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A visão do educador e criador Mauricio de Sousa

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Mauricio Araújo de Sousa é considerado um dos mais famosos cartunistas do Brasil. Em 1959, quando ainda atuava como repórter policial, criou seu primeiro personagem – o cãozinho Bidu. A partir de uma série de tiras em quadrinhos com Bidu e Franjinha (o dono do cachorro) publicadas semanalmente na Folha da Manhã, Mauricio de Sousa iniciou sua carreira. Nos anos seguintes, Mauricio criou mais tiras, outros tablóides e diversos personagens — Cebolinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho, Horácio, Raposão e Astronauta. Até que, em 1970, lançou a revista da Mônica, com tiragem de 200 mil exemplares, pela Editora Abril. Em 1986, Mauricio saiu da Abril e levou as revistas da Turma da Mônica para a Editora Globo, onde permaneceu até 2006. Atualmente, está na Panini. Um de seus mais recentes sucessos é a revista Turma da Mônica Jovem, na qual os personagens estão com cerca de 15 anos. Sua tiragem chega a atingir marcas expressivas, de mais de 500 mil exemplares mensais. “Quando criamos uma historinha sempre colocamos alguns temas sobre solidariedade, ecologia e exemplos para que todos saibam conviver entre os diferentes. (…) O sucesso não se planeja, ele acontece. Mas creio que as pessoas se identificam com a nossa turminha que, ao mesmo tempo, se mostram seus valores também mostram seus defeitos. Procuramos falar a língua da hora e da vez para não ficarmos defasados”, afirma o cartunista.

Mauricio, algumas pessoas dizem que você se tornou mais que um cartunista/empresário, afinal o seu trabalho atravessou gerações. Se enxerga mais como um criador ou como um educador?

Todo criador é um pouco educador e vice-versa. Quando criamos uma historinha sempre colocamos alguns temas sobre solidariedade, ecologia e exemplos para que todos saibam conviver entre os diferentes. Assim como nossa principal meta divertimos e, ao mesmo tempo, educamos. Por isso os professores sempre utilizam nossos personagens como ferramenta de ensino na sala de aula.

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Mesmo em uma época com tantas distrações como internet, celulares e jogos eletrônicos, as histórias da Turma da Mônica ainda encantam gerações. De onde o criador acredita que vem esse fascínio mesmo depois de tantos anos?

O sucesso não se planeja, ele acontece. Mas creio que as pessoas se identificam com a nossa turminha que, ao mesmo tempo, se mostram seus valores também mostram seus defeitos. Procuramos falar a língua da hora e da vez para não ficarmos defasados na interlocução com os leitores. Com isso sabemos que não importa a plataforma de comunicação, se é impressa ou eletrônica, o que o público procura é um bom conteúdo que o faça se divertir e pensar.

Falando em redes sociais, a sua empresa utiliza muito bem a interatividade com os leitores. Quais são os pontos positivos que o senhor enxerga no contato direto com o público que não se tinha em outrora?

O contato atual pelas redes sociais na internet é espetacular para uma interatividade imediata com os nossos leitores. Só vejo pontos positivos. Usamos esse contato para sabermos o que as crianças e jovens estão pensando e querendo no dia e na hora. Antes o contato era mais pelas cartinhas do correio e havia uma defasagem de tempo que atrasava as ações que deveríamos fazer.

Em um certo momento, o senhor viu que perdia leitores jovens principalmente para os mangás. Como ocorreu a visão para a criação da Turma da Mônica Jovem?

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A infância está encolhendo e percebemos que crianças com seus 11, 12 anos já começavam a ver a Turma da Mônica Clássica como coisa de criança. Eram então atraídos pelos mangás como uma alternativa. Então juntamos o nosso estilo com o estilo mangá e saiu a Turma da Mônica Jovem. Deu certo. Hoje é a revista de quadrinhos que mais vende no mundo ocidental.

