Antonio Bernardo é regido pela busca da excelência
Antonio Bernardo Herrmann nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1947. Já na infância, entrou em contato com o universo da ourivesaria através da loja do pai, Rudolf, que vendia ferramentas para relojoeiros e ourives. Em 1968 foi para Lausanne na Suíça estudar no badalado CFH (Centre International de Formation de L’industrie Horlogère Suisse). Em 1969, aos 22 anos ele desenhou sua primeira peça, um anel. Trabalhou arduamente criando aneis e brincos por mais de uma década em seu ateliê residencial, um espaço equipado tanto com ferramentas tradicionais como também, com sofisticados equipamentos industriais. Uma das principais peças de reconhecimento de Antonio Bernardo foi criada em 2005: o anel Puzzle, em ouro 18k, passa por um processo de construção e desconstrução que, de uma forma inusitada, tira partido de uma prática comum de interagir com a peça. “O meu trabalho cresce de forma orgânica e tudo aconteceu com naturalidade. Meus clientes costumam viajar e me relatam como as joias são apreciadas no exterior. Isso me animou a mostrar o trabalho fora do Brasil. O processo de criação é um aprendizado diário e o reconhecimento de uma marca internacionalmente é uma conquista que chega aos poucos, na medida em que se vai formando uma equipe de trabalho, participando das mais importantes feiras internacionais, e recebendo prêmios”, afirma o designer de joias.
O senhor está há mais de 40 anos no mercado de criação de joias. Fale um pouco do seu começo.
Meu pai tinha uma loja de ferramentas para ourives e relojoeiros. Eu conhecia os instrumentos utilizados para se fazer uma joia ou consertar um relógio desde garoto. Isso me dava o conhecimento da função da ferramenta e também do efeito que causava onde era aplicada. Sem perceber, já estava aprendendo mecânica e ourivesaria. Interrompi o curso de Engenharia e fui para Suíça onde estagiei em diversas fábricas de componentes para relógios. De volta ao Brasil nos anos 70, fiz meu primeiro anel.
A primeira peça que o senhor criou foi um anel aos 22 anos de idade em 1969. Se inspirou em algo para fazer esse primeiro trabalho?
Em 1970, fiz meu primeiro anel. O anel de prata era composto de duas partes idênticas que podiam ser usadas de várias formas. O desejo de criar algo original, diferente e lúdico foi o que me motivou. Desde então nunca mais parei de criar joias.
Especialistas dizem que o design ousado e a utilização de materiais nobres em cada peça que cria, pode surpreender e até emocionar o mais frio dos mortais. Quando acaba uma nova criação o senhor também se sente assim?
A minha inspiração principal vem do próprio trabalho. De uma peça eu crio outra, como num processo de desenvolvimento, superação e aperfeiçoamento. Costumo dizer que todas as minhas joias são derivadas da primeira que criei. Quando essa ficou pronta, imediatamente pensei numa segunda e assim por diante. Arte e cultura estão sempre me emocionando, provocando e inspirando também.
Uma coisa interessante em suas lojas, é que elas buscam reproduzir a excelência do design da marca na arquitetura. Como foi definido isso?
Acho que a experiência do design deve ser completa e isso inclui arquitetura, comunicação e tudo que está em torno do trabalho.
Hoje as suas joias estão em países de culturas diferentes como os Estados Unidos e o Japão. Qual foi a principal barreira para a implementação da sua marca no exterior, se é que a mesma existiu?
O meu trabalho cresce de forma orgânica e tudo aconteceu com naturalidade. Meus clientes costumam viajar e me relatam como as joias são apreciadas no exterior. Isso me animou a mostrar o trabalho fora do Brasil. O processo de criação é um aprendizado diário e o reconhecimento de uma marca internacionalmente é uma conquista que chega aos poucos, na medida em que se vai formando uma equipe de trabalho, participando das mais importantes feiras internacionais, e recebendo prêmios.
Como a foi a concepção do anel Puzzle em ouro 18 quilates, um dos seus grandes ícones e que passa por um processo de construção e desconstrução?
O Puzzle é um anel tridimensional composto de 8 peças que se encaixam com perfeição. Surgiu a partir do meu desejo de fazer uma joia feita de partes. A surpresa está em poder desmontá-lo e remontá-lo quantas vezes quiser. Os movimentos e encaixes me desafiam.
O senhor sempre diz que a criação é uma escada que tem um degrau para cada perna, uma da forma e outra da técnica. Como se dá o caminho até chegar a forma e a técnica que é esperada?
É que a cada degrau que se avança na forma, surge uma enorme possibilidade na técnica e assim por diante; a cada avanço tecnológico surge uma enorme possibilidade de formas.
“Não trabalho para o mercado.” Por incrível que pareça, o senhor é o segundo designer que entrevistamos que também utiliza essa frase. Acredita que uma criação nunca deve ser focada num público específico?
Essa é a minha maneira de abordar a minha criação. Não digo que seja a única ou perfeita, mas a que me atende. Não sigo tendências, não crio pensando em quem vai usar a joia. Quando crio uma peça, imediatamente imagino outra, então é mais por aí. Eu as concebo de forma experimental, crio protótipos, pequenos modelos e vou sentindo e modificando até ficar satisfeito. Eu sou o meu próprio termômetro.
O que é o design para o senhor?
Um produto é apenas um objeto criado para cumprir uma finalidade. Agora, se ele cumpre bem sua função, se o material empregado na sua fabricação é adequado e inovador, se os recursos empregados são renováveis e estão de acordo com o meio ambiente e a sua forma é bela e interessante, então é um produto que tem design, ou seja, tem um pensamento por trás. Eu acho que isso faz toda a diferença. Sou designer e ourives. Pensar, imaginar formas, mecanismos e técnicas são o que mais gosto de fazer.
Uma joia da sua marca é quase minimalista. Acredita que essa característica é a principal das suas criações, ou seria apenas uma delas?
Quando comecei não sabia fazer joias, então comecei pelas mais simples e me encantei com a simplicidade. Daí o minimalismo. Então, sim, essa é uma das características do meu trabalho.
Se em 1969, alguém chegasse para o jovem Antonio Bernardo e dissesse que 45 anos depois, seu nome viraria sinônimo de ousadia e revolucionaria o mercado de joias do país, ele acreditaria?
Eu nunca poderia imaginar. A única coisa que eu sei é que continuo apaixonado pelo que eu faço mesmo depois de todos esses anos. Para mim, é um prazer enorme poder surpreender as pessoas com as minhas criações.
Última atualização da matéria foi há 3 anos
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