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A intensidade da talentosa Gabi Doti

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A cantora e compositora Gabi Doti está lançando “Outra Razão”, com dez canções autorais e refinada produção de padrão internacional, nas plataformas digitais. Moogie Canazio, carioca radicado há quatro décadas em Los Angeles, é o produtor do álbum e seu currículo inclui trabalhos com João Gilberto, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Rita Lee, Sérgio Mendes, Simone, Ivan Lins, Sandy & Junior, Xuxa, Nathan East, Luis Miguel… Além disso, conta com uma banda estelar, que gravou o disco no lendário estúdio EastWest Recording, em Los Angeles, os músicos Daniel Baker (piano, Fender Rhodes e sintetizadores) que já vinha atuando como diretor musical de Gabi em Brasília, Tim Pierce (guitarrista em discos e shows de Michael Jackson, Roger Waters e Phil Collins), Jamie Wollam (atual baterista do Tears For Fears, que já passou por grupos de Michael Jackson e David Crosby) e Sean Hurley (baixista de John Mayer, também presente em gravações de Ringo Starr, Annie Lennox e Alanis Morissette). “Quando o público ou eu mesma, ao ouvirmos uma canção, mudamos a percepção a respeito de nós mesmos, ou do contexto em que vivemos, ou das relações que estabelecemos com nosso meio. Em suma, quando há conscientização a respeito de algo e nos provoca uma mudança de atitude, ou quando simplesmente nos conectamos a algo nosso, entendo que é aí em que a música vai além do papel social”, diz a cantora.

Gabi, como você se define como cantora?

Dar voz ao que é autêntico, respeitar a canção, esmiuçar o potencial dela e transformá-la em algo especial, único para um momento que também é único: essa é minha base. Sou uma intérprete intensa e muito sensível. Atitude na voz, na hora de se expressar é fundamental pra mim. E isso, vem antes de qualquer técnica, mesmo que eu acredite fortemente que o treino é extremamente necessário. Você pode ter a técnica que melhor te servir, mas sem expressão, sem o que é “você”, é puramente canto.

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O que norteia e lhe estimula em estar seguindo o caminho que traçou?

Quando faço música, seja apenas registrando uma ideia, seja no palco ou compondo no meu quarto, é nesse “lugar” que estou plenamente conectada comigo mesma. Se quando faço isso, me sinto assim, por que não compartilhar essa percepção com as pessoas? Por que não, através de uma música minha que você estiver ouvindo, quem sabe, de alguma forma, você não possa se conectar consigo mesmo? Experimentar isso é único. É algo só teu. É muito forte. Então, meu norte, meu sul, é apenas um: fazer música, cantar e fazer mais música, e cantar… e fiquemos em looping eterno aqui! (risos)… Minha mola propulsora… Ah… desafio, sempre. Sou criativa, portanto, inquieta.

Em que momento de sua carreira você encontrou a sua singularidade?

Não sei se existe um momento certo. Arriscaria dizer que é um caminho de construção: cada projeto traz em si o que fica e o que modifica no próximo. Assim como cada canção se ancora numa base e, ao mesmo tempo, traz algum elemento novo, diferente que contribui pra lapidar, a partir de uma perspectiva revisitada, a próxima canção. Meus discos anteriores me ensinaram muito e foram minha base pra começar a trilhar a minha singularidade. Quando comecei a compor pra “Outra Razão” eu estava buscando trazer de forma mais intensa minha essência musical e, primeiramente, buscando entender qual era de fato minha essência.

O que foi fundamental para encontrar essa singularidade?

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Estrada, maturidade e uma boa dose de ousadia. Durante a construção do álbum “Outra Razão”, eu estava mais madura pra me permitir olhar, pra perceber, pra buscar e me desafiar.

Em que momento a música alcança um papel social em sua visão?

Quando o público ou eu mesma, ao ouvirmos uma canção, mudamos a percepção a respeito de nós mesmos, ou do contexto em que vivemos, ou das relações que estabelecemos com nosso meio. Em suma, quando há conscientização a respeito de algo e nos provoca uma mudança de atitude, ou quando simplesmente nos conectamos a algo nosso, entendo que é aí em que a música vai além do papel social.

Quando acredita que a sua música alcançou esse papel?

Pergunta difícil de responder (suspiro!). Adoraria ouvir essa reposta do público (Risos). Acredito que é a visão deles que de fato seria a mais apropriada em nos contar se perceberam algum impacto na forma de pensar ou de agir quando ouvem a música que faço. O que me arrisco sim a opinar, dentro da minha ótica e a partir do que me proponho a fazer através da música, é que posso contar histórias, mostrar contextos, abordar situações e provocar sim as pessoas a refletirem, a se emocionarem e também a se divertirem. Posso propor e cada uma vai dispor da forma que melhor entender e sentir.

Fale um pouco sobre o seu álbum “Outra Razão”.

