estão hoje ao meu lado. Devemos fazer as perguntas: como utilizo tudo isso para potencializar o meu emprego? O que faço na minha profissão? No meu negócio? Na minha empresa? Na minha indústria? Na minha instituição e consequentemente na sociedade que estou inserido? Para mim essa é grande onda de inovação que vamos viver nos próximos anos e que acredito que já estamos vivendo. Não vai depender da tecnologia, vai depender de nós! Tendemos a colocar a responsabilidade na tecnologia em relação aos feitos que vamos viver nos próximos anos e também aos problemas que viveremos. Os feitos e os problemas são gerados por nós! Na minha visão a próxima grande onda de inovação chama-se inovação de gente.
Que papel você acredita ser fundamental na consciência empreendedora de um líder no mundo dos negócios?
Bela pergunta! Muita gente não entende um conceito simples no que diz respeito aos negócios que é o seguinte: você não constrói uma empresa, você constrói um time e o time constrói a empresa. O time que você tem dita a empresa que você é. Muita gente inverte isso dizendo que vai construir um projeto, que vai fazer isso, que vai fazer aquilo e aí depois monta o time. Não! O time que você tem vai ditar o projeto que você é. O time que você tem vai ditar a empresa que você é. O time que você tem vai ditar o negócio que você é. Esse conceito é básico, mas muitas pessoas deixam passar e não enxergam o valor disso. Por isso que a minha principal preocupação e que cada empreendedor e empreendedora precisa ter é: como eu me cerco de talentos? Como eu me cerco de gente boa? Como eu me cerco de pessoas surreais e fantásticas pra fazer com que os meus sonhos e ideais consigam ser erguidos? Ninguém é uma ilha. Ninguém consegue construir nada sozinho. Todo mundo precisa de muita gente para fazer os seus sonhos se tornarem realidade. O papel fundamental na consciência do empreendedor ou da empreendedora no que diz respeito ao mundo dos negócios é entender basicamente que o time que você tem vai ditar o negócio que você é.
O que é que “vendido” como uma verdade no mundo das startups e que para você não passa de um engodo?
Penso que tem um ponto que o pessoal supervaloriza que é o seguinte: fala-se muito no mundo das startups do erro, da falha. Muita gente glamouriza no mundo das startups a falha. Esse glamour acaba passando para muitas pessoas de que errar uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes é legal. Errar não é bacana. Errar dói e machuca. As falhas causam cicatrizes. Ninguém está nessa vida aqui para errar. Ninguém está nessa vida aqui para falhar… o ser humano não sabe lidar muito bem com erros e com as perdas. Fazer das falhas um instrumento para capacitação, um instrumento de aprendizagem, aí sim. Acredito que nada ensina tanto você quanto errar e falhar. Quando você erra, você está diante de uma das raras oportunidades que a vida oferece de te ensinar como em nenhum outro lugar você consegue obter aquele conhecimento. Quando você erra, você aprende como você não aprende na Academia, como você não aprende numa escola, como você não aprende num curso de negócios, como você não aprende num MBA. O erro potencializa a sua aprendizagem e te dá conhecimentos únicos que dificilmente você iria obter em outros locais. Muita gente glamouriza o erro e faz do erro algo maravilhoso. Sou extremamente contrário a isso. Errar não é legal. Não é glamouroso errar, porém, quando você erra e encara o erro como uma ferramenta para aprimorar o seu aprendizado e para você ganhar envergadura, pra você ganhar conhecimento que possivelmente você não conseguiria obter em outro local, você pode encarar o erro dessa forma maravilhosa, pois, o erro está te fazendo um profissional melhor.
Qual empreendedor lhe inspirou de uma forma profunda?
Poderia aqui falar que sou fanzaço do Steve Jobs. Por viver no Vale do Silício acabei mergulhando na cultura dele, na região onde ele viveu. É muito bacana você conviver com pessoas que foram da mesma geração que ele. Tive um colega na pós que fiz em UC Berkeley que cresceu em São Francisco e que tem hoje a mesma idade que o Steve Jobs teria. Fiquei muita mais fã do que já era pelo Steve Jobs. Sou um fã do Bill Gates e indico o documentário no Netflix [“O Código Bill Gates”] sobre o Bill Gates que é incrível e mostra realmente como ele está à frente do seu tempo em vários aspectos. Poderia aqui falar da Sheryl Sandberg que foi eleita pela Forbes uma das mulheres mais poderosas do mundo. Ela é hoje a diretora de operações do Facebook, sendo que ela já foi vice-diretora de operações do Google. Tem um livro dela incrível que indico para todo mundo e principalmente para mulheres intitulado “Faça Acontecer”, que é sobre empoderamento feminino. É um mergulho no que diz respeito a diversidade e inclusão de gênero. Poderia falar de inúmeras pessoas que me inspiram, mas trabalhei durante quase 10 anos como sócio da XP no Brasil e uma pessoa que me inspira demais é o Guilherme Benchimol (fundador da XP). Por ter trabalhado lado a lado com ele durante 10 anos construindo a operação da XP, por poder mergulhar dentro da mente dele e sugar suas ideias, ele é uma pessoa que me inspira demais.
