Ahmed al-Sharaa, Marina Silva, lei…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Donald Trump recusa convite informal para dançar carimbó em Belém e transforma a COP30 em palco de ausência calculada, ressentimento climático e munição para a retórica de “gente que odeia árvore”
A COP30, evento mundial de discussão climática e diplomacia chique, esperava pelo menos um figurante americano de terno slim e sorriso automático, nem precisava ser o próprio Donald Trump. Mas nem isso. Trump — que, dizem, não gosta de música que envolva movimento de quadris — ignorou completamente a festa amazônica e entregou ao planeta uma ausência que ecoa mais que um discurso. Analistas chamaram de boicote, Lula chamou de “forças extremistas fazendo campanha eleitoral”, e os aliados regionais chamaram Trump de tudo, menos de bonito. No Pará, a dança do carimbó ficou esperando o gringo, mas o gringo preferiu o conforto do Twitter (ou o equivalente trumpiano do momento), onde pode afirmar que árvores são comunistas e rios são mexidos por globalistas do mal. O gesto pegou mal: passou a ideia de que os Estados Unidos estão pouco se lixando para incêndios, secas, pesca, povos indígenas, futuro do planeta e até para a discussão estética sobre a cor verde. O vácuo virou protagonista. E o planeta? Bom, segue derretendo. Pelo menos, dizem os otimistas, derrete com ritmo tropical.
O Hall da Fama do Rock & Roll promete reunião histórica do The White Stripes, Outkast e Bad Company — mas entrega apenas discursos, saudade, fantasmas musicais e um show bom o suficiente para fingirmos que tudo estava planejado
Em um universo paralelo, Jack e Meg White se reencontrariam no palco, Outkast incendiaria o palco como em 2004 e Paul Rodgers empurraria o Bad Company a uma despedida épica. Mas estamos no nosso universo, onde decepções vêm com maquiagem e luz de palco. Meg White não apareceu. Outkast discursou com poesia e ausência performática. E Simon Kirke segurou o Bad Company sozinho, heroicamente, como um veterano tocando guitarra na praça ao pôr do sol. Mas a noite foi salva pelo desfile de celebridades que orbitam o rock como satélites coloridos: Olivia Rodrigo (nova sacerdotisa das angústias românticas), Doja Cat (que veio lembrar que o pop já engoliu o rock faz tempo), Stevie Wonder (sempre ele, milagre contínuo), Elton John (patrono do glamour intergeracional) e Cyndi Lauper, que subiu ao palco e disse algo tão bonito que fez todo mundo fingir que ainda acredita que o rock pode “salvar o mundo”. Talvez possa. Talvez não. Mas ainda dá bons discursos de premiação, e isso Hollywood nunca desperdiça.
Marina Silva tenta convencer a Alemanha a relembrar que o mundo pega fogo, mas Berlim está ocupada contando moedas enquanto posa para foto em conferência internacional sobre salvar árvores tropicais
Marina Silva, a eterna figura que carrega a floresta amazônica nas costas como Atlas carregava o céu, decidiu mais uma vez atravessar o Atlântico para costurar promessas com Carsten Schneider, ministro alemão do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear — um nome de cargo tão comprido quanto a lista de desculpas de país rico para não abrir a carteira. Belém será palco dessa súplica diplomática coreografada, onde o Brasil tenta convencer velhos europeus de que a Amazônia não é uma ficção literária, muito menos um parque temático. O problema? Sexta-feira passada, Lula e Friedrich Merz se olharam nos olhos, apertaram mãos, sorriram para a câmera — e absolutamente nada aconteceu. Nem um euro tossido, nem um sinal de bom humor climático. Enquanto isso, o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, esse nome quase religioso (ou cínico, dependendo do dia), espera sentado na rede, tomando açaí morno. Brasil e Indonésia colocaram 1 bilhão cada, Noruega jogou 3 bilhões (o que para eles é troco da venda de salmão), e a França apareceu com 500 milhões de euros, provavelmente embalados em seda parisiense. A Alemanha? Ainda está procurando no bolso do casaco. Marina, com sua voz delicadamente apocalíptica, insiste. O desmatamento não dorme, a política climática alemã também não, mas parece que ela cochila.

Ex-terrorista sírio vira parceiro diplomático de Washington e prova que o mundo é um tabuleiro onde todos trocam de lado, dependendo apenas do humor do dia e da conta bancária
Ahmed al-Sharaa, que há poucos anos era chamado de “terrorista global especialmente designado”, agora será recebido na Casa Branca por Donald Trump — que o elogiou publicamente como “um cara durão”. Estados Unidos tiraram seu nome da lista de financiadores do terror, puxaram tapete, redesenharam narrativa e anunciaram que o Oriente Médio está “iniciando uma nova era”. O roteiro é tão previsível que até estudante preguiçoso de Relações Internacionais reconhece os padrões: inimigo ontem, aliado amanhã, desde que haja base militar, petróleo, corredor estratégico e um jantar decente para as fotos oficiais. A Síria agora vira “pilar regional”, enquanto Damasco negocia US$ 200 bilhões para reconstruir o que o mundo ajudou a destruir. O embaixador americano na ONU disse que é “um forte sinal político”. Talvez seja. Ou talvez seja só mais um capítulo da velha novela Geopolítica da Hipocrisia.
Fim da farra sonora: projeto de lei pode multar organizadores de festas de rua em até R$ 20 mil, porque a alegria brasileira agora só poderá existir com nota fiscal e alvará carimbado
Enquanto o país discute inflação, COP30, crises diplomáticas e o apocalipse climático, o Congresso resolve atacar um dos verdadeiros pilares da identidade nacional: a festa de rua improvisada com caixa de som JBL gigante. O projeto prevê multas, apreensão de equipamentos e responsabilização criminal se houver drogas — o que é como dizer “veja bem, se o céu estiver azul, o céu estará azul”. André Fernandes, autor do texto, promete ordem e silêncio. Talvez ele sonhe com um Brasil onde jovens dormem às 23h e senhores leem jornais no coreto da praça. A proposta ainda passará por análises, mas o recado está dado: para dançar agora, só pagando taxa ao Estado. O samba virou documento. O funk virou protocolo. E a alegria, essa insurgente, seguirá encontrando seus becos — porque festa não se legisla, se vive.

Armistício de 11 de novembro de 1918: quando a Primeira Guerra Mundial terminou no papel, mas continuou firmemente instalada no imaginário, na economia, no mapa e na alma esfacelada da Europa
Hoje se celebra o dia em que generais finalmente assinaram um pedaço de papel dizendo que, sim, já deu, vamos parar de explodir jovens. O Armistício de Compiègne é lembrado como o fim da Primeira Guerra Mundial, mas todo historiador sabe que terminou ali apenas o capítulo, não o livro. O mapa europeu foi redesenhado com régua torta. O ressentimento foi empurrado para um canto escuro. O nacionalismo ficou fermentando como vinho ruim. E, duas décadas depois, o mundo acordou outra vez com tanques, bandeiras, suásticas, hinos e bombas. A Primeira Guerra não acabou: ela só trocou de nome e ganhou sequência. Hollywood nunca faria filme disso, porque o enredo é depressivamente humano: ninguém aprende nada.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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