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É sem dúvida o marco de uma nova fase na minha carreira de compositora e cantora. É um disco pop contemporâneo, forte, vibrante, gostoso de ouvir, de curtir e, ao mesmo tempo, consegue ser profundo e polissêmico, cheio de significados. Falo dos mais variados aspectos que nossa razão pode assumir. Queria desconstruir essa ilusão de ótica de razões sobrepostas que vivemos no dia a dia. Por isso, o álbum é uma provocação pra gente expandir nossos horizontes, um convite a se desapegar de velhas razões, a questionar verdades ou mentiras, a reconstruir os próprios limites: a “resetar” o olhar e dar uma “Outra Razão”.

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O que você acredita ser o grande diferencial desse álbum?

Música pop contemporânea que tem uma identidade própria, que instiga. É um pop pulsante, de conteúdo e qualidade com acento brasileiro, latinoamericano. É um projeto maravilhoso e intenso. Tenho mergulhado de cabeça em tudo. Trabalho em equipe, sem dúvida, faz toda a diferença. A condução de todo o processo foi impecável com Moogie Canazio na produção musical, na engenharia de som, também atuando como coarranjador do disco, junto a mim e a Daniel Baker, diretor musical carioca-brasiliense, que fez as programações e teclados do álbum. O disco foi gravado no estúdio 2 do EastWest Recording, em Hollywood, Los Angeles com músicos do calibre de Tim Pierce (guitarra), Sean Hurley (baixo), Jamie Wollam (bateria) e o percussionista cubano Rafael Padilla. Além deles, atuaram Felipe Fraga, os irmãos cariocas Felipe e Viny Melanio e a Orquestra de Saint Petersburg sob Direção do maestro Kleber Augusto e Engenharia de gravação de Kira Malevskaia. A master foi de André Dias. O design do disco, inspirado nas cores e contrastes californianos, foi de Daniel Brito.

Este álbum é composto por 10 canções autorais. Dar personalidade a cada uma delas foi algo difícil de conseguir?

Diria que foi muito intenso (Risos). Comecei resgatando centenas de ideias musicais que acumulei durante os dois anos anteriores da gravação do disco. Mas acabei criando muita coisa nova, reflexo do momento, de um novo olhar. Pra esse disco, compus 31 músicas durante 5 meses, ligada no 360. Arranjamos 15 e escolhemos as 10 que mais estavam relacionadas ao que viria a ser o conceito do disco. Algumas delas, como “Silêncio Capital”, “Iguais” e “Good Times”, foram músicas que tanto a letra quanto a melodia nasceram de forma super espontânea e praticamente na íntegra.

O pop-rock “Nonsense”, por exemplo, fiquei um mês inteirinho debruçada, aparando as arestas. Já “Otra Razón”, única música em espanhol do disco, que ficou pronta duas semanas antes de entrar em estúdio, foi talvez a mais complexa de ser finalizada. Isso principalmente por se tratar de uma canção emocionalmente muito forte, que fala sobre a desconstrução da razão, dos conceitos, ocasionado pela perda de memória inerente a Síndrome de Alzheimer. Em cada canção que fiz pra esse disco, me preocupei muito em ser direta na poesia, mas também que a linha de baixo de “Sublimação” e “Spotlight”, por exemplo, trouxessem o groove necessário para acentuar a pulsação do tema de cada música. Outros exemplos, são os vocalises de “Eco” e de “Verdade ou Mentira” que estão ali, não somente como resultado de um improviso, mas pra reforçar uma mensagem de determinação e de sarcasmo, respectivamente. Inspiração gera trabalho e mais inspiração.

No trabalho existem canções existenciais, celebração da vida e crônica sobre o mundo. Podemos dizer que o mundo que você vê está no álbum?

O mundo que vejo mesclado com a percepção das pessoas. É um mundo resultado não só da minha experiência de vida, mas principalmente das histórias que ouvi e do exercício de muita empatia. Acredito que isso é muito importante como compositora: ser fiel às histórias, dar voz às emoções sentidas. Busquei muito ser o mais isenta possível em “Iguais”, uma crônica que fala sobre o que significa sermos diferentes. Fui num evento que abordava de forma bem elucidativa, questões sobre diversidade, equidade de gênero, sobre ser capaz ou não, enfim.

Ouvi tantas histórias que me tiraram do meu lugar-comum que, voltando pra casa, enquanto dirigia no Parque da Cidade, tive uma espécie de momento criativo-catártico (Risos). Parei meu carro imediatamente num estacionamento, e assim, depois de ouvir tantos relatos sobre nossas diferenças, me emocionei de tal forma que musiquei “Iguais”. Depois que ouvi o que tinha cantado, não quis mudar uma vírgula, pois, era assim, do jeito que ouvi das pessoas, que esta canção precisava ser contada. Em “Verdade ou Mentira”, música de abertura do disco, falo sobre ser honesto, sobre a completa inversão de valores em que vivemos e das atuais distorções de informação, no retro-funk “Spotlight”.

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Vivemos num mundo cada vez mais incerto. Como você encara essas incertezas no seu ofício?

Com paixão por fazer música e com mais criatividade. Incertezas sempre vão existir, assim como as certezas. Mas afinal, o que é o certo? “Outra Razão” também fala disso.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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