Não só me inspira como pude ter a oportunidade de poder trabalhar com ele durante quase uma década e sempre que podemos marcamos um almoço. É muito bacana! Poderia falar de inúmeras pessoas, já que é muito difícil pontuar um, porque além do Guilherme, me inspiro demais no Marcelo Maisonnave que também fundou a XP com ele. Me inspiro demais em inúmeros empreendedores e empreendedoras desse Brasilzão que muitas vezes não recebe o destaque da mídia, mas que no “underground” desempenha um papel incrível mudando a vida das pessoas. Poderia falar de muitas pessoas. Poderia falar de muita gente, mas colocaria aqui o Guilherme que é uma pessoa que trabalhei durante 10 anos e que tenho uma baita admiração por ele. Uma pessoa que me ensinou e que continua me ensinando muito.
Como você enxerga o futuro do trabalho?
Vou me basear aqui numa pesquisa da McKinsey que foi divulgada há um tempo atrás. A McKinsey pesquisou em 2016, quantas horas foram trabalhadas em certos empregos nos EUA e projetou quantas horas vão ser trabalhadas nesses mesmos empregos em 2030, ou seja, daqui a nove anos. As habilidades chamadas de cognitivas básicas, ou seja, aqueles empregos que exigem apenas que eu tenha que aprender, lembrar e executar algo repetidas vezes, além dos empregos que exigem habilidades físicas e manuais, são os empregos e consequentemente as empresas que tendem a diminuir a demanda nos próximos nove anos. Empregos que exigem habilidades cognitivas básicas, que são aqueles empregos que faço todo dia, todo mês, todo o ano a mesma coisa e aqueles empregos em que se exigem habilidades físicas e manuais devem diminuir a demanda nos próximos anos. Em contrapartida, segundo a McKinsey, tende a aumentar a demanda por empregos que envolvem habilidades cognitivas chamadas de alto nível que não é aquele emprego que precisa apenas aprender, lembrar e executar repetidas vezes. Empregos que envolvem habilidades cognitivas chamadas de alto nível, são aqueles empregos que você tem que usar o senso crítico, tem que avaliar, tem que decidir, tem que criar, tem que usar o que a natureza colocou em nossas cabeças. Tende a aumentar a demanda por esse tipo de tarefa bem como tende a aumentar a demanda por empregos que envolvam habilidades sociais e emocionais, além das habilidades tecnológicas. Quando olhamos o que o mercado tende a demandar nos próximos anos, temos duas frentes muito claras no que diz respeito ao futuro do mercado de trabalho. Teremos uma exigência e uma valorização cada vez maior de empregos que requerem habilidades intrinsecamente humanas, que nos fazem ser um espécie que são as habilidades sociais, emocionais, colaborativas, criativas, relacionais, ou seja, o que faz o ser humano ser um ser social e que vive com outras pessoas, já que não somos um leopardo que vive na savana africana. Precisamos do convívio. Teremos uma valorização maior de habilidades intrinsecamente humanas. É o que tende a acontecer segundo esse estudo da McKinsey. Do outro lado da mesma maneira, teremos uma valorização das habilidades tecnológicas o que chamo de “Consciência Digital”.
A Consciência Digital é a matemática deste século. Todo mundo teve que fazer conta, somar, diminuir, multiplicar e dividir para sobreviver. Hoje é imprescindível você entender minimamente como o online potencializa o off-line ou como o digital potencializa o analógico. É imprescindível para qualquer pessoa. Não precisa ser um expert, mas devemos pensar minimamente como a tecnologia pode potencializar o que faço. Você deve pensar no processo diário da sua tarefa, seja você um médico, um professor, um dentista, enfim. Como é que você pode usar a tecnologia para potencializar o alcance do seu trabalho para mais pessoas ou o serviço que você entrega para melhorar a experiência do cliente? Minimamente tenho que entender de tecnologia. Assim como ninguém precisou fazer um curso de quatro anos e se formar em matemática para aprender a fazer conta, ninguém precisa fazer um curso de quatro anos para se formar em Ciência da Computação para desenvolver a Consciência Digital. Minimamente é preciso entender como é que a tecnologia potencializa o que faço hoje. Esse é o mundo em que vivemos gostando ou não, querendo concordar ou não. A tecnologia faz parte da nossa vida e vai fazer cada vez mais. Então, respondendo a pergunta, vejo cada vez mais (amparado pela pesquisa da McKinsey), que o futuro exigirá dos trabalhadores competências intrinsecamente humanas e competências tecnológicas. Minimamente o ser humano tem que ser capaz de desenvolver a Consciência Digital nos próximos anos.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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