Voltando ao seu começo, sempre afirma que quem quer ser desenhista vai passar por decepções e aprendizados. Se possível, poderia nos contar a maior decepção e o maior aprendizado que moldou o cartunista e empresário bem-sucedido que conhecemos hoje?

Algumas decepções na área econômica que sempre acontecem no Brasil e atrapalha muito o planejamento e os investimentos para crescer. Assim aprendemos a dançar conforme a música para mantermos por esses 55 anos nossos leitores. O maior aprendizado é a convivência com os leitores. Trabalhamos com carinho para eles e recebemos de volta esse carinho em dobro. Esse é nosso combustível.

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Acredita que os gibis como os da Turma da Mônica, podem ser determinantes para se criar o gosto pela leitura ou vê outros caminhos além desse para que isso venha ocorrer?

Tenho certeza de que alfabetizamos milhões de crianças que começam a ter estímulo à leitura pelos nossos quadrinhos. Vejo isso a todo instante nos lançamentos e eventos que vou. Peço à plateia, no auditório, para levantarem a mão os que aprenderam a ler com a Turma da Mônica. E 90% levantam a mão.

Um autor/criador atualmente, que não é multimídia, corre o risco de desaparecer?

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Atualmente até o multimídia pode desaparecer se não tomar cuidado. Na área dos quadrinhos precisamos manter leitores sempre interessados, já que revista é o item que vem depois de casa, comida saúde e vestimenta. Mas com o computador e seus programas diversos, de fácil manipulação, está transformando e influenciando a todos os comunicadores. A concorrência ficou maior.

Hoje vivemos em uma época que a palavra inclusão está sempre em pauta. Como enxerga a inclusão num trabalho de grande escala e visibilidade como é o do senhor?

Essa visão da inclusão já é preocupação nossa há tempos. Criamos personagens na turminha como o Luca (cadeirante), a Dorinha (deficiente visual), o André (traumatismo de espectro autista), o Humberto (deficiência auditiva), a Tati (síndrome de Down) entre outros. Com isso estamos sempre em campanhas sociais com esses personagens interagindo com a turma da Mônica. É uma responsabilidade e uma alegria poder contribuir com o carisma de nossos personagens para promover a inclusão geral e irrestrita.

A Turma da Mônica está com gibis e produtos licenciados em mais de 30 países. Em qual desses o senhor encontrou mais dificuldade em ingressar, seja por razões de mercado ou até mesmo por uma cultura muito diferente da nossa, na qual teria que ter certas adaptações?

Cada país tem sua característica e um estudo para poder receber nossas publicações, desenhos animados ou outros produtos. Mas o legal é que o que produzimos para nosso mercado é muito bem aceito nos mais de 90 países que já entramos em algum momento nesses anos todos. Creio que em Singapura pensávamos que uma menina nervosinha que joga seu coelho sobre os garotos teria muitas dificuldades por conta dos costumes por lá onde a mulher tem sérias restrições até para se vestir ou sair de casa. Mas nossos personagens foram tão bem aceitos que nem parecia, para eles, que a produção vinha de fora do país. Assim entramos lá e a personagem vem fazendo grande sucesso. No fundo, as crianças são iguais em todo o mundo. Os adultos é que criaram as fronteiras.

Quando entrevistamos artistas e criadores, perguntamos se arte deve ter um papel social, e obtemos respostas de todos os tipos. E para o senhor, a arte deve ter um papel social?

Penso que todo tipo de arte promove uma interação social e busca pelo conhecimento. Instiga e estimula as pessoas a serem mais curiosas.

O senhor é reconhecido como um dos grandes brasileiros de todos os tempos pelos seus esforços na vida cultural e educativa do país. Depois de completar 80 anos, se sente completamente realizado, ou ainda falta algo para o cartunista e empresário Mauricio de Sousa?

Para quem tem sonhos a todo momento não há uma realização fechada. Porque sempre haverá o próximo sonho.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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