A carreira adulta de Luiza Ambiel
Luiza Ambiel, 53 anos, figura conhecida da televisão brasileira desde os anos 1990, parece ter encontrado uma nova zona de conforto profissional: o conteúdo adulto. Quem assistiu à televisão aberta nas tardes de domingo daquela década certamente se lembra dela, molhada e cobiçada, na famosa Banheira do Gugu. O quadro, sucesso absoluto de audiência no SBT, foi também um dos símbolos mais evidentes do erotismo disfarçado na cultura pop brasileira, misturando competição, biquíni e voyeurismo em plena luz do dia. Luiza, entre outras musas, transformou aquilo em um trampolim — ainda que curto — para uma popularidade nacional.
Mas a fama, sabemos, é ingrata. Depois dos holofotes dominicais, o que restou foi uma lenta dissolução no mar de subcelebridades de reality shows, participações especiais, entrevistas saudosistas e, mais recentemente, a aposta cada vez mais frequente em plataformas de conteúdo adulto. Luiza Ambiel, hoje, não é mais atriz ou apresentadora. Não é musa nostálgica da Banheira. É, efetivamente, uma produtora de conteúdo explícito, uma criadora de uma persona pornográfica sobre sua própria trajetória — como se estivesse interpretando a si mesma, radicalizando o personagem que um dia fez sucesso molhada em uma piscina plástica.
“A permanência como ícone popular já não é mais possível, o espaço hoje é o nicho. Luiza Ambiel, adulta, agora é empresária do próprio corpo, musa não mais da espuma, mas do streaming pago.”
Não se trata de um julgamento moral, mas de um diagnóstico claro da carreira de Ambiel: ela decidiu viver profissionalmente do imaginário sexual que sempre a acompanhou, mas agora sem filtros. Quando gravou recentemente uma cena com Leone, personal trainer e fã confesso desde os tempos de Gugu, parecia fechar um ciclo. O admirador de infância, diante da musa adulta, concretizando uma fantasia. Leone, por sua vez, deu a entrevista clássica do neófito que cai de paraquedas no mundo do entretenimento adulto: nervoso no início, desinibido depois, e agora cogitando fazer disso uma nova profissão. A lógica é simples: o algoritmo do desejo é poderoso, e quem aparece com uma celebridade do passado pode surfar por um tempo nessa onda.
O caso foi exemplar. Depois da gravação, Luiza chegou ao topo da plataforma Privacy, desbancando nomes que já vinham explorando o nicho havia mais tempo, como Andressa Urach e MC Mirella. Na internet, quanto maior a polêmica, maior o faturamento. Ambiel entendeu isso com clareza. Mas mais do que polemizar, ela faz uma operação que se tornou frequente entre celebridades decadentes: transformar a sexualização prévia em produto explícito e assumido, sem intermediários. O que antes era insinuação virou mercadoria.
Da espuma da banheira ao Privacy
Luiza Ambiel, porém, nunca foi de fato uma atriz de grande talento nem uma comunicadora nata. Sua passagem pela televisão foi muito mais pelo apelo estético do que pelo carisma ou pela performance dramática. Foi símbolo sexual televisivo em um Brasil pré-internet, onde as tardes de domingo competiam entre si em quem mostrava mais pele sem cair na censura. Nesse sentido, pode-se dizer que ela foi precursora involuntária da erotização midiática mainstream.
Mas o presente, é outro. A televisão perdeu o monopólio do entretenimento, o erotismo se dispersou para o digital e a figura da “musa” foi substituída por influenciadoras, criadoras de conteúdo e performers com múltiplas plataformas. Luiza, ao migrar para o conteúdo adulto explícito, parece ter aceitado a inevitabilidade dessa mudança. Agora, seu corpo não é mais mediado por edições, roteiros de TV ou programas populares: é entregue cru, direto, à lógica de mercado da pornografia online.
O episódio com Jefão, outro nome forte do segmento por razões óbvias, reforçou essa guinada sem pudores. Não há mais personagem, nem nostalgia, nem pose tímida. Luiza encarna sua própria caricatura, faz piada sobre seu passado, e vende exatamente o que a televisão sempre insinuou. Não deixa de ser, de certa maneira, coerente. Quem viveu da fantasia que os outros projetaram em si um dia, agora vive da realização explícita dessas mesmas fantasias.
O que pode ser dito, com alguma honestidade crítica, é que Ambiel percebeu rapidamente algo que outras ex-subcelebridades também notaram: não há mais sentido em tentar reconstruir uma carreira de atriz ou modelo tradicional em um Brasil que consome fetiches digitais em velocidade recorde. Melhor assumir o personagem que o público construiu sobre você, capitalizar essa imagem e transformar isso em produto. Melhor que fingir que nada mudou.

O sucesso no Privacy mostra que há público. A narrativa do fã realizando um desejo antigo, a nostalgia dos que assistiram à Banheira do Gugu na infância, a curiosidade mórbida — tudo se soma. Mas também revela o limite da carreira: a permanência como ícone popular já não é mais possível, o espaço hoje é o nicho. Luiza Ambiel, adulta, agora é empresária do próprio corpo, musa não mais da espuma, mas do streaming pago.
Fim de um ciclo. Ou talvez, início de outro — dependendo de quem esteja disposto a assistir.
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Emanuelle Plath assina a seção Sob a Superfície, dedicada ao universo 18+. Com texto denso, sensorial e muitas vezes perturbador, ela mergulha em territórios onde desejo, poder e transgressão se entrelaçam. Suas crônicas não pedem licença — expõem, invadem e remexem o que preferimos esconder. Em um portal guiado pela análise e pelo pensamento crítico, Emanuelle entrega erotismo com inteligência e coragem, revelando camadas ocultas da experiência humana